Diminutivos. Há quem diga que é bem português e que serve para se referir a alguém de forma carinhosa. Mas foi sempre algo enganador (dizer “o coisinho” deixa qualquer um confuso, não é?). É como o Ricardinho do futsal, o melhor jogador português da atualidade (e do mundo em 2010 e 2014, atenção). Trata a bola com o seu pé como se fosse sua filha, e engana os que defronta pela altura – 1,64 metros -, um dos motivos pelo qual não fez carreira no futebol. A partir de hoje entra em campo no Europeu em Belgrado na Sérvia com a seleção nacional frente à Eslovénia.
“Acreditamos que pode ser o Europeu de Portugal”, disse o jogador ao i. E se ele o diz, é bom que se acredite: as passagens pelo nosso país com a camisola do Benfica, no Japão pelo Nagoya Oceans, na Rússia pelo CSKA por Espanha, onde joga desde 2013 pelo Inter Movistar (mais os seus 18 títulos conquistados) dão a injeção de confiança necessária para tentar um título que escapou em 2012 frente à Espanha – 4-2 na Hungria.
Num grupo que conta também com a anfitriã Sérvia, que bateu os eslovenos por 5-1 no jogo de abertura anteontem, não existe nos jogadores portugueses qualquer medo da paixão dos sérvios pela modalidade. “Os sérvios adoram futsal e vão encher o pavilhão, o que para mim é fantástico, mesmo que estejam a torcer contra nós como é natural”, afirma. Portanto, é no meio de gritos, aplausos e apupos que o craque português se sente melhor. Que se faça a sua vontade.
Passar em primeiro O homem dos golos “impossíveis”, que aos 30 anos passa por uma das suas melhores fases da sua carreira até puxa de um chavão do futebol, e do nosso velho conhecido Luiz Felipe Scolari, para anunciar o que a seleção das quinas tem pela frente: “ Podemos passar à próxima fase em primeiro. Tudo pode acontecer a partir dos quartos-de-final porque é ‘mata-mata’ e aí só temos de dar tudo em campo para chegar o mais longe possível”.
E nessa batalha estão os suspeitos do costume que reinam a competição como a Rússia (venceu em 1999), a Itália ( 2003 e 2014), e a Espanha (1996, 2001, 2005, 2007, 2010, 2012). Das nossas armas estão nomes como Arnaldo, Cardinal- castigado nos dois primeiros jogos – ou Bebé, e algumas estreias, como Anilton e Paulinho, novidades do selecionador Jorge Braz. E há, ainda outra, o “cabrito” típico de Ricardinho – tomara que esta especialidade fosse acompanhada de batatinhas, diriam os adversários. Mas costuma sair do forno em forma de golo directamente para a baliza contrária.
A horas de entrar em competição, Ricardinho disse ao site da UEFA que um título coletivo é o que lhe “dói mais todos os dias” por ainda não estar na sua sala de troféus. Mas desde que anda em Madrid há três anos, sente-se no pico de forma, e basta trabalhar a mentalidade da equipa para chegar mais longe. E só pede uma coisa simples: “quero simplesmente entrar em campo e fazer aquilo que mais gosto de fazer”, remata.
Com um apuramento garantido no último minuto do final do último jogo, com um golo de Tiago Brito – é mais um dos estreantes da convocatória – Portugal vai tentar fazer melhor do que a final perdida em 2010, e os dois quartos lugares em 2007 e em 2014.
Orlando Duarte, que esteve dez anos no comando da seleção nacional, fez um prognóstico daquele pode mesmo ser um europeu em tons lusitanos. “O mais sério candidato é Portugal. A Espanha não está tão forte, a Itália parece-me ao mesmo nível que há dois anos, a Rússia tem jogadores de qualidade mas não funciona como equipa”, disse ao “Futsal +”. Mas há ainda outsiders, como o Azerbeijão, o Cazaquistão e ainda a Ucrânia, vice-finalista, que também se querem intrometer no caminho ambicioso dos 14 lusitanos eleitos.
É fazer figas para entrar com o pé esquerdo de Ricardinho – e que os diminutivos não nos atraiçoem novamente. É que o “faltou um bocadinho assim” para a nossa equipa já não serve.