A NATO num século cada vez menos ocidental


Em geopolítica o passado nunca morre, muito menos a história, e os fortes laços identitários de pertença.


A Europa, tem dependido muito do chapéu militar e tecnológico, dos EUA e da NATO, para assegurar a sua segurança. Num mundo cada vez mais fustigado, pelo fenómeno do terrorismo e por guerras por procuração, em territórios de vários continentes, a NATO, tem procurado servir como uma espécie de braço militar supletivo, do policia do mundo, que são os EUA. Mesmo que para isso tenha de fechar os olhos a alianças estratégicas contraditórias, com países como a Arábia Saudita e o Irão. Alianças essas,  assentes na diplomacia dos interesses, de carácter geoeconómico e geopolítico. NATO, nascida em 1949 com 12 países, no quadro da guerra fria e com a missão de conter o poder soviético, e que no final de 2015 já tem mais do que o dobro do número de países fundadores, com o objectivo de estender a sua área de intervenção e influência a todo o mundo. Para fazer face a ameaças globais cada vez mais complexas, como são os casos da cibersegurança,  do controlo da propagação de misseis balísticos, da disseminação do terrorismo, das relações com a ex URSS. Confirmando que esta organização de base ocidental, terá de desempenhar cada vez mais a sua missão, num século cada vez menos ocidental. Até porque, com exceção de países, sobretudo como os EUA (3,6%), na Europa, só a Grécia (2,4%), a Polónia (2,2%), o Reino Unido (2,1%) e a França (1,8%), têm um PIB destinado às despesas de defesa, razoável. Mesmo, no atual quadro, de exigência e de reforço na segurança, com o cerco a leste e a sul nas fronteiras europeias com a  contenda com a Rússia e a sul com a pressão migratória oriunda do Mediterrâneo Oriental e Ocidental, as opiniões publicas europeias (com poucas exceções ainda) não parecem preparadas para aceitar o aumento dos orçamentos de defesa dos países europeus e muito menos parecem disponíveis, para a criação de uma espécie de força militar europeia, na veste de exercito europeu.

Isso deriva, é bom recordar, de um caminho trilhado após a queda do muro de Berlim, de desinvestimento na defesa, na segurança, nos serviços de informação, em troca do investimento nos Estados sociais nacionais e em suma,  no grande Estado social europeu. Foi algo, que os povos europeus assimilaram nuns casos e exigiram noutros. Gastar menos na defesa e na segurança e gastar muito mais na proteção social, nos direitos adquiridos daí derivados. Esquecendo-se que não existe democracia sustentável, nem direitos, liberdades e garantias, sem estabilidade, segurança e  integridade territorial.

Os europeus, em geral, nos últimos anos quiseram esquecer o debate sobre a despesa militar europeia,  sobre as coresponsabilidades nacionais na partilha desses custos, sobre aquilo que estava a gravitar à sua volta no que diz respeito à sua tranquilidade, estabilidade e atratividade, derivada da sua segurança. Com impactos económicos importantíssimos. Este descomprometimento das opiniões públicas com a necessidade de gastar mais dinheiro com a sua defesa e segurança tem vivido paredes meias, com a ilusão, de a Europa ser o território da paz, dos direitos humanos, da transparência,  do Estado social garantístico, etc. É pois tempo, nesta mudança de paradigma de construção e solidificação de uma política europeia de defesa, de esta ser priorizada. Abandonando a herança pós queda do muro de Berlim, de que a prioridade deve manter-se no Estado social e na coesão social. Herança que já deu o que tinha de dar. É que o mundo não é plano. E em geopolítica o passado nunca morre. E muito menos os fortes sentimentos e laços identitários e de pertença. Daí que a Europa e o ocidente, não devam continuar a fazer de conta que o seu papel é destronar ditadores quando lhe dá jeito, mesmo que muitas vezes deixem a seguir tudo num caos. É que a democracia não se exporta exclusivamente pelas armas. A NATO, precisa pois de se preparar para atuar num século que será cada vez menos ocidental. Daí fazer todo o sentido que dedique os próximos tempos a estruturar e aprovar um novo conceito estratégico, que inclua, não só a gestão de conflitos e de crises, mas também as missões de manutenção de paz, bem como o combate ao terrorismo e às armas nucleares, para além de muitos outros desafios, que têm de ser enfrentados, em todo o mundo. Ocidental e não ocidental.


A NATO num século cada vez menos ocidental


Em geopolítica o passado nunca morre, muito menos a história, e os fortes laços identitários de pertença.


A Europa, tem dependido muito do chapéu militar e tecnológico, dos EUA e da NATO, para assegurar a sua segurança. Num mundo cada vez mais fustigado, pelo fenómeno do terrorismo e por guerras por procuração, em territórios de vários continentes, a NATO, tem procurado servir como uma espécie de braço militar supletivo, do policia do mundo, que são os EUA. Mesmo que para isso tenha de fechar os olhos a alianças estratégicas contraditórias, com países como a Arábia Saudita e o Irão. Alianças essas,  assentes na diplomacia dos interesses, de carácter geoeconómico e geopolítico. NATO, nascida em 1949 com 12 países, no quadro da guerra fria e com a missão de conter o poder soviético, e que no final de 2015 já tem mais do que o dobro do número de países fundadores, com o objectivo de estender a sua área de intervenção e influência a todo o mundo. Para fazer face a ameaças globais cada vez mais complexas, como são os casos da cibersegurança,  do controlo da propagação de misseis balísticos, da disseminação do terrorismo, das relações com a ex URSS. Confirmando que esta organização de base ocidental, terá de desempenhar cada vez mais a sua missão, num século cada vez menos ocidental. Até porque, com exceção de países, sobretudo como os EUA (3,6%), na Europa, só a Grécia (2,4%), a Polónia (2,2%), o Reino Unido (2,1%) e a França (1,8%), têm um PIB destinado às despesas de defesa, razoável. Mesmo, no atual quadro, de exigência e de reforço na segurança, com o cerco a leste e a sul nas fronteiras europeias com a  contenda com a Rússia e a sul com a pressão migratória oriunda do Mediterrâneo Oriental e Ocidental, as opiniões publicas europeias (com poucas exceções ainda) não parecem preparadas para aceitar o aumento dos orçamentos de defesa dos países europeus e muito menos parecem disponíveis, para a criação de uma espécie de força militar europeia, na veste de exercito europeu.

Isso deriva, é bom recordar, de um caminho trilhado após a queda do muro de Berlim, de desinvestimento na defesa, na segurança, nos serviços de informação, em troca do investimento nos Estados sociais nacionais e em suma,  no grande Estado social europeu. Foi algo, que os povos europeus assimilaram nuns casos e exigiram noutros. Gastar menos na defesa e na segurança e gastar muito mais na proteção social, nos direitos adquiridos daí derivados. Esquecendo-se que não existe democracia sustentável, nem direitos, liberdades e garantias, sem estabilidade, segurança e  integridade territorial.

Os europeus, em geral, nos últimos anos quiseram esquecer o debate sobre a despesa militar europeia,  sobre as coresponsabilidades nacionais na partilha desses custos, sobre aquilo que estava a gravitar à sua volta no que diz respeito à sua tranquilidade, estabilidade e atratividade, derivada da sua segurança. Com impactos económicos importantíssimos. Este descomprometimento das opiniões públicas com a necessidade de gastar mais dinheiro com a sua defesa e segurança tem vivido paredes meias, com a ilusão, de a Europa ser o território da paz, dos direitos humanos, da transparência,  do Estado social garantístico, etc. É pois tempo, nesta mudança de paradigma de construção e solidificação de uma política europeia de defesa, de esta ser priorizada. Abandonando a herança pós queda do muro de Berlim, de que a prioridade deve manter-se no Estado social e na coesão social. Herança que já deu o que tinha de dar. É que o mundo não é plano. E em geopolítica o passado nunca morre. E muito menos os fortes sentimentos e laços identitários e de pertença. Daí que a Europa e o ocidente, não devam continuar a fazer de conta que o seu papel é destronar ditadores quando lhe dá jeito, mesmo que muitas vezes deixem a seguir tudo num caos. É que a democracia não se exporta exclusivamente pelas armas. A NATO, precisa pois de se preparar para atuar num século que será cada vez menos ocidental. Daí fazer todo o sentido que dedique os próximos tempos a estruturar e aprovar um novo conceito estratégico, que inclua, não só a gestão de conflitos e de crises, mas também as missões de manutenção de paz, bem como o combate ao terrorismo e às armas nucleares, para além de muitos outros desafios, que têm de ser enfrentados, em todo o mundo. Ocidental e não ocidental.