Espanha. Adiós siesta, Rajoy quer que dia de trabalho termine às 18

Espanha. Adiós siesta, Rajoy quer que dia de trabalho termine às 18


Para o ainda chefe do governo, é preciso cortar na hora de almoço para que o horário de trabalho termine mais cedo. Rajoy considera que as atuais três horas de pausa não são bem-vistas por outros países, daí os espanhóis terem a fama de serem pouco produtivos


Será que é desta que a famosa siesta tem os dias contados? Não é a primeira vez que o primeiro-ministro espanhol fala sobre o assunto mas, desta vez, Mariano Rajoy foi mais longe e apresentou uma proposta para reduzir o horário de trabalho em duas horas. A ideia é que o horário laboral termine às 18 e, para isso, a hora de almoço vai ter de ser encurtada. “Vou encontrar uma forma de me certificar de que o dia de trabalho termina às 18 horas”, disse o ainda primeiro-ministro na sessão de encerramento da convenção sobre o pacto social, um evento organizado pelo Partido Popular (PP).

Para Mariano Rajoy, as três horas de almoço contribuem para a etiqueta de pouca produtividade que os espanhóis têm hoje em dia. “A racionalização dos horários de trabalho das empresas e instituições espanholas é extremamente importante”, salientou.

A verdade é que a ideia não é nova e tem vindo a ser discutida desde 2013. Na altura, a ideia era fazer com que isso ajudasse a aumentar a pontualidade, a impor limites às reuniões e a implementar um horário mais flexível. Na altura, para o governo espanhol era importante garantir que o pequeno comércio se mantivesse aberto durante mais tempo, de modo a contrariar a queda de vendas que se estava a registar. Já em relação aos funcionários de escritórios sugeria que, em vez de dormirem ou de fazerem almoços mais longos, começassem a levar o almoço de casa para conseguirem regressar ao trabalho mais depressa.

Não agrada a todos A hora de almoço alargada – muito associado à siesta espanhola – foi introduzida para ajudar os agricultores a não terem de trabalhar debaixo do sol do meio-dia. Mas o certo é que, atualmente, a sesta já não é verdadeiramente uma sesta, é apenas uma pausa prolongada a seguir ao almoço. Ainda assim, não é compreendida da mesma forma por todos os nuestros hermanos. Muitos já a encaram como uma pausa forçada que divide o dia de trabalho e é desnecessariamente longa, obrigando as famílias a chegarem tarde a casa, uma vez que o horário de trabalho acaba, muitas vezes, depois das 22 horas.

Estas críticas acabam por ir ao encontro de algumas sondagens que têm sido feitas ao longo dos últimos anos. De acordo com esses inquéritos, a maioria dos trabalhadores prefere ter menos tempo de pausa e sair mais cedo do emprego. Aliás, de acordo com um estudo elaborado pela agência de consultoria londrina Management Consulting Group, apenas 61% do tempo passado pelos espanhóis no trabalho é usado de forma eficiente – o que os coloca entre os povos que mais horas trabalham (menos que no Japão mas mais que no Canadá ou no Reino Unido, por exemplo) mas que têm menos produtividade (na Europa, apenas a Grécia e Portugal são menos produtivos).

Outra das ambições de Mariano Rajoy é fazer com que Espanha tenha o mesmo fuso horário de Portugal e Londres (GMT). Sempre uma hora à frente, atualmente Espanha está no horário de verão da Europa central (CEST – sigla em inglês). Isto significa que quando em Lisboa são 17 horas, em Madrid são 18.

Recorde-se que, em 1942, o ditador Franco adiantou o relógio uma hora para se alinhar com a hora de Berlim e Roma, ou seja, com Hitler e Mussolini.

Ironia Esta ideia caiu que nem uma bomba em vários jornais internacionais. Perante esta medida proposta por Rajoy, o “Independent” escreveu um tweet a dizer apenas “A Espanha está pronta para se juntar ao século xxi”, que acabou por fazer furor nas redes sociais. Mas não foi caso isolado. O “Daily Telegraph”, o “Guardian” e o “Times” anunciaram praticamente a morte da siesta. E o anúncio teve também eco junto da revista “Time” e no “Washington Post”, que anunciaram com ironia que a Espanha ia passar a ter “hora de acordar”.

Hora oficial da sesta Ador, um município da província de Valência, instaurou no verão passado um período oficial para a sesta: das 14 às 17 horas. Para o autarca Joan Faus Vitoria, a medida deve ser encarada mais como uma sugestão do que como uma obrigação para esta cidade que conta com 1400 habitantes.

De acordo com o responsável, a escolha do horário entre as duas e as cinco da tarde está relacionada com o pico do calor, o que o torna ideal para “melhor suportar os rigores do verão”. O chefe do poder local daquele município frisou, no entanto, que não há penalidades previstas para a “violação” da hora da sesta, que “não é uma imposição, é uma recomendação”.

Joan Faus afastou as críticas dos ingleses que acusam os espanhóis de “não quererem trabalhar” e chama a atenção para os benefícios da sesta tradicional.