A Polícia Judiciária admite que a criança de 18 meses retirada morta da zona da rebentação na praia da Giribita, na segunda-feira à noite, poderá ter chegado à água já sem vida.
“A situação é muito estranha, por isso é que a Polícia Judiciária foi logo chamada a investigar na noite de segunda,” garante uma fonte do órgão de polícia criminal. “Em casos de afogamento, os pulmões enchem-se de água e os corpos vão ao fundo, voltando à tona apenas uns dias depois. Neste caso, a criança de quatro anos desapareceu no rio e a outra foi logo encontrada.”
No entanto, para esta fonte há outro cenário possível. “Por outro lado, e sendo a criança tão pequena, há hipótese de que a bebé tenha boiado e, por isso, não tenha ingerido água, tendo morrido de hipotermia, o que explica que o corpo tenha dado logo à costa”, explicou ao i. “Em qualquer um dos casos, apenas a autópsia vai revelar o que se passou”, conclui.
O corpo da bebé de 18 meses foi retirado do rio – o mar só começa em S. Julião da Barra – cerca de 40 minutos após ter sido dado o alerta por um taxista, diz o “Público”. O homem socorreu a mãe das duas crianças, que saiu sozinha da água – em avançado estado de hipotermia e em pânico –, disse aos jornalistas o comandante da Capitania do Porto de Lisboa, Malaquias Domingues.
As buscas – uma operação conjunta montada pela Polícia Marítima, Força Aérea, PSP e INEM – começaram pouco tempo depois das 21 horas. Para o local foi também destacada uma Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE), que prestou apoio psicológico.
Entretanto, a mãe foi levada para o Hospital de São Francisco Xavier, tendo sido posteriormente transferida para o Hospital de Santa Maria.
A mesma fonte da Polícia Judiciária esclarece que esta transferência se deveu ao facto de o Santa Maria ter uma equipa de cuidados psiquiátricos habilitada a receber estes casos. “É sabido que a mulher sofria de depressão e tinha problemas familiares graves”, continua. “Até ser dada alta à paciente, permanecerá no hospital, não sendo possível comunicar com os familiares. Assim que haja ordens do médico, será colocada sobre custódia da Polícia Judiciária e interrogada.”
Quanto ao que terá acontecido verdadeiramente em Caxias, a fonte apenas adianta que “foi efetivamente uma carta encontrada dentro do veículo. Uma vez que o mesmo era partilhado pelo casal, não é possível dizer taxativamente que foi a mãe das crianças a escrever a carta. Essa validação só poderá ser dada após uma análise à caligrafia”, revela.
“Poderemos estar perante um caso de infanticídio porque, como está estudado, o perfil das mães que fazem isto diz-
-nos que as mesmas pensam que deixar os filhos vivos só lhes trará sofrimento, pelo que ‘matam para proteger’, suicidando-se em seguida. Este caso também nisso é diferente, porque esta mulher pediu ajuda”, conclui.
Plano de Segurança. O pai das crianças – que na sexta feira participou o desaparecimento das filhas na esquadra da Amadora – abusaria alegadamente das menores.
Em resposta ao i, o Ministério Público (MP) confirmou que “na sequência de uma participação efetuada na PSP”, à qual foi anexada uma “comunicação recebida do hospital Amadora-Sintra, foi instaurado, em finais de novembro, um inquérito onde se investigam factos suscetíveis de integrarem os crimes de violência doméstica e de abuso sexual de crianças”. O processo está a ser investigado no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa Oeste, na secção de Sintra.
Segundo o MP, no âmbito deste inquérito “foi proposta à denunciante a teleassistência, tendo sido elaborado um plano de segurança”. Para além disso, de acordo com a informação constante do processo, “a vítima e arguido estavam separados e não partilhavam a residência”.
Cessou apoio Familiares da vítima disseram à CMTV, durante a tarde de ontem, que a mulher tinha pedido, em novembro, ajuda a várias autoridades e organizações, nomeadamente à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), e que atualmente se sentia sozinha e desprotegida.
“Estamos profundamente consternados”, diz Daniel Cotrim, da APAV. “A senhora recebeu apoio quer através da linha telefónica quer através de sessões presenciais. Cessou o apoio por vontade própria. Na APAV prestamos apoio às vítimas mas não lhes retiramos o livre-arbítrio, a porta está aberta para a vontade própria de cada vítima”, afirma.
A menina de quatro anos continuava, até ao fecho da edição, desaparecida.