Hoje, apregoa-se que os jornais em papel estão todos mortos. E, se não estão, dificilmente poderemos atribuir-lhes outro estatuto que não o de uma espécie em vias de extinção, tal o esmagamento de receitas pela quebra das vendas e receitas publicitárias, a rigidez das estruturas de custos, a rápida obsolescência dos seus conteúdos e a dinâmica voraz do online, das redes sociais e de todas as demais fontes de informação e opinião a que hoje temos acesso.
Neste quadro, que futuro se poderia augurar a um jornal que nasceu a marcar pela diferença no estilo, no formato, no design e até no pormenor de vir “agrafado” para que nem uma palavra nos pudesse escapar por entre os dedos? Os fatores de diferenciação e reconhecimento do passado seriam hoje mais uma peça da incontornável condenação ao estertor…
O “i” era/é obviamente muito mais que a forma. Desde 2009, conquistou-me pela singularidade dos conteúdos, pela criatividade das perspetivas, pela acutilância das entrevistas, pela riqueza das reportagens, pelo deleite propiciado pela leitura de cada edição, sempre adornadas por fotografias selecionadas cirurgicamente e grafismos exímios.
Em certo sentido, no melhor sentido, o i era/é a prova-viva de que ainda é possível jornalismo com nota artística. Só a título de exemplo, onde é possível ler textos sobre desporto como os que são assinados pelo Rui Miguel Tovar?
Durante estes mais de seis anos, pouco me importaram as dificuldades que tive que enfrentar para o encontrar nas bancas a Norte, ou a constatação estatística de que tem hoje uma circulação quase dez vezes inferior às Selecções do Reader’s Digest. De certa forma, é como aquele doce que comemos às escondidas para não o ter que partilhar com ninguém…
Há cerca de um ano, o então Diretor, Luís Rosa, convidou-me para iniciar uma colaboração regular que veio a ganhar o mote de Atlântico Norte. Por aqui, ao longo de quase cinquenta artigos perpassaram muitos temas ligados às autarquias locais, à política em geral e a Braga (claro) em particular.
Na exaltação do “jornalismo de causas” que o i sempre soube corporizar, foi um gosto colaborar no tributo às vítimas de violência doméstica, fazendo de Braga um dos primeiros municípios nacionais a atribuir o nome de uma rua a uma das vítimas mais recentes, em homenagem a todas as demais e como testemunho do compromisso com aquelas e aqueles que nunca queremos que o venham a ser. Mas houve também textos de ocasião, porque há sempre ocasiões especiais e momentos e estados de espírito que importa partilhar, quanto mais não seja para que aqueles que tiverem curiosidade e interesse e a paciência de nos ler nos conheçam melhor.
Este é um momento, o momento, de pôr um ponto no i.
Por estes dias foi divulgado o estudo de uns investigadores americanos que sugeriam que terminar as mensagens com um ponto final revela falta de sinceridade e sentimentos.
Não acredite! Este vai com toda a simpatia para aqueles que me acompanharam ao longo deste ano, com imensa gratidão para aqueles que tornaram este projeto possível e aos que lhe dão (e darão) corpo todos os dias, e com os desejos de que este possa ser um Feliz Natal para todos sem exceção.
Que, em 2016, se abram novas páginas de oportunidades, sucessos e alegrias.
Vamo-nos ler por aí!
Presidente da Câmara de Braga
Escreve à quinta-feira