O ministro das Finanças grego, Euclides Tsakalotos, iniciou sexta-feira em Roma uma deslocação a diversas capitais europeias para abordar com os seus homólogos a atual situação do terceiro programa de resgate e a questão da dívida. No sábado esteve em Portugal, onde se reuniu com o ministro Mário Centeno, antes de viajar para Paris, Helsínquia, Amesterdão e Berlim.
Esta digressão surge poucos dias antes de os representantes dos credores – Banco Central Europeu, Comissão Europeia, Mecanismo Europeu de Estabilidade e Fundo Monetário Internacional (FMI) – regressarem a Atenas no dia 18 de janeiro para uma avaliação dos primeiros seis meses do terceiro programa de resgate.
A união bancária, desemprego e investimento são outros dos temas a dominar as conversações bilaterais, em que foram sublinhados “alguns problemas comuns, porque a Grécia e Portugal partilham muitas similaridades”.
Em Lisboa, deu ainda uma entrevista à agência Lusa em que teceu elogios ao executivo liderado por António Costa e criticou os tecnocratas e a direita nacionalista em ascensão na Europa. “Encaro o atual governo português de uma forma muito positiva. Considero que caminha numa direção positiva, porque penso que será bom para o povo português e que também será bom para os povos da Europa”, afirmou.
E explicou porquê. “Porque tenho o imenso receio de que, caso não sejam a esquerda e o centro-
-esquerda a proporem políticas económicas e sociais, aceites pelos povos europeus, que sejam dirigidas aos seus problemas como salários, pensões, Estado social, existe uma ala direita em ascensão, como se assiste na França, Holanda e Áustria, que é muito perigosa”, explicou o ministro e dirigente do Syriza, que a 6 de julho de 2015 substituiu Varoufakis na pasta das Finanças.
Apesar do falhanço do governo grego em terminar com as políticas de austeridade, Tsakalotos garantiu que o seu país iniciou um novo percurso. “É muito importante que a gente progressista avance com ideias progressistas, políticas práticas sobre como lidar com o sistema de saúde, de educação, como reformar o sistema de pensões, como distribuir os rendimentos, como assegurar que os bancos beneficiam a economia real em vez da especulação”, afirmou este economista de 56 anos.
O_ministro das Finanças defendeu ainda que o terceiro resgate, que evitou a saída da Grécia da zona euro, deverá ser incorporado numa “estratégia progressista” que permita sublinhar o seu lado positivo, para além da provável transformação do paradigma político europeu, que terá começado no sul, apesar de “existir muita gente no norte que também está a escutar”. “Tudo isso poderá indicar aos povos europeus que existe um caminho diferente e travar a emergência de uma nova direita nacionalista, que é muito preocupante”, acrescentou.
Tsakalotos admitiu ainda que existe uma diferença importante entre estar na oposição ou no poder. “Sinto isso e também sinto existir o perigo de que as pessoas progressistas no terreno e os movimentos sociais pensem agora que, por existir um governo progressista, já não é necessário fazer nada.”
E foi isso que aconteceu na Grécia. “Muitos consideram que por existir um governo de esquerda não é necessário fazer nada. A esquerda não pode funcionar assim, tem de trabalhar em conjunto com os movimentos sociais, que não eram apenas movimentos de protesto, porque estão sempre a sugerir formas diferentes de fazer as coisas ou de olhar para as coisas.”
O ministro das Finanças grego considerou por isso crucial para o Syriza “reacender” a relação entre o poder executivo e os movimentos sociais neste processo de transformação política. “Na Grécia existem fortes movimentos sociais ligados à economia social, à economia solidária. Estamos muito interessados em dar-lhes mais espaço, é parte integrante do processo de desenvolvimento. Há muitas pessoas a fazer coisas e a transformarem-se a si próprias e à sociedade. E isso é muito importante, é vital”, afirmou.
Nesse sentido, a “relação com a sociedade” é encarada como um fator decisivo para o sucesso deste desafio político que a população da Grécia decidiu legitimar nas urnas.
“A direita não precisa, mas a esquerda não pode existir sem essa relação com a sociedade.
O processo não está a decorrer como gostaria, mas é necessário dar espaço a estas iniciativas. Na política social, as pessoas que necessitam de ajuda devem ter uma voz sobre o género de ajuda que querem”, argumentou, para concluir: “Os tecnocratas, as forças centristas apenas dizem que os pobres precisam disto, os doentes daquilo, mas é necessário dialogar com as pessoas, conhecer os seus problemas, porque têm informação que nós não temos”.