Está pensar em investir? Saiba que regras deve seguir e os erros a evitar

Está pensar em investir? Saiba que regras deve seguir e os erros a evitar


As famílias portuguesas nunca pouparam tão pouco como em 2015, mas para este ano está previsto um novo fôlego. O rendimento melhorou ligeiramente com a redução da sobretaxa e com parte da reposição dos salários da função pública. Por isso, quem pretende pôr algum dinheiro de parte deve seguir estas dez regras


01. Ter em conta o imprevisto

Antes de investir, pense se precisa realmente desse dinheiro. Caso não necessite, então poderá começar a aplicar essa verba extra de forma a rentabilizar o montante da melhor forma. Ter uma estratégia de poupança para as suas finanças é vital para conseguir fazer frente a alguns imprevistos que possam acontecer. No entanto, nem todas as estratégias de poupança são boas e algumas podem mesmo arruinar o seu orçamento. De acordo com as contas da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), os investidores devem reservar o equivalente a três a seis meses de despesas mensais do agregado familiar para que consigam enfrentar eventuais imprevistos. É o caso, por exemplo, dos custos de saúde, arranjos no carro e em casa ou até mesmo o desemprego. Por isso, essa espécie de fundo de emergência deve ser aplicada em produtos de baixo risco para que possam ser facilmente transferidos para a conta corrente se for necessário. Os depósitos a prazo são as soluções ideais para este caso. Se necessário, abra conta noutro banco para beneficiar de taxas de juro mais elevadas, já que os valores de remuneração praticados estão cada vez mais baixos. Para 12 meses, a melhor taxa é de 0,5% mas, em alguns casos, exige domiciliação de salário ou pensão.

02. Investir a longo prazo

Pense sempre a longo prazo, principalmente se estiver a ponderar apostar no mercado bolsista. A explicação é simples: quanto mais tempo der aos seus investimentos, mais pode arriscar e, como tal, mais pode rentabilizar. Ou seja, o ideal é apostar em aplicações a longo prazo para que consiga solidificar os resultados financeiros.

Deve investir no mínimo a cinco anos – 10 anos é bom e 20 ainda é melhor – para que o montante aplicado em ações seja maximizado. Além disso, mesmo que existam perdas temporárias, estas serão eliminadas se apostar num prazo mais longo.

No entanto, se não está a pensar a longo prazo, não arrisque o seu dinheiro no mercado bolsista. Embora deva optar por instrumentos de risco inferior, as aplicações de curto prazo deverão render menos do que os instrumentos de médio prazo. É o caso, por exemplo, dos depósitos – as aplicações a três meses rendem menos do que a um ano – e das obrigações do Tesouro. Estas últimas têm de ser negociadas em bolsa, através de um intermediário financeiro. Como tal, conte sempre com custos adicionais. Por norma, os encargos são muito semelhantes aos de uma carteira de ações. Não se esqueça que as comissões elevadas podem anular quase por completo o rendimento de alguns títulos.

03. Negociar para ganhar mais

Os bancos têm interesse em atrair o maior número possível de clientes, mesmo que o montante de que cada consumidor dispõe seja reduzido. Desta forma, evite tornar-se cliente sem refletir sobre as condições que lhe são oferecidas e, sobretudo, não hesite em tentar negociá-las.

Por exemplo, através de uma negociação é possível obter uma taxa de juro mais vantajosa no seu depósito a prazo ou uma redução nas comissões. Não se esqueça que este conceito não se resume apenas aos investimentos. Pode também cruzar com outra oferta bancária: spreads dos créditos e encargos dos seguros. A verdade é que nem sempre a negociação resulta.

No entanto, é preciso lembrar que as taxas de juro negativas, que poderão ser positivas para o crédito à habitação, poderão desencorajar quem estiver a pensar em poupar. Por isso mesmo é que, no início do ano, o Banco de Portugal proibiu a banca de aplicar taxas negativas nos depósitos, no que terá sido uma medida para proteger os depositantes. Isto significa que mesmo que a taxa Euribor – que serve de indexante de rendibilidade – esteja abaixo de zero, os bancos não podem cobrar um juro pelos depósitos que recebem. Quando muito, podem oferecer uma taxa zero aos depositantes.

04. Apostar em ações

Quer investir o seu dinheiro mas pretende maximizar os ganhos? Apostar no mercado bolsista pode ser uma boa alternativa, já que este apresenta um rendimento superior às aplicações tradicionais, como depósitos a prazo ou contas de poupança, mas comporta riscos de perda de capital. O alerta é feito pela DECO que, no entanto, chama a atenção para que o risco poderá ser minimizado se o investidor “for cauteloso e seguir algumas regras de ouro”. O primeiro passo é ter como horizonte o longo prazo. O ideal é manter o dinheiro aplicado durante cinco anos. “Ainda que as flutuações bolsistas sejam uma incógnita e de difícil previsão, só esta estratégia o irá proteger das oscilações de preços das ações adquiridas. No geral, só se justifica vender mais cedo se os preços subirem bastante. Se acha que vai precisar do dinheiro num curto período, esqueça o investimento em ações: o risco é muito mais elevado”, diz a associação. A segunda regra a ter em conta diz respeito à diversificação da carteira de títulos. O ideal é aplicar, pelo menos, 10 mil euros e dividi-los por 10 a 15 empresas de vários setores e países. A verdade é que a compra de títulos não pode ser aleatória e a sua escolha deve ser acompanhada de alguma ciência.

05. É avesso ao risco? Evite a bolsa

Se é avesso ao risco e aos altos e baixos da bolsa, então o melhor é não apostar no mercado acionista.

Mesmo que este dê um rendimento superior, não paga o suficiente pelas noites mal dormidas, preocupado com a volatilidade da sua carteira. Desta forma, deve investir em instrumentos de baixo risco e evitar não só ações como todas as aplicações em divisas estrangeiras, cujo câmbio pode baixar em relação ao euro. Investir em dívida pública é uma opção racional. Pode escolher os certificados de aforro, as obrigações do Tesouro ou os Certificados Poupança Mais (CTPM ). Estes últimos são os que têm captado mais valor junto dos investidores nacionais. Só nos dois primeiros meses do ano, o valor aumentou 552 milhões de euros para 8.478 milhões. Em fevereiro, o investimento líquido nestes produtos aumentou 277 milhões de euros. Os CTPM pagam uma taxa de juro crescente, que vai de 1,25% no primeiro ano para 3,25% no quinto ano da aplicação e ainda pode ganhar um valor extra consoante o crescimento da economia portuguesa. No entanto, apesar do baixo risco, não é aconselhável apostar mais de 25% da carteira de investimento nestas poupanças.

06. A união faz a força

Ter muito dinheiro para investir é sempre uma vantagem, já que tem acesso a muitos benefícios: são-lhe oferecidas melhores taxas de juro, as despesas também são proporcionalmente menos elevadas e goza de uma melhor receção na instituição bancária. O cenário é diferente para os pequenos investidores. Além de terem menor poder negocial junto da banca, enfrentam também outros obstáculos, como a dificuldade em diversificar as aplicações. Não se esqueça que a diversificação, que é conseguida através de uma carteira composta por vários títulos, permite reduzir o risco mantendo o potencial de rentabilidades. Por isso mesmo, se é pequeno investidor, o melhor é participar em sistemas de investimento coletivo, como é o caso dos fundos de investimento. Desta forma consegue, tal como um grande investidor, diversificar as aplicações. A regra da incerteza também se aplica aqui: quanto maior for o risco, maior a rentabilidade. Mas, nos fundos, nem todos os riscos são da mesma natureza. Uns são provenientes do mercado onde se investe, outros da própria gestão do fundo. Como nem todos têm a mesma composição, nem todos correm os mesmos riscos. Uns apostam na rentabilidade e, por isso, correm um risco maior. Outros apostam na segurança; como tal, o rendimento a esperar é mais reduzido.

07. Não pôr os ovos todos no mesmo cesto

Não colocar todos os ovos no mesmo cesto é uma das regras de ouro que deve seguir sempre que está a pensar em investir. Isso significa que não deve deter apenas um título ou títulos de empresas cujos lucros dependem de negócios semelhantes. Por exemplo, se está a investir numa carteira de ações, não deve aplicar o seu dinheiro apenas em companhias elétricas. A explicação é simples: caso aconteça uma alteração no regime legal, o seu património pode sofrer profundas alterações. De acordo com a DECO há, no entanto, um limite à diversificação. Segundo a mesma, há vários estudos académicos que apontam para que os benefícios máximos de diversificação são alcançados quando o número de ações na carteira fica entre 10 e 15. É essa a meta que é aconselhada a quem está a pensar em apostar em ações. Ou seja, menos do que 10 ações torna-se arriscado, mas mais do que 15 torna-se impraticável. Não se esqueça que esta regra se aplica apenas a investidores não profissionais. Defina também um momento para vender. Este critério é tão importante quanto saber quando comprar. Evite, por exemplo, vender uma ação apenas porque o seu preço simplesmente subiu ou desceu. Estabeleça antes um critério para o fazer.

08. Não invista no que não percebe

Não investir no que não compreende é uma das regras mais básicas que muitos investidores teimam em não respeitar. Isso significa que, se não percebe o produto que uma empresa vende, não compre as suas ações. Se não está à vontade com a bolsa, opte pela via dos fundos de investimento. Se quer investir em dívida pública mas não percebe como funcionam as obrigações do Tesouro, compre certificados de aforro. Se não percebe a descrição da política de investimento no prospeto de um fundo, não subscreva. Se o depósito a prazo que lhe propõem tem uma fórmula de cálculo para aferir a taxa de juro, troque-o por um depósito de taxa simples. Mesmo em ativos fáceis de entender, é possível encontrar elevados níveis de complexidade. As sociedades gestoras de fundos complicaram o que antes era bastante simples. Os fundos mais populares e aqueles que os bancos promovem mais ativamente são provavelmente aqueles que não deve subscrever. A associação lembra ainda que, em muitos casos, os bancos sugerem quase sempre os mesmos produtos, recaindo sobretudo em depósitos a prazo – geralmente aconselham os produtos “estrela” que estão a ser alvo de promoção comercial mais ativa –, ignorando os desejos e os perfis dos potenciais clientes.

09. Importa o que poupamos

O primeiro passo para uma independência financeira é pagar primeiro a nós. É muito simples: assim que receber o vencimento, invista uma boa parte. Se trabalha oito horas por dia, uma delas deve ser canalizada para poupança. Se seguir esta máxima, a sua taxa de poupança é de 12,5%.

Embora possa custar no arranque, esse pé-de-meia mensal fará toda a diferença num futuro financeiramente independente: se o agregado familiar poupar cerca de 300 euros por mês com um rendimento anual de 6%, dentro de 25 anos acumulará mais de 200 mil euros.

Não se esqueça de determinar qual a aplicação financeira mais adequada ao perfil de cada investidor. Isso depende de vários fatores, tais como a idade, o horizonte temporal do investimento e a capacidade do investidor para tolerar o risco e potenciais perdas. Independentemente das características de cada pessoa, os investidores devem ter sempre presente a preocupação de escolher aplicações que remunerem acima da inflação – caso contrário, em vez de verem as suas poupanças a crescer, estarão a perder dinheiro. Devem também ter em conta os vários níveis diferentes de risco: conservador, equilibrado e agressivo. Escolha o que mais se adequa ao seu caso.

10. Não se endivide para investir

lll É um pecado capital para o investidor: financiar-se para investir. Se os seus investimentos desvalorizarem, o crédito tem um efeito multiplicador dos prejuízos. Se as suas aplicações subirem, o crédito amortiza o efeito dos ganhos. Qualquer que seja o resultado dos seus investimentos, os empréstimos para investir nunca têm os efeitos que se desejavam à partida.

Só há uma entidade que ganha sempre: o banco, quer o investidor ganhe quer perca. Não se esqueça que a segurança das suas poupanças depende, em primeiro lugar, de si: informe-se e não se iluda com a publicidade. É a melhor defesa contra bancos que, por vezes, continuam a prestar informação pouco clara sobre o risco e rendimento de algumas aplicações ou têm apostado em nomes que induzem em erro. Por exemplo, ao contrário do que a designação sugere, alguns seguros de capitalização não têm rendimento mínimo nem garantem o capital. Geralmente têm um prazo de aplicação de cinco a oito anos e não dispensam a leitura da proposta de adesão, pois os custos elevados prejudicam a rentabilidade. Na maioria, ao resgatar antecipadamente o capital, é penalizado: os valores dependem, regra geral, da diferença entre o tempo real em que a verba esteve aplicada e o prazo inicialmente contratado.