Muitos, muitos mesmo, têm sido os artigos que, na imprensa internacional e especialmente na europeia, têm abordado nos últimos tempos, mesmo que em diferentes sentidos, uma questão magna: o destino da União Europeia.
O dia-a-dia da Europa comunitária vem, na verdade, sendo varrido por tais acontecimentos e tão desordenadas reações que, em geral, ficamos com a ideia de viver no reino da incoerência, quando não do perfeito desatino.
O medo brota, pois, da maioria de tais textos e isso amplia o desnorte de todos nós.
Por vezes, de tão tremendos e desesperados, parece-nos até que todos eles, nas suas diferentes perceções dos problemas, se articulam propositadamente para nos paralisar o pensamento e a indignação.
E são tantos os medos e tão contraditórios!
O medo do “terrorismo islâmico” e o medo de não encontrar um culpado identificável e, mais ainda, remédios de qualquer tipo – mesmo os mais perigosos – para o conter.
O medo dos imigrantes que vão chegar e dos que já cá estão.
O medo de se manifestar a favor da sua entrada e o medo do aproveitamento fascista que tal manifestação possa produzir.
O medo de a todos procurar integrar na sociedade, através de regras de liberdade e convivência colectiva por que lutámos toda a vida, e o medo de, não o fazendo, condescender e permitir comportamentos que não concebemos já para ninguém.
O medo das iniciativas do mundo financeiro internacional, que teima em escapar a qualquer fiscalização digna desse nome e, todavia, influenciam irremediavelmente a nossa vida e o medo de pôr em prática soluções eficientes e mobilizadoras para lhe fazer frente.
O medo, também, do controlo financeiro externo que, se orientado por uns em seu exclusivo favor, condiciona as realidades de muitos e, designadamente, as singularidades dos mais débeis.
O medo de entrar, de se manter e de sair do Euro.
O medo da saída do Grã-Bretanha da UE e o medo de ela restar em condições que só a ela interessam.
O medo das consequências da fragmentação da UE e o medo justificado do seu reforço, designadamente se governada por interesses alheios à mais elementar lógica democrática.
O medo da desocultação total dos segredos – de estado, de justiça e principalmente do segredo bancário e fiscal – e o medo de um movimento contrário e capaz de fazer regressar a sociedade a patamares de opacidade e discricionariedade, hoje difíceis de aceitar.
O medo das leis decretadas nos estados contra uma UE sempre mais omnipotente e distante e o medo das medidas decretadas contra os estados por funcionários europeus sem réstia de legitimidade política e, pior, sem qualquer conhecimento e sensibilidade para as questões que neles se colocam.
O medo de ter um governo de que os outros não gostam ou – como em alguns lados acontece – o medo de continuar a não ter governo nenhum.
O medo, ainda, das decisões populares – outros lhes vão chamando populistas – que impulsionadas, é certo, por razões nem sempre compreensíveis, vão contrariando, de qualquer maneira, a vontade «iluminada» dos muitos decisores políticos e económicos.
Tais medos – e são muitos e nem sequer todos – são manipulados, manipuladores e só podem ser vencidos se for dada aos povos a hipótese de discutirem, pensarem e escolherem livremente os caminhos que querem seguir.
Só com ideias e projetos claros, capazes de mobilizar as sociedades nacionais, poder-se-á estruturar, também, a própria Europa.
Só com uma democracia qualificada e informada se vencerão os medos e se unirão solidariamente os povos europeus.
Jurista. Escreve à terça-feira