Venezuela. Supremo assume guerra com maioria opositora

Venezuela. Supremo assume guerra com maioria opositora


Assembleia Nacional, que empossou três deputados suspensos, verá todos os atos anulados pelos juízes.


Nicolás Maduro nunca escondeu que contava com os poderes do Supremo Tribunal (ST) para contornar a contundente derrota que sofreu no início de dezembro. Uma semana depois de tomar posse, a maioria de dois terços da oposição viu os juízes declararem nulas todas as decisões de uma Assembleia Nacional (AN) que considera estar em desobediência.

A história começa cerca de duas semanas depois da jornada eleitoral. Já depois do fim de ciclo parlamentar, a 23 de dezembro, os deputados cessantes foram chamados para duas sessões legislativas extraordinárias que tinham como único ponto da ordem de trabalhos a nomeação de 13 juízes para o ST.

No mesmo dia, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) – que acabara de sofrer a primeira derrota eleitoral em 17 anos – apresentou queixas relacionadas com a votação em três regiões: Aragua, Yaracuy e Amazonas. O ST, já com os juízes nomeados à última hora, aceitou as queixas, que está ainda a analisar. Mas no caso do Amazonas decidiu suspender cautelarmente a eleição de deputados na região – um do PSUV e três da Mesa de Unidade Nacional (MUD) – um pormenor que deixou a MUD com apenas 109 dos 167 deputados venezuelanos. Ou seja, sem a maioria qualificada de dois terços – que, entre outras coisas, daria à oposição o poder de destituir e nomear juízes do ST.

Desde logo, os dirigentes da MUD protestaram contra “uma tentativa de golpe judicial contra a vontade do povo expressa de maneira nítida e pacífica”. Para além de contestar as acusações de fraude “produzidas contra a ordem da presidente do Poder Eleitoral”, a MUD rejeitou as nomeações de novos juízes, pois “foram feitas fora dos prazos estabelecidos” e, na opinião dos opositores, “muitos dos novos magistrados não têm o perfil exigido”.

Assim, quando a sua maioria tomou posse, no dia 5, o novo presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, decidiu empossar os três deputados suspensos pelo ST, provocando a ira dos representantes do PSUV.

 O partido do governo voltou a recorrer ao máximo órgão de justiça, acusando a nova maioria de desobedecer a uma decisão legal. “O que se pode fazer é penalizar a AN, que acredito não receberá nem mais um cêntimo”, avisou logo o anterior líder da instituição, Diosdado Cabello. Uma posição que, sem surpresas, acabou secundada pelo ST: os juízes decidiram invalidar todas as decisões da AN tomadas após a posse dos deputados suspensos. E assim será enquanto estes não forem afastados.