Centro espera queda do favorito. Tea Party pronto para lucrar

Centro espera queda do favorito. Tea Party pronto para lucrar


Ted Cruz na frente para aproveitar um deslize do bilionário. Bush é o que tem mais apoios.


O aparelho partidário dos conservadores norte-americanos ainda acredita que Donald Trump ficará na história ao lado de nomes como Pat Robertson, Pat Buchanan, Mike Huckabee ou Rick Santorum. Candidatos com grande base de apoio nas alas mais conservadoras ou populistas do partido, que lideraram as primeiras sondagens – alguns chegaram a vencer nos primeiros estados a votar – mas que acabaram preteridos por um nome mais ligado ao sistema.

Para além das sondagens, outros dois indicadores costumam ser analisados para perceber quais são os candidatos preferidos do aparelho: o número de apoios anunciados por congressistas, senadores e governadores do partido; e a capacidade de angariação de fundos de cada candidato junto dos tradicionais financiadores das campanhas republicanas.

Este ano não foge à regra: Donald Trump, o favorito em todas as sondagens nacionais, é o que menos ‘endorsments’ recebeu – esta semana Sarah Pallin assumiu-se como exceção à regra, mas o bilionário continua sem um único apoio de republicanos eleitos; e, apesar da riqueza pessoa, é também dos que menos apoio financeiro exterior recebe.

À frente dessas corridas aparece, bem destacado, Jeb Bush, o antigo governador da Florida que é filho do 41.º presidente dos EUA e irmão do 43.º. Para ser o 45.º, Jeb já recebeu o apoio de 26 congressistas e cinco senadores republicanos, além de já ter 133,3 milhões de dólares para vender o seu projecto – uma vantagem de quase 70 milhões em relação ao segundo mais ‘rico’. O novo Bush aparece afastado dos falcões militares que marcaram os reinados do pai e do irmão mas nem isso tem ajudado a sua causa junto do eleitorado: apesar do sucesso no apoio partidário e financeiro, Jeb permanece com uns frustrantes 4,8% nas sondagens nacionais, muito longe dos 35% de Trump.

Outro nome que à partida parecia capaz de agradar ao aparelho e ao eleitorado mais centrista era Chris Christie, o governador de Nova Jérsia que ganhou dimensão nacional com a forma como reagiu (e cooperou com o presidente Obama) aos estragos provocados pelo furacão Sandy, em 2012. Mas Christie continua sem recuperar do escândalo quem em 2014 caiu sobre a sua administração local quando se soube que o seu gabinete mandou encerrar uma ponte de forma a criar um caos rodoviário que prejudicaria as hipóteses eleitorais de um autarca democrata da periferia de Nova Jérsia. Surpreendentemente, ou não, o governador segue atrás de Bush, com apenas 3,4% de intenções de voto declaradas.

Na amalgama de candidatos – são 11, o que obrigou as estações televisivas a dividirem os debates entre 1.ª e 2.ª divisão, com base nas sondagens – estão novamente os ultraconservadores Mike Huckabee e Rick Santorum mas sem chegarem ao 2% de apoio. Bem melhor aparecem Ted Cruz e Marco Rubio, que tal como Obama em 2008 se candidatam à presidência durante o seu primeiro mandato como senadores.

Rubio apresentou-se como uma aposta do centro, lembrando o seu papel decisivo no acordo bipartidário que em 2013 quase conseguiu aprovar uma reforma de imigração que permitiria legalizar mais de 11 milhões de indocumentados. Mas como uma corrida feita e liderada à direita mudou a sua posição, defendendo agora ser mais importante um reforço das fronteiras e um ataque às contratações de imigrantes ilegais. Mas como o eleitorado que contesta a imigração tem um candidato melhor colocado, Rubio não consegue passar dos 11%.

Na primeira divisão sobram Ben Carson – outro conservador que não agrada ao aparelho – e Ted Cruz, que neste momento é o melhor colocado para aproveitar um deslize de Trump. O principal representante do Tea Party – a ala mais radical que não perdoa as derivas democratas do passado do magnata, como o financiamento de campanhas de Hillary Clinton, por exemplo – é o segundo nas sondagens e, entre os conservadores, o que menos resistência tem no aparelho devido à sua ligação à administração de George W.Bush. É ele que no Iowa, a 1 de fevereiro, pode começar a ditar o fim de Trump. E é com ele que o bilionário disputará a grande fatia de estados conservadores que votará na supre terça-feira de 1 de março.

nuno.e.lima@ionline.pt