Cristas avança no CDS com projeto ambicioso

Cristas avança no CDS com projeto ambicioso


A lógica do voto útil acabou. Cristas quer usar isso para fazer o CDS crescer


Assunção Cristas vê num problema uma oportunidade. Com as esquerdas unidas numa solução de governo, Cristas diz que “a lógica do voto útil deixou de fazer sentido” e essa pode ser a melhor hipótese para o CDS “crescer”. É essa a estratégia com que se apresenta numa candidatura que anunciou ontem, primeiro no Facebook e depois numa declaração no Largo do Caldas, às 20h.

Horas antes, no mesmo local, Nuno Melo tinha-se retirado da corrida. Durante dias, os dois conversaram várias vezes e, agora, Cristas apresenta-se como alguém que quer “construir laços fortes, incluir e acrescentar”. A mensagem é clara: a candidatura é para unir e não para dividir o partido, com a candidata que quer suceder a Portas a explicar que “o CDS nunca foi o partido de um homem só e não será certamente o partido de uma só mulher”.

Mas a tarefa pode não ser tão fácil quanto faz parecer o facto de, pelo menos por agora, ser a única candidata ao congresso que vai decidir a liderança nos dias 12 e 13 de março. A ex-ministra da Agricultura tem anticorpos no partido e nenhuma expressão nas estruturas, não convencendo muitos daqueles que apoiavam Nuno Melo.

Exemplo disso foi a reação do porta-voz do CDS, Filipe Lobo d’Ávila, que usou o Facebook para partilhar o desânimo de não ter visto o eurodeputado a avançar para a liderança. “No momento em que conhecemos todos esta decisão do Nuno, queria dar nota de que não me arrependo de nada do que disse e que tenho a perfeita consciência de que voltaria a repetir tudo exatamente da mesma forma”, escreveu Lobo d’Ávila. É dos poucos que assumem a desilusão com o facto de não contarem com Nuno Melo, mas está longe de ser o único.

Cristas terá agora a missão de os conquistar. E tem um trunfo de peso: uma sondagem da Aximage, que a mostra como a favorita não só dos militantes como dos eleitores do CDS.

Sobre o facto de ser mulher, a candidata a líder centrista disse apenas que “gostava de acreditar que seria indiferente”, mas afirmou ter noção de que não o será, com votos de que a sua atitude traga outras mulheres para a política.

A mulher que Paulo Portas descobriu num “Prós e Contras” sobre o aborto, na RTP1, está apenas desde 2007 como militante, mas confessou ontem que a vontade de ser líder não nasceu agora. “Gosto de política”, afirmou logo no arranque da sua declaração, explicando que vê nesta oportunidade uma forma de “continuar o serviço à causa pública”.

O seu projeto é ambicioso. Assunção Cristas não teme dizer que quer “governar” e recrutar “os melhores” para que o partido esteja preparado para isso quando chegar o momento. Admitindo que o natural é manter “uma relação próxima e de diálogo” com o PSD, Cristas quer ver o partido crescer como “um projeto credível” de “centro-direita” e sem esquecer a matriz “democrata-cristã” do CDS.

Se aparecerem outros candidatos, “são bem-vindos”. Para já, vai ouvir “o partido e o país” para construir “uma moção sólida”.