Insulina(s). Há quase cem anos a lutar contra a diabetes

Insulina(s). Há quase cem anos a lutar contra a diabetes


Em 1922,  a insulina foi  isolada pela primeira vez  em laboratório de forma bem sucedida. Desde então, é o principal tratamento na luta contra a diabetes. Hoje produzimos não apenas insulina, mas insulinas 


Enquanto caminhamos a passos largos para o centenário da invenção da insulina, a diabetes continuar a vitimar milhões de pacientes e ameaçar a saúde pública mundial. Portugal não só não é exceção à regra como é um dos países da Europa com maior prevalência da diabetes tipo 2 (DT2). Segundo João Raposo, diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), mais de um milhão de portugueses adultos tem diabetes – ou seja, 13,1% da população. Todos os dias são diagnosticados 150 novos casos. “27% da população está em risco de ter a doença, no chamado estado de pre diabetes”, alerta o especialista. Desse milhão de pessoas com diabetes, “cerca de 700 mil pessoas estão em tratamento, os outros estão por diagnosticar”. A DT2 é uma doença silenciosa: “As pessoas sentem-se bem numa fase inicial e não recorrem aos serviços de saúde, e por vezes só é detetada quando há complicações derivadas da doença, às vezes quatro ou cinco anos depois”.

Apesar de ter sido inventada – ou melhor, isolada – há quase cem anos por uma equipa da Universidade de Toronto (Frederick Banting, Charles Best, John James Rickard Macleod e James Bertram Collip), a insulina continua a ser a única arma na luta contra a diabetes tipo 1 (DT1), para a qual os doentes necessitam para sobreviver. E é ainda um dos principais instrumentos de arremesso na batalha da DT2. A equipa recebeu o prémio Nobel da Medicina em 1923 e, desde então, a descoberta salvou milhões de vidas. “O isolamento da insulina foi um daqueles momentos aparecimento de um tratamento milagre”, considera João Raposo. “Há cem anos, a diabetes era uma doença que chocava. As pessoas morriam muito rápido, muito jovens, muito emagrecidas. Ainda nem se conheciam as complicações – como a perda de visão ou as amputações – porque os doentes morriam demasiado depressa”, explica o médico.

As várias insulinas Há uns dias, Vilamoura foi o palco de uma discussão sobre a insulina, inserida Congresso Português da Diabetes. Em resposta ao i, Giorgio Sesti, Presidente da Sociedade Italiana de Diabetologia e Professor de Medicina Interna na Universidade Magna Graecia de Catanzaro explicou que “a insulina moderna permite que se personalize o tratamento de acordo com as características clínicas dos pacientes”. A experiência acumulada por décadas de uso tem sido benéfica para o tratamento da doença. “A insulina foi a primeira terapia disponível para o controle dos tipos 1 e 2 de diabetes. Ao longo das últimas décadas, os médicos acumularam uma larga experiência no controlo metabólico dos indivíduos, imitando a função nativa do organismo de libertação natural de insulina”, considera.

Hoje, é possível adaptar o tipo de insulina aos pacientes. E, por mais estranho que soe, há diferentes insulinas no mercado. “O nosso pâncreas só produz um tipo de insulina. O que acontece é que quando vamos à procura de uma injeção, tentamos reproduzir o que o nosso pâncreas fazia antes de precisar de ajuda. Hoje, conseguimos produzir duas grandes categorias de insulina: as ditas humanas – que têm uma estrutura semelhante às naturalmente produzidas. Depois temos os análogos de insulina, que já foram modificados geneticamente para terem um perfil de ação mais adequada à função que queremos delas”, resume João Raposo. “Assim, hoje sabe-se qual o tipo de insulina melhor para as pessoas que trabalham por turnos, para as pessoas que têm estilos de vida mais intensivos ou que têm altos ou baixos níveis de glicemia”.

Embora o caminho percorrido no conteúdo seja longo e prolífero, as formas de usar insulina de forma eficaz mantêm-se. “Até agora, a única forma de administração de insulina é através de injeções subcutâneas. As alternativas que surgiram no mercado, como adesivos de insulina, não funcionam”, alerta Giorgi Siesta. Mas esta realidade pode mudar. “Há uma investigação intensa a ser desenvolvida no sentido de se poder tomar insulina por via oral ou até inalada. Num futuro próximo, é possível que estas formas alternativas de administração possam ser apropriadas para o tratamento”, considera. 

Também Filip Knop , Diretor do Centro para a Investigação da Diabetes do Hospital de Gentofte, referiu ao i que “apesar de serem ainda necessárias encontrar modalidades de tratamento para prevenir ou reverter a natureza progressiva da diabetes de tipo 2”, os doentes devem estar otimistas. “Os pacientes podem esperar tratamentos cada vez mais seguros e até benéficos do ponto de vista cardiovascular”, garante. No entanto, o especialista relembra cuidados básicos a ter. Comer menos, comer melhor e exercício físico acabam por ser a chave. Não para curar, mas prevenir o avanço da doença.