Os anti-Cristas posicionam-se para a corrida à liderança do CDS

Os anti-Cristas posicionam-se para a corrida à liderança do CDS


Assunção Cristas tem anticorpos dentro do partido e não deve ficar sozinha na corrida à liderança. João Almeida é que já está fora


Assunção Cristas tem anticorpos dentro do partido e não deve ficar sozinha na corrida à liderança.João Almeida é que já está foraO anúncio da saída de Paulo Portas deixou o CDS em ebulição. Se Assunção Cristas já fez saber internamente que está disponível para se candidatar à liderança, como o i noticiou ontem, a coordenadora do programa eleitoral centrista não deverá ficar sozinha na corrida nem ter vida fácil. A animosidade contra Cristas é grande em alguns setores do partido, que se estão a mobilizar para lhe fazer frente.

Críticos e herdeiros

Filipe Anacoreta Correia (ver entrevista ao lado) e José Ribeiro e Castro, os mais críticos da direção de Portas não descartam para já a hipótese de uma candidatura. Ambos deixam em aberto essa possibilidade, remetendo para mais tarde uma posição. E não devem ficar sozinhos, porque são já muitos os anti-corpos a Cristas no partido.

Luís Pedro Mota Soares, Nuno Melo são os nomes de que se fala como hipótese em oposição a Assunção Cristas. Mas, de todos, Mota Soares é o mais provável, já que Nuno Melo – aquele que tem mais tropas dentro do partido – tem dado sinais de não estar disponível.

João Almeida, outro dos nomes de que se falou, veio ontem retirar-se das listas de putativos candidatos a líder. “Estou certo de que para isso há pessoas com vontade de concorrer e indiscutível capacidade para exercer o cargo”, escreveu num comunicado ao final da tarde.

Oficialmente, evita-se, de resto, entrar numa guerra de nomes. “Não devemos entrar em precipitações nem pressas”, defende o líder da concelhia de Lisboa, João Gonçalves Pereira, que quer ver antes quem está efetivamente disponível para avançar.

E há quem reaja contra a ideia de candidatos predestinados “Não se escolhem lideranças a partir de short-lists”, sublinha o porta-voz do partido, Filipe Lobo D’Ávila, que não acredita em mudanças de direção “por herança” e também prefere esperar para ver quem avança.

Nova estratégia

Todos esperam, contudo, que esta seja uma oportunidade de relançar o partido, numa altura em que a união das esquerdas alterou o espectro político e reforçou a ideia de que o PSD precisa do CDS para chegar ao poder.

Mas se há quem discuta se o caminho passa pelo centro ou pela direita, Adolfo Mesquita Nunes traça outra estratégia. “O CDS deve ser um partido de propostas concretas”, diz ao i o ex-secretário de Estado do Turismo, que não quer perder tempo com debates ideológicos. “Não digo que a ideologia não seja importante, mas o CDS não deve perder tempo com crises de identidade”, defende, explicando que essa será a forma de ganhar quem está desiludido com a política.

“Os eleitores deixaram de ser fiéis, são mais voláteis, têm maior desconfiança na política e querem ser envolvidos nas soluções”, argumenta Mesquita Nunes, que quer ver o CDS concentrado “em dar respostas concretas aos problemas dos portugueses”.

“Propostas fortes e um projeto claro” é também a receita de Lobo D’Ávila para o futuro do partido. Mas o deputado acha que o CDS ganhará se souber capitalizar o eleitorado de direita, aproveitando o “novo quadro político” em que as posições estão mais extremadas. “O CDS tem de afirmar a sua identidade de direita”, afirma Filipe Lobo D’Avila, que acha que a saída de Paulo Portas “é uma oportunidade de iniciar um novo ciclo”.

Mas esta “renovação” que é pedida também por Adolfo Mesquita Nunes, não deve ser entendida como o fim de Paulo Portas no CDS. “O Paulo exercerá sempre uma enorme influência no CDS e isso é bom”, comenta Lobo D’Ávila.

João Gonçalves Pereira concorda. “A saída da liderança não é a saída do partido”, reforça o deputado que vê essa influência não como uma forma de condicionamento de uma próxima liderança, mas como uma “disponibilidade genuína para ajudar”.

Debates criam mal-estar

Apesar disso, uma das últimas decisões de Portas causou muito desconforto no partido. Mesmo que Hélder Amaral tenha sido o único – em declarações ao ‘Público’ – a protestar abertamente contra a decisão de pôr seis deputados a interpelar rotativamente o primeiro-ministro nos debates quinzenais.

Portas indicou para esta missão os nomes de Assunção Cristas, Cecília Meireles, Pedro Mota Soares, João Almeida, Telmo Correia e o líder parlamentar Nuno Magalhães. Mas a decisão foi tomada, ao que o i apurou, sem qualquer debate dentro do grupo parlamentar. E foi mal entendida na bancada.

“Agora, percebe-se a decisão de não interpelar o primeiro-ministro até ao congresso. Mas continua a não fazer sentido serem estes nomes. Devia ser o líder parlamentar”, aponta uma fonte centrista, explicando que – apesar da incompreensão face a esta escolha de Portas – a decisão não deve, no entanto, ser alterada.