Mas primeiro é preciso deixar passar as presidenciais – nas quais PSD e CDS estão juntos no apoio a Marcelo Rebelo de Sousa -, esperar a aprovação do Orçamento do Estado para 2016 e a tomada de posse do novo Presidente da República. É pelo menos este o guião dos centristas, que deverão estar reunidos em congresso nos dias 8 e 9 de Abril, apurou o i, precisamente uma semana depois do PSD reunir o seu congresso. A preferência por esta data (10 e 12 de Março é outras das hipóteses que sobe ao Conselho Nacional de 7 de Janeiro) tem uma leitura: deixar que seja primeiro o PSD a clarificar a sua estratégia para que o CDS fique com a última palavra, o que reforça a ideia de regresso a um caminho independente ao do PSD.
Ao i, um membro da comissão política é categórico: “A coligação acabou!”. Para este dirigente, o próximo congresso servirá para marcar a “recuperação da autonomia do CDS” a tempo de “concorrer sozinho às próximas eleições”, defende, “a não ser que a queda do governo aconteça no próximo ano”. Desde a tomada de posse do governo de António Costa que PSD e CDS apresentaram seis iniciativas conjuntas no parlamento. Mas a tendência, mesmo que a manter iniciativas conjuntas com a bancada do PSD, deverá ser para a diferenciação e para assinalar as diferenças entre os dois partidos. “Um partido só pode partir para uma coligação se for útil. O CDS tem de manter a sua utilidade e a sua força”, nota outro destacado dirigente do CDS.
Paulo Portas e Nuno Magalhães, líder da bancada do CDS em São Bento, deverão retomar, em jeito de iniciativas legislativas, velhas bandeiras do CDS, como os chamados “impostos amigos da família”, que nem sempre tiveram a concordância do PSD nos últimos quatro anos; a defesa da herança de Assunção Cristas na Agricultura, a de Portas na diplomacia económica e a de Pires de Lima na Economia. “Mesmo que o PSD se abstenha, será útil para o CDS se diferenciar”, acrescenta.
Filipe Anacoreta Correia, do Movimento Alternativa e Responsabilidade, corrente de oposição interna a Paulo Portas – e que substituiu Portas no parlamento entre a tomada de posse do governo PSD/CDS e a rejeição do seu programa pelo PS, BE, PCP, PEV e PAN -, admite que o próximo conclave dos centristas “não é um congresso qualquer”. E lembra que o CDS nos últimos actos eleitorais (autárquicas, europeias e legislativas) “tem contrariado a sua afirmação eleitoral” o que, acrescenta, “não é positivo”, porque “um partido vive do seu peso eleitoral e dos seus eleitores”. Anacoreta Correia afasta, para já, a possibilidade assumida em tempos de se candidatar à liderança e não antevê dificuldades para Portas, se o líder do CDS avançar para a recandidatura, como parece certo. Mas defende que é “importante” que o líder se pronuncie sobre a sua candidatura já no próximo Conselho Nacional, em Janeiro, e que mostre que “estratégia defende para o CDS nos próximos 10 anos”.
Também a nível das distritais, a mensagem enviada para a direcção nacional do partido é clara. José Vasco Matafome, líder da distrital de Santarém, lembra que “a coligação não é uma fusão, porque cada um tem os seus objectivos e prioridades”. O líder da distrital de Santarém defende que nas próximas eleições o CDS deve avançar sozinho. “Cada um deve saber o que vale a cada momento”. Altino Bessa alinha na mesma diapasão. “Paulo Portas deve fazer uma reflexão grande sobre o partido: o que vale hoje o CDS e o que ficou de quatro anos de governo”, desafia o líder da distrital de Braga.
Se se confirmar a sua recandidatura, Portas chega ao conclave do CDS como uma vitória nas urnas (embora não tenha sido suficiente para governar) mas com menos votos dos que obteve em 2009. Ao seu lado, no seu núcleo duro, tem os seus putativos sucessores, o que lhe deixa com via aberta para a reeleição. Até lá, terá de convencer a família centrista de que tem um projecto autónomo para o partido, mesmo que por estes dias ainda haja uma mensagem comum nas páginas da internet do PSD e do CDS: “Acima de tudo Portugal”, que surge no lugar do nome da coligação “Portugal à Frente”. A pressão para que os partidos se separem também começa a surgir dentro do PSD. Manuela Ferreira Leite diz que cada um deve “seguir o seu caminho” e o ex-deputado José Eduardo Martins garantiu que “não faz sentido”, porque “os partidos têm programas diferentes”.
Com Luís Claro