Jejum de títulos
“No que toca ao futebol, este foi um mau mandato”, admitiu Pinto da Costa na assembleia geral de segunda-feira. E foi mesmo mau. Aliás, o 13.º foi o pior de todos no seu reinado na Invicta, por duas razões. Primeiro porque o Benfica se intrometeu nesta espécie de Guerra dos Tronos e quebrou a hegemonia dos dragões no campeonato português, e segundo porque no museu dos azuis e brancos só entrou um troféu durante esse período, a Supertaça de 2013/14, vencida pelo FC Porto de Paulo Fonseca. Numa equipa em que os títulos já fazem parte do ADN do clube, não é de estranhar a subida de tom da contestação dos adeptos. É que o jejum parece estar para durar: a I Liga entrou na reta final e o FC Porto continua no último lugar do pódio, com seis pontos de atraso para a liderança. Deixar fugir o campeonato pelo terceiro ano consecutivo seria sinónimo de novo fracasso. Sem trunfos na manga, Pinto da Costa criticou a arbitragem, acreditando ser a principal razão para o insucesso. E tentou ripostar lembrando a inauguração do museu, das novas piscinas e do regresso dos dragões ao ciclismo. Sem sucesso, já que os associados exigiram troféus, não infraestruturas.
O “fiasco” Casillas
É a mais recente polémica no Dragão. Chegou à Invicta com pompa e circunstância, considerado um dos jogadores mais titulados do mundo. Com as luvas debaixo do braço, Iker Casillas, antigo capitão do Real Madrid, assinou pelo FC Porto no verão e protagonizou um dos negócios mais surpreendentes do futebol português. Na altura, Pinto da Costa desdobrou-se em elogios ao guardião espanhol. O problema é que em meia dúzia de meses tudo parece ter mudado. “A contratação de Casillas foi um fiasco absoluto. Iker não cumpriu nenhuma das expectativas que tínhamos, custou-nos jogos, a Liga e a nossa eliminação prematura da Champions”, terá dito recentemente o líder dos dragões, citado pelo jornal espanhol “El Confidencial”. Declarações que prometem fazer mossa no frágil balneário azul e branco.
O ataque a Vítor Baía
Assumindo-se como a “única voz crítica” do clube, Vítor Baía aproveitou em janeiro o programa “Mercado” na CMTV para se mostrar “preparadíssimo” para assumir a presidência do FC Porto no dia em que Pinto da Costa deixe o cargo. Pelo meio mostrou vontade de correr com a estrutura – declarações que caíram mal no Dragão. A defesa da honra chegou através da mulher do presidente, Fernanda Pinto da Costa. “Quando o F. C. Porto está numa fase menos boa, aparece sempre alguém a querer aproveitar o momento, e esse aparece sempre nesses momentos a querer vender-se barato”, respondeu no Instagram a primeira-dama do FC Porto. E não ficou por aqui: “Como pode alguém que não soube gerir o seu próprio dinheiro querer estar à frente de um clube com a grandeza do F. C. Porto?” A novela, entretanto, foi para intervalo, mas promete não ficar por aqui.
Agressão a um repórter de imagem
A assembleia-geral do FC Porto ficou ainda marcada pela agressão a um repórter de imagem da SportTV. Tudo porque um grupo de pessoas de rosto tapado se revoltou contra a presença de jornalistas no local. O Sindicato dos Jornalistas prontamente veio a público repudiar a agressão, condenando “o clima de intimidação criado”. O problema é que a direção dos dragões condenou o comunicado, por achar que se antecipou à investigação. Para os dirigentes azuis e brancos, nada garante que a agressão tenha sido cometida por adeptos do clube.
Falta de mística e… de paciência
O jogador mais caro do futebol português já se mudou para Inglaterra e ainda continua a ser motivo de discussão no FC Porto. Em causa está o valor pago por Giannelli Imbula, o médio pedido por Julen Lopetegui, que nunca se conseguiu afirmar: 20 milhões de euros. Face às inúmeras queixas dos adeptos, Pinto da Costa apontou o dedo ao técnico espanhol. “Fomos atrás da sua opinião. Felizmente que conseguimos não perder dinheiro porque o vendemos a tempo e horas”, explicou. Mas as críticas não ficam por aqui e acusam o atual plantel de não ter a mística do clube, um argumento que levou o presidente à beira de um ataque de nervos: “Quando chegou cá, o Hulk não sabia o que era o FC Porto, nem o James ou o Falcao. E agora ninguém pode pôr em causa o profissionalismo, o empenho, a vontade do Maxi Pereira, do Danilo…”
A guerra com os comentadores
Nos últimos tempos, o atual momento de forma do FC Porto tem sido dissecado nos vários programas desportivos de televisão. Algo que não tem agradado a Pinto da Costa que, durante a sua intervenção na AG, fez questão de apontar o dedo a Manuel Serrão, Guilherme Aguiar e Rodolfo Reis. Se os dois últimos comentadores afetos aos dragões optaram por não reagir, já Serrão, sócio com camarote, lançou-se ao ataque. “Posso dizer o que quiser porque não é Pinto da Costa quem me paga”, afirmou à TSF.
Divisões internas
“Pode clarificar de uma vez por todas o que se passa entre Antero Henrique e Alexandre Pinto da Costa?”, perguntou um adepto durante a AG. Pinto da Costa fintou com mestria o assunto, mas rejeitou de forma convicta a ideia de que existem duas correntes de influência no clube. Nada que o tenha impedido de ouvir novas críticas. É que os adeptos portistas estão cansados dos conflitos internos e pretendem “fazer uma limpeza para tirar os oportunistas e os mafiosos” da estrutura.
Contas da SAD e investimento
O forte investimento no futebol profissional não tem tido o retorno esperado. Muito longe disso. E o saldo negativo apresentado nas contas do último semestre (17,6 milhões de euros) aguça o tom das críticas. As comissões pagas a empresários e intermediários também não agradam aos sócios do clube, assim como os negócios com parceiros estratégicos desconhecidos. De forma a apaziguar os ânimos, Pinto da Costa anunciou um novo contrato de patrocínio com a Unicer. Até quando durará o balão de oxigénio?
O processo ao deputado do PSD
Descontente com o plano desportivo da equipa que apoia, Carlos Abreu Amorim decidiu deixar a política de lado e atirar-se ao futebol, via Facebook: “Este é um FC Porto que começou a época em janeiro, que destruiu o seu conceito de equipa, que se tornou um joguete fácil e cúmplice nas mãos dos empresários, sem estratégia, com uma direção acomodada, desprovida de soluções para si própria, avelhentada e, sobretudo, pejada de nepotismo e de milionários que enriqueceram no clube e sem causa”, disparou o deputado do PSD. A resposta não tardou. A direção dos dragões informou em comunicado que até entende o “direito à crítica”, mas decidiu avançar com um processo judicial.