“Desafio os clubes que se queixam a apresentarem as provas. Mostrem em que se baseiam para nos acusarem de intimidação física e verbal”. É desta forma que o treinador do Canelas 2010 Milton Ribeiro, que joga na divisão de Honra da Associação de Futebol do Porto (AFP) e tem no seu plantel elementos da claque Super Dragões como o seu líder Fernando Madureira, reage ao alegado clima de terror causado pelos seus jogadores. Na base da contestação destes clubes está um vídeo publicado na internet de um jogo entre o emblema de Vila Nova de Gaia e o Vila FC, com sucessivas entradas agressivas dos jogadores treinados por Milton, a juntar a uma alegada intimidação verbal, que não é sancionada pelos árbitros, e que levou a algumas dos 16 emblemas a anunciarem que vã faltar aos encontros com o Canelas 2010.
O presidente do Vila FC António Coelho disse ontem que não iria comparecer ao jogo da segunda volta, “por tudo o que se passou e se passa” apelando a que o presidente da AFP Lourenço Pinto “faça alguma coisa”. Esta é a quarta equipa, ao lado do Lavrense, do Balasar e do Maia Lidador – que não regressou para a segunda parte –, a anunciarem que vão faltar ao jogo, o que leva a perda de três pontos e a uma multa a rondar os 750 euros. Mesmo com a reunião dos clubes e a AFP no mês passado, Lourenço Pinto não pretende tomar para já uma posição.
Para Milton Ribeiro o vídeo não demonstra outros lances agressivos do emblema adversário, e a ausência de participações dos árbitros, dos delegados do jogo e da própria polícia acabam por desdramatizar a polémica. “Será que a polícia também se sente intimidada? Fazem falta de comparência sem razão aparente e querem fazer-se passar por vítimas de quê ou porquê?” afirma. Essa ausência “caricata” é incompreensível para o técnico, já que noutros jogos e até em treinos, alguns dos seus jogadores saíram directamente para o hospital. “No jogo com o Balasar tive um dos meus jogadores no hospital com o nariz partido. No Lavrense, quando os visitámos, tive atletas meus agredidos na bancada por pessoas com idade para serem pais dos mesmos”, diz.
A solução é então mostrar as provas e continuar a jogar. E esperar que, na 22.º jornada, o Vila FC contrarie as palavras do seu presidente que apelou a mais uma falta de comparência. “Espero que não venha a acontecer, até porque tenho indicação po parte da equipa técnica dos jogadores que querem jogar contra nós”, remata.
A presença de Fernando Madureira nas partidas não é um factor de intimidação para Milton. “Ajuda ele ser mediático e alguns jornais aproveitam-se disso, mas o que sei é que no final dos jogos ele tem dado algumas camisolas, e muitos jogadores adversários pedem-lhe para tirar fotografias”. Quanto a uma possível impugnação do campeonato, o treinador português “não vê qualquer razão” para que isso avance, já que a segurança pedida pelos clubes à AFP para os jogos com o Canelas 2010 foi garantida e um processo de averiguações para o apuramento da verdade foi iniciado. Esclarece ainda que os seus jogadores “não são os monstros que tentam passar”.
Única equipa sem queixas Mesmo com o veto de 90% dos árbitros do Conselho de Arbitragem da AFP ao Canelas 2010, há ainda clubes que não se revêm na suposta onda de terror dos canelenses. É o caso do Ermesinde SC 1936, que não se queixou na reunião com Lourenço Pinto. “Não poderíamos apresentar queixa quando com a nossa equipa nada do que é relatado se passou connosco”, afirma o presidente Jorge Costa. Se o comportamento das arbitragens face às queixas dos clubes é, por um lado, “de estranhar por deixarem passar em claro tais evidências”, Jorge Costa utiliza o mesmo argumento de Milton Ribeiro: a ausência de provas. Em relação à alegada intimidação, a indicação de mais delegados para os jogos por parte da AFP poderá ajudar a verificar as situações relatadas. Mas avisa: “com estas faltas de comparência, a verdade desportiva do campeonato é questionável”, finaliza.
Se a agressividade parece ser prática recorrente na Divisão de Honra do Porto, a verdade é que muitos dos envolvidos preferem não comentar o assunto. Um dos jogadores do Lavrense, que preferiu manter o anonimato, alega que “as imagens fala por si [referindo-se ao vídeo na internet]” quando questionado sobre o suposto clima de terror no campeonato que disputa. Reticente em responder se existe medo por parte dos seus colegas em jogar contra o Canelas, espera apenas que “alguém aja”, pois a sua equipa “apenas quer jogar futebol”.
No encontro da primeira volta entre as duas equipas o Lavrense perdeu por 3-2, apesar de ter começado, logo aos dez minutos, a vencer com dois golos de vantagem. Explicação? Terá sido falta de consistência? Ou um melhor desempenho dos canelenses? Não, simplesmente a “agressividade” acabou por derrotá-los.