Há quem acredite que quando estamos às portas da morte, devemos sempre seguir uma luz ao fundo do túnel. É uma espécie de redenção, um misto de esperança, para que a vida no além seja tranquila. O Porto foi eliminado da Liga Europa pelo Borussia de Dortmund na semana passada e queria ter uma resposta vitoriosa no Restelo, para que a hipótese de continuar na luta pelo título continuasse viva. O Belenenses, que ainda não acertou o caminho dos triunfos em casa este ano, precisava de converter em vitórias, a garra “descarada” transmitida pelo seu treinador Julio Velázquez. Os dragões venceram por 2-1, colando-se assim ao Benfica – que só joga hoje contra o União da Madeira na Luz -e o Belenenses iguala um registo que ditou a descida de divisão (terceira derrota consecutiva em casa, algo que não acontecia desde 2009/10, ano em que desceram para a segunda liga). Não bastou, portanto, só a fé num bom resultado.
A primeira parte deixou tudo muito fácil para o Porto. Aos 9’ Brahimi marca no primeiro ataque da equipa de Peseiro, com o lateral José Ángel (substituiu o lesionado Layún, 20 jogos depois), a ultrapassar alguns adversários para cruzar a bola. Suk (sentou Aboubakar no banco) não chegou, mas o corte do central da casa Gonçalo Silva foi parar aos pés do argelino. Remate rasteiro, estava feito o primeiro.
Auto-golo incrível de Tonel O Belenenses estava “macio”, e os dragões agradeciam. Mas não estavam à espera de uma oferta tão generosa, vinda directamente da cabeça de Tonel. Aos 19’, Maxi Pereira cruzou a bola para a área de Ventura, e Tonel, sozinho, “cortou” para dentro da própria baliza. Nas imagens vemos o ex-jogador do Sporting a bracejar em direcção aos holofotes, talvez encadeado por outra luz, esta nada sugestiva, que o levou por maus caminhos. Um auto-golo que surge 13 anos depois para o central, quando marcou, em 2002, um tento pela a Académica que ajudaria na vitória do Sporting.
Antes do intervalo, Carlos Martins, de pé quente num livre, ainda fez tremer o poste de Casillas aos 30’. Treze minutos depois, Sturgeon, fugiu a José Ángel e passou para Martins, que abriu as pernas, deixando a bola para Juanto, só que o espanhol atirou ao lado.
Foi demorada a entrada em campo da equipa que jogava em casa, mas o intervalo não deixou que algo de novo acontecesse. Esta era uma vantagem ao intervalo que o Porto não tinha há três meses, desde a deslocação à União da Madeira.
Era preciso fazer alguma coisa, pensou Velázquez. Não ceder à tentação de rumar a uma nova derrota, de rumar a um destino onde ninguém é feliz. A conversa de balneário funcionou, e o Belenses mudou a postura em campo, já com Miguel Rosa (tirou o lugar a Tonel, ainda sem perceber o que tinha acontecido) na frente, Bakic mais subido, o jogo mudou. E aos 60’ um espanhol marcou a outro espanhol para espanhol ver. Juanto reduziu para os homens do Restelo, Velázquez ganhava nova esperança, e o Belenenses podia sonhar com um resultado diferente. Ao minuto 73’ e 75’, teve mesmo de ser Casillas a acalmar as investidas de Geraldes e Rosa com duas defesas, mas o jogo acabaria por amolecer até ao final. Muito disputado a meio campo, nem a entrada do homem (Tiago Caeiro) que o ano passado deu a estocada final na conquista do campeonato aos portistas, fez diferença. As entradas de Evandro (74’) e de Varela (88’) não mexeram muito, e Peseiro, sempre aos saltos cada vez que a equipa ficava descompensada, ainda se assustou ao minuto 90’, quando Bakic surgiu isolado a rematar (ao lado).
No final, Velázquez era um homem meio feliz, meio triste: “enfrentámos o jogo de forma ‘descarada’, é injusta a derrota, devia ter terminado empatado”. Peseiro queria que tivesse sido possível “matar o jogo e controlar mais em posse” depois do 2-0, mas deixou um recado: “foi um grande resultado, estamos na luta”, afirmou.
Ora no Restelo houve túnel e luz, com algum custo para o Porto. Mas como em tudo na vida, às vezes não basta ter um caminho. É preciso ter as indicações certas. No futebol, para além disto, é preciso ganhar. E este Porto não vai lá só com espiritualidades.