Bounce. Aqui todos podemos ser como o Homem-Aranha

Bounce. Aqui todos podemos ser como o Homem-Aranha


Ou quase todos, porque para lá chegar ainda é preciso algum treino. Da Austrália para Carnaxide, este parque com mais de 100 trampolins interligados, abriu recentemente e quer pôr toda a gente a saltar. Até não poder mais.


Sabíamos que íamos ver saltos impressionantes, mas não estávamos à espera disto. A visão é assustadora e passamos a descrever: Kim, uma australiana de cabelo curto platinado que chamam para fazer uma demonstração de wall running, começa a saltar, salta mais e com mais balanço, e não são precisos muitos saltos para começar a andar nas paredes. A andar nas paredes. Leu bem. Em direcção ao tecto. Se não estivéssemos nós cá em baixo a ver, com os pés bem assentes no chão, diríamos que a gravidade tinha desaparecido, num qualquer processo que a Física ainda haveria de explicar. Assim dizemos só que Kim parece a versão feminina do Homem-Aranha, mas real e sem fato de super-herói, e que está mesmo aqui à nossa frente.

A isto que Kim fez chama-se wall running e é coisa só para quem já saltou muito na vida. São várias paredes com varias alturas, quanto mais alto mais difícil, a rodear uma fila de trampolins. Há também o supertramp, “talvez o maior trampolim do mundo”, diz-nos Ant Morell, australiano e co-fundador do Bounce, um parque de mais de 100 trampolins interligados, o sonho de qualquer ginasta ou praticante de desportos radicais, que esteve por estes dias por Lisboa para abrir mais um parque, em Carnaxide.

O conceito pode parecer estranho mas o sucesso está mais que comprovado. Os trampolins do Bounce já estão em sete cidades australianas, e além disso em Joanesburgo, Hong Kong, Banguecoque e no Dubai, com mais um parque prestes a abrir em Abu Dhabi. Lisboa foi escolhida como cidade de estreia dos australianos em território europeu e, a julgar pelo que tem acontecido no resto do mundo, o Bounce não deverá demorar muito a espalhar-se também por esta parte do mundo.

O espaço, que faz mais ou menos lembrar um parque de skate elástico, pode parecer algo confuso para quem entra pela primeira vez. Mas não é. Está dividido em várias áreas, da free jumping arena, basicamente dezenas de trampolins interligados com alguns obstáculos pelo meio, para os mais destemidos, onde podem saltar até crianças (o Bounce já organizou ao todo 40 mil festas com crianças, informação dada por Ant), à área de alta performance, onde estão as running walls e os maiores trampolins, como o supertramp, além de duas pistas para saltos. Pelo meio há os campos de futebol e de basquete. E de dodgeball, que podemos aportuguesar para uma espécie de jogo do mata. Em trampolins, claro.

Mas fiquemo-nos para já pela free jumping arena. Podíamos estar a escrever um texto na primeira pessoa, em que experimentávamos estes trampolins todos e contávamos como tinha sido, mas tentámos e não conseguimos dar mais do que uns saltinhos aqui. Não fôssemos partir uma perna ou um braço e não conseguirmos escrever de todo, que isto não é tão fácil como parece. Ia ser mau. Além disso, destemidos não é palavra que nos assista, pelo menos quando se fala em desportos radicais. Adiante.

É por esta área livre para saltos que os monitores, haverá sempre vários espalhados pelo recinto, aconselham toda a gente a começar. Haverá até aulas de fitness, chamadas BounceFIT, que consistem em 45 minutos de exercícios de “free jumping”. Eles garantem que 10 minutos disto equivalem ao triplo do tempo a correr, com a diferença de um menor impacto nas articulações. E citam a NASA para dizer que “os exercícios em trampolim são os mais eficientes desenvolvidos pelo homem”. Falta falar no Big Bag, um gigante saco insuflado para onde nos podemos atirar depois de grandes saltos sem o risco de partirmos alguma coisa. É como cair numa grande nuvem.

Ginastas, desportistas e basicamente qualquer pessoa que esteja a precisar de dar uns saltos para descomprimir, estão todos convidados. Os preços das actividades podem ser consultados no site e só não incluem as anti-derrapantes, que são obrigatórias e custam dois euros. Pelo espaço andarão sempre vários monitores que vão ajudar quem estiver a começar e garantir que só quem estiver preparado avança para os saltos mais altos – e perigosos.

Frank, mais um australiano que veio a Lisboa para ajudar na abertura do espaço (na verdade, é também filho de holandeses que têm casa em Portugal) é um desses que usam os saltos como preparação para outros desportos. No seu caso, o tricking, uma mistura debreak dance, com ginástica e elementos de artes marciais como capoeira e taekwondo. É ele que vemos dar os maiores saltos. Ant diz mesmo que uma dos principais atractivos que o Bounce viu em Portugal foram as comunidades de praticantes de wakeboard e kitesurf.

Depois disto tudo, continuamos intrigados sobre como é que alguém foi ter a ideia de abrir um parque para andar aos saltos. Pelos vistos, na Austrália é comum as pessoas terem um trampolim montado no quintal, explica Ant, que antes de embarcar na aventura do Bounce nunca tinha experimentado saltar, o que nos deixa  no mínimo intrigados depois de o termos visto aos saltos nos intervalos da conversa. “Eu sou mais de comer”, diz. Mas também tem um trampolim em casa? “Nós nunca tivemos. Talvez tenha sido por isso”.

claudia.sobral@ionline.pt