“Hala Madrid y nada más”, foi a letra reformulada, entoada nas festas de Cibeles na capital espanhola quando o Real venceu a décima Liga dos Campeões em Lisboa há dois anos. Os adeptos merengues, fervorosos, viveram um ano inesquecível ao lado de craques como Sérgio Ramos, Karim Benzema, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo. Todos em união, numa festa que se queria eterna. Dois anos passaram, tudo mudou e a comunhão desfez-se. A equipa liderada agora por Zidane (Benítez saiu há pouco mais de um mês), que já estava fora da Taça do Rei, viu a corrida pelo campeonato fugir – com um Barcelona já a doze pontos – sobrando apenas a conquista da Liga dos Campeões. Lesões atrás de lesões dos titulares habituais, a affición foi colocando a pressão nos ombros de Ronaldo que quebrou no passado sábado diante da derrota com o Atlético: “Se todos estivessem ao meu nível, estaríamos em primeiro lugar”, disse no final do encontro.
Retificou. E disse que “não era melhor que os companheiros”, com isso ganhou um balneário enfurecido pelas costas – como relatou o “Diario Sol”. Acabará, mesmo assim, por ter a compreensão dos seus colegas, isto diz a “Marca”. A contradição na imprensa espanhola leva a crer que a guerra está aberta em Espanha, dos jornalistas aos milhares que se sentam no Estádio Santiago Bernabéu.
Mas se o português e o plantel podem conviver, quem os apoia parece já não acreditar nesta equipa milionária. Se durante o jogo se pedia a demissão do presidente Florentino Pérez, cá fora gritava-se “mercenários, mercenários” a Benzema – que, soube-se ontem, vai ficar afastado cerca de três semanas dos relvados – e a Ronaldo. Num voxpop à porta do estádio, encontrou-se um “madridismo indignado” pela voz dos seus adeptos: “Não correm, não têm paixão”, “uma vergonha, não sei como vestem esta camisola”, “muito mau, não há estratégia, lamentável”, foram só algumas das reações que não perdoam a época tenebrosa que o Real está a fazer.
Uma bomba-relógio que só encontra resistência no seu treinador. “Não podemos render-nos, é proibido baixar os braços. Nós somos os únicos culpados mas também somos os únicos que podemos mudar tudo”, disse o francês durante uma palestra, como escreveu o jornal espanhol. Mas nem este galático parece ter a confiança de um presidente que prosperou quando o trouxe (a ele e a Beckham ou Ronaldo, o brasileiro e outros), e que está pressionado a começar uma revolução já na próxima época. O técnico do Athletic Bilbau Ernesto Valverde parece ser o próximo nas escolhas de Florentino, já que o contrato com o clube termina em junho e a experiência em equipas como Vilarreal, Olympiacos – onde foi duas vezes campeão – e Valência pode trazer alguma serenidade à casa merengue.
Na letra da tal música escreve-se também que “nada resiste à vontade de vencer”. Ora reformule-se (novamente), porque em 2016 parece que em Madrid nem juntando a fome de títulos, se pode ter vontade de ir ao estádio.