Estivadores. Greve coloca Lisboa  na lista negra  dos principais operadores

Estivadores. Greve coloca Lisboa na lista negra dos principais operadores


Em janeiro, o governo anunciava o fim de um conflito com mais de três anos e garantia o fim das greves. 


Agora, com nova greve, prolongada até finais de maio, tenta uma nova ronda de negociações. Enquanto isso, os principais operadores fogem das perturbações causadas pela greve.

Poucos dias depois de começar mais uma greve dos estivadores, no porto de Lisboa, os alertas para as consequências multiplicam-se. A greve foi prolongada até 27 de maio, com incidência também nos portos de Setúbal e Figueira da Foz, e levanta sérios problemas como o facto de Lisboa ficar na lista negra dos principais operadores do mercado internacional. 

Um alerta dado também por Pedro Queiroz, diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), que esclarece que estes operadores “não estão a fornecer cotações de matérias-primas para o mercado português, devido à instabilidade da situação criada em Portugal”. E alerta: “As que são disponibilizadas apontam para acréscimos de preços que nada têm a ver com os preços do mercado mundial”.

Uma situação que ganha ainda mais peso depois de, em dezembro de 2015, alguns armadores terem abandonado o porto de Lisboa para fugirem da greve dos estivadores, que entrou em curso a 14 de novembro.

Como noticiava por esta altura o “Económico”, o grupo dinamarquês Maersk, maior armador mundial, chegou mesmo a comunicar aos clientes e parceiros que pretendia abandonar as operações no porto de Lisboa.

Por esta altura, este era já o anúncio da segunda baixa, depois de a alemã Hapag-Lloyd ter trocado o porto de Lisboa pelo de Leixões.

Para a Associação dos Agentes de Navegação de Portugal (Agepor), “os armadores já não estão para se sujeitar a um porto que não deu no passado, não dá no presente e também não se vislumbra querer dar no futuro garantias e vontade de ter estabilidade”.

Setor agropecuário Os elevados prejuízos provocados, principalmente na indústria agroalimentar, levaram o governo a impor serviços mínimos, mas este não é único foco da preocupação de quem acompanha de perto a situação que se vive no porto de Lisboa.

Ao i, fonte ligada ao setor explica que “está tudo parado. Um contentor que chegou no dia 19 foi descarregado apenas esta segunda-feira. E isto levanta grandes problemas porque, mesmo que os navios sejam desviados para o porto de Leixões, é preciso ter em conta que ir buscar a mercadoria vai custar o triplo do que custaria se fosse descarregado no porto de Lisboa”. Uma situação “que afeta tudo e todos e que, no fim, faz com que os produtos fiquem mais caros”.

Cenário que Pedro Queiroz confirma e teme que traga consequências graves para vários setores. “Os serviços mínimos são consequência de um pedido urgente que fizemos ao governo. E é um passo importante, mas não chega. É muito tempo de greve. Os serviços mínimos não são suficientes”, diz, acrescentando: “Há aqui vários problemas e riscos: primeiro a credibilidade de Portugal. Já há recusa de alguns países em mandar material para cá porque não sabem quanto tempo vão ter os navios parados. Depois, os navios parados também custam dinheiro. E é necessário não esquecer que mesmo para as empresas que exportam há problemas. As nossas empresas têm contratos e, se os navios não carregam, os contratos não são cumpridos. Assim, facilmente mudam os fornecedor e abandonam Portugal”.

Algo que já aconteceu em Portugal, em 2012, altura em que a greve em vários portos custou cerca de 1,2 mil milhões de euros. A mesma fonte ligada ao setor, que preferiu o anonimato, explica que, por exemplo, o “Terminal Multiusos do Beato (TMB) teve, em tempos, alumínio. Faziam o depósito e depois era distribuído por Portugal e Espanha. Entretanto, com as greves, os armadores mudaram-se para Espanha. Foi uma grande perda para o TMB”.

A “paz” que não veio para ficar Em janeiro, Ana Paula Vitorino e o Porto de Lisboa anunciaram um acordo de paz social com os estivadores. Nesta altura, a Ministra do Mar garantia o fim de “um período de conflito laboral de mais de três anos” e declarava: “Acabaram as greves no porto de Lisboa”. Mas, o facto de os estivadores não aceitarem que os operadores contratem trabalhadores fora da empresa de estiva impediu a continuação das negociações. 

Contactado pelo i, o gabinete de Ana Paula Vitorino reforça “que têm sido cumpridos os serviços mínimos”. O próximo passo: “voltar à mesa das negociações”. 

O i tentou, sem sucesso, contactar Sindicato dos Estivadores do Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal.