Eu esperava que, quando até o seu adorado Ferreira Fernandes e os seus venerados militares de Abril criticassem o governo, a senhora deputada entendesse que não foi a melhor semana para o PS. Mas não. Na cabeça de Isabel Moreira, “dignificou-se a República – e depois há o PSD”, escreveu na sua coluna de opinião.
Ainda que preocupado, percebo.
Como agora o executivo, na sua modéstia, passou a apresentar-se como “República Portuguesa” em vez de como “Governo de Portugal”, seria algo paradoxal escrever “Esta semana dignificou-se a República – e depois há a República”, por isso mais vale meter culpas na oposição.
Todos os jornais – “Público”, “DN”, “Expresso”, “Observador”, “SOL” e i, alguns até com editoriais dedicados – concordaram que aquela foi a pior semana da governação de António Costa desde que se fez primeiro-ministro. Toda a gente menos, claro, Isabel Moreira. Talvez a deputada tenha estado fora do país durante a semana em questão. Quem sabe, à caça de capitalistas no Panamá.
Santana Castilho, que não foi exatamente o maior fã do mandato de Passos Coelho, considera no “Público” que as novas políticas deste Ministério da Educação têm um “primarismo sádico, intolerável (…) pior que as ‘salutares bofetadas’ do outro!”. Mais uma vez, esta coluna subscreve a indignação do perito. O que se passa na Educação é muito pior que as tontices de Azeredo Lopes na pasta da Defesa, as ameaças de Soares Jr. à livre expressão ou o descaramento com que António Costa lidou com a contratação do seu padrinho de casamento.
Outros especialistas da área confessam que 2016, com a geringonça, se transformou num ano perdido para quem estuda e aprende em Portugal. As medidas do anterior governo foram revertidas e algumas deste – as mais caras e as mais radicais – foram adiadas ou tornadas opcionais. Não passa um ano na política portuguesa sem que se faça um discurso bonitinho sobre a educação ser o nosso futuro, etc., mas este ano não há futuro para ninguém. O ministro assume-se como moço de recados de Mário Nogueira, o dirigente sindical da FENPROF, que se refere a Tiago Brandão Rodrigues como “um aluno promissor”.
A isto chama-se violação de autoridade, e o ministro mostra gozar cada momento.
É o mesmo ministro que não chega a horas às reuniões, culpa pelo atraso a falta de infraestruturas lisboetas para combater a chuva e tem como primeiro-ministro o homem que dirigia a Câmara Municipal de Lisboa. Outro que vive no Panamá, portanto.
Não admira que João Wengorovius, seu secretário de Estado, se tenha demitido na fatídica semana “em profundo desacordo com o Sr. Ministro da Educação no que diz respeito à política para a juventude e o desporto, e ao modo de estar no exercício de cargos públicos”.
João Wengorovius é, então, uma espécie rara. Além de, contrariamente aos já visados, parecer viver neste país e não noutras realidades paradisíacas, suspeita-se que o desentendimento com Brandão Rodrigues derive de nomeações em que o ministro recusou recrutar pessoal que não militasse no Partido Socialista.
A tal crónica de Isabel Moreira (”Esta semana dignificou-se a República – e depois há o PSD”) concluía que, “na verdade, o PSD exige e exige não discutir os problemas do país e insistir no ridículo que o mata”. Ora, depois disto tudo, a semana encerrou com o Bloco a querer mudar o nome do cartão de cidadão por achá-lo sexista e com Catarina Martins a dizer que o trabalho voluntário “é uma treta”. Aí está um ridículo que eu espero que mate.
Talvez Isabel Moreira não tenha ido à caça de capitalistas sozinha. Talvez as deputadas do Bloco de Esquerda também passem os dias numa praia do Panamá. Pena não ficarem lá.
“Esta semana dignificou-se a República – e depois há a Isabel Moreira” era um bom título. Para uma crónica semanal.