Espanha. Sánchez falou e a crise política não desatou

Espanha. Sánchez falou e a crise política não desatou


O líder do partido socialista espanhol diz que o puzzle político do seu país não é irresolúvel. Até pode não ser, mas que parece, parece


 “Estamos obrigados a uma mestiçagem ideológica. O puzzle não é irresolúvel”, disse ontem Pedro Sánchez no seu discurso durante a investidura para novo primeiro-ministro de Espanha. O problema é que continua a faltar-lhe uma peça essencial.

Tem o acordo com o Ciudadanos na mão, mas ainda não foi hoje que convenceu o PP ou o Podemos. E precisa de o fazer.

A meio do seu discurso, Mariano Rajoy lançou no Twitter uma campanha contra o pacto PSOE-Ciudadanos, assegurando que a posição do seu “grupo parlamentar é clara, #NÃOaPedroSánchez”. No final, Pablo Iglesias apenas comentou: “Sabe-me a mais do mesmo. Um discurso decepcionante”

Pedro Sánchez falou durante uma hora e 36 minutos, sem direito a réplicas, que acontecem hoje a partir das 9 da manhã. No final, vota-se. Mas até a votação acabou por ser desvalorizada pelo socialista, quando afirmou perante o congresso que todos sabem “de antemão o resultado da votação final desta investidura se atendermos ao que escutámos nestes dias”.

Dedicou, segundo contas do “El País”, quase metade do debate (42 minutos) ao tema da governabilidade. O restante foi distribuído pelas várias áreas da governação, com destaque para a economia e para a “regeneração democrática”, isto é, para os escândalos de corrupção que têm atingido o seu partido e o PP. Em muitos momentos o debate parecia estar a acontecer no parlamento português. “O governo pediu grandes sacrifícios, recebemos muito pouco de volta”; “Um pacto pela ciência que permita que regressem os cientistas que saíram de Espanha.”

Mas basicamente insistiu na ideia de acordo à esquerda. “Nada agradaria mais a muitos votantes socialistas que um governo que aglutinasse as principais forças de esquerda. E, dito com todo o respeito, creio que acontece o mesmo com uma boa parte dos votantes do Podemos”. Mas o final da frase voltou a estar muito longe de um incentivo a um entendimento: “Não há maioria suficiente neste Parlamento para eleger um governo de esquerdas. Tenho pena. Não chega”.

Apesar deste aparente deitar da toalha ao chão, dedicou um grande esforço a tentar convencer a esquerda de que um voto contra o seu acordo de governo com o partido centrista de Albert Rivera é um voto no atual primeiro-ministro. “Até a pior das 200 medidas do acordo com Ciudadanos é melhor do que continuar com Rajoy”, insistiu.

Aliás, foi uma intervenção um pouco esquizofrénica. Disse: “Com o senhor Rajoy e com as políticas que defende o PP não podemos pactuar porque este partido insiste que o candidato e as suas políticas são inegociáveis”. Mas também: “Porque não fazemos um Governo que concretize o que une a maioria dos 350 aqui presentes? (…) Porque não votamos juntos a favor de tudo em que concordamos? Onde está o problema?”.

“Encontramo-nos na mesma situação de há 72 dias” [a data das eleições] resumiu Rafael Hernando, o porta-voz do PP. “Pedro Sánchez só tem duas opções: pactuar com a extrema esquerda e independentista ou fazer um pacto com Mariano Rajoy”. De volta à estaca zero.

O desabafo do porta-voz do pequeno partido catalão da Democràcia i Llibertat, Francesc Homs, acaba por ser um relato do que se passou durante a tarde. “Nunca tinha visto um candidato que, antes da primeira votação [são duas], saiba que não vai haver investidura. Pergunto-me o que vamos fazer aqui até sexta-feira, porque isto é abusar um pouco das instituições”.

Pode ser que nas 12 horas de debate que hoje os deputados têm pela frente haja uma solução imprevista.