Nos golos, tanto um como outro acumulam 47 marcados. Só há uma maneira de desempatar isto, através dos guarda-redes: Helton sofre 13, Artur 16. Voilà, o Porto é líder por três golos. E é líder há uma semana, após o nulo emCoimbra.
É uma sexta-feira. Porquê? O Benfica joga com oZenit para os oitavos da Liga dos Campeões. O Porto, já afastado da maior prova da UEFA em Dezembro e depois da Liga Europa, pelo Manchester City (posteriormente eliminado pelo toque de calcanhar de Xandão no José Alvalade e aquela defesa milagrosa de Patrício aos 90’+6 noJosé Etihad).
De um lado, o Benfica com dez (Artur, Maxi, Luisão, Garay,Javi, Witsel, Gaitán, Aimar, Nolito e Cardozo). Dez?Sim, o lateralEmerson é uma nulidade. E isto até é escrito antes de se saber do cartão vermelho, aos 77 minutos. Do outro lado, nove titulares indiscutíveis entre Helton, Maicon, Rolando, Otamendi, Álvaro Pereira, Fernando, Lucho, Moutinho e Hulk mais dois habituais suplente (Djalma e Janko). O árbitro é Pedro Proença.
PLAY Aos 7’, Hulk atira forte de fora da área e silencia a Luz.Aos 41’, Cardozo iguala na sequência de um ressalto provocado por Otamendi após remate à queima-roupa do compatriota Gaitán. Aos 48’, livre de Aimar e bis do paraguaio, de cabeça.
É a última acção digna desse registo de Aimar. Quando levanta a mão a pedir a substituição, Jesus troca-o por Rodrigo. Ganha-se velocidade. Perde-se a bússola. A perder, Vítor Pereira lança nada mais nada menos que James. O colombiano aterrara a Lisboa nessa madrugada e acusa o desgaste de um jogo da selecção para o Mundial-2014 mais viagem intercontinental. Acusa?
Naaaaaaaa.Bastam-lhe cinco minutos e aí está o 2-2. Fernando rouba uma bola no meio-campo contrário, num estilo muito seu (perna muito esticada e dá cá masé’isso), e tabela com James. O resto é história, com festa azul e branca no banco e a crença numa reviravolta. O Benfica tem o azar de perder Garay (outro argentino, outro lesionado) aos 71’ e ficar reduzido a dez, com a tal expulsão de Emerson aos 77’. Dez minutos depois, o 3-2 portista. Falta evidente de Maxi sobre o joelho de James. No livre, nada corre bem ao Benfica. O central Maicon parte em fora-de-jogo e o guarda-redes Artur sai-se muito mal, sem alma nem garra.Ainda entra Nélson Oliveira. Qual quê, o Porto segura os três pontos e parte decidido para a conquista do bicampeonato.
PAUSE Voam queixas do Benfica. Com toda a razão. O que falha afinal? Cada trio de arbitragem se coordena em campo à sua maneira para acompanhar as jogadas da melhor forma.
No caso de uma bola parada como a do 3-2, ao assistente Ricardo Santos cabe-lhe acima de tudo a responsabilidade de se centrar na linha defensiva do Benfica. Pedro Proença está de olho nas movimentações à entrada da área – para detectar alguma falta, por exemplo. Tiago Trigo, na outra ponta do relvado, mais longe da bola, tem uma função essencial: avisar os colegas através do sistema de comunicação no momento em que a bola parta. Ora, este entra em modo mute. Não dá o sinal (a palavra passe é bola).
A ausência de um sinal atrapalha RicardoSantos. E Pedro Proença. Estes dois apitam a final doEuro desse ano, em Kiev, entre Itália e Espanha. Já Tiago Trigo é substituído por Bertino Miranda.
O que diz Jesus? Cobras e lagartos. “É verdade que nestes jogos Pedro Proença não tem sido feliz, mas hoje o responsável é o auxiliar. Se fosse uma jogada corrida poderíamos admitir que não visse, mas o jogo estava parado e ele está na linha. Ele está a ver. Já vi na televisão e consigo ver onde ele está. Ele viu tudo. Ele sabe que estão fora de jogo. Naquele lance só pode haver premeditação. Ou é ou não é.”
STOP BALL Uau, que viagem. Tanta parlapié para quê? Esse 3-2 na Luz é a última derrota de Jesus em casa para o campeonato.Daí para cá, 55 jogos. Uma série alimentada com dois títulos de campeão no Benfica (2013-14 e 2014-15) mais a liderança noSporting (2015-16). Se acha isto fascinante, o que dizer disto?
“Nunca contei isto a ninguém”, diz Jesus. “É a primeira vez que o faço: como me fiz treinador? Estava na 3.ª divisão e no meu último ano de jogador [1989-90]. Jogava no Almancilense, uma equipa do Algarve que não sei se existe, e jogámos com o Amora. Quando acabou o jogo, o presidente do Amora, que estava no banco, convidou-me: ‘Ò Jorge Jesus, tu queres ser treinador do Amora?’ Eu disse: ‘treinador? Mas eu sou jogador, ainda agora estive a jogar, não sou treinador.’ Ele disse: ‘Tu estavas a jogar mas percebi que tu é que eras o treinador dentro do campo.’ E é assim que começo a minha carreira de treinador. Isto é no domingo, na segunda-feira penso e digo-lhe: ‘Aceito o seu desafio.’”
Ei-lo, o homem do momento. Pelo estatuto de bicampeão. E pela liderança. E pelos 55 jogos sem perder em casa.Que registo.Sabe o mais curioso? Não entra sequer no top 5 nacional. À sua frente, Artur Jorge (50 vitórias mais sete empates igual a 57), FernandoSantos (58+5=63), Eriksson (56+10=66) e Toni (50+17=67). Falta um, o grande líder. È ele, como não, José Maria Pedroto.Que maravilha: 98 jogos sem perder, entre 80 vitórias e 18 empates. Desde o 1-0 do benfiquista Chalana nas Antas, a 16 de Janeiro de 1977, até sempre. Pedroto deixa-nos em 1985 com um enriquecedor registo. De nível mundial. Como as nove finais de Taça, quatro delas seguidas. Este homem, sim, é um mister. Os outros, candidatos a.