Moçambique. Raptos no topo da lista de criminalidade

Moçambique. Raptos no topo da lista de criminalidade


Têm sido cada vez mais constantes e a tendência é aumentarem pela altura das festas. O principal alvo, por razões óbvias, são os milionários ou as suas famílias.


A criminalidade em Moçambique tem sido uma constante nos últimos anos, tendo sido agravada nos últimos dois anos e meio. No topo da lista dos crimes praticados no país africano vêm os raptos, que segundo Vítor Gonçalves, jornalista do “Sol do Índico”, se agravam mais nas épocas festivas, a época em que estamos a entrar agora. 
Os principais alvos são os milionários, principalmente os moçambicanos de descendência indiana, mas em alguns casos a comunidade portuguesa também é um alvo para os criminosos. Todos têm um factor em comum: “Uma situação económica confortável”, disse ao i  Vitor Gonçalves.

E é tudo pensado ao pormenor. “Normalmente são pessoas que têm filhos ou familiares próximos aqui. A pessoa raptada não é a pessoa endinheirada mas sim alguém que lhe é próximo”, e tal acontece para que o milionário possa ter acesso à sua conta. Caso fosse ele o raptado, a movimentação do dinheiro seria mais complicada. 
A entrega do dinheiro processa-se de forma quase sempre igual. “Os criminosos abordam a vítima ou alguém que lhe seja próximo, pedem que não diga nada à polícia e combinam a entrega de um valor que normalmente é negociável mas que costuma estar entre os 20 a 25 milhões de milhões de meticais” (que correspondem a cerca de 362 mil euros e 450 mil euros, respectivamente).

Normalmente o processo corre da melhor forma e a vítima é entregue em segurança mas já existiram casos que resultaram na morte da vítima.

O governo moçambicano, empossado em Janeiro, declarou o combate à criminalidade organizada como uma das suas prioridades mas os crimes continuam a acontecer.

Polícia e bancos Uma das grandes dúvidas que actualmente se põe é a forma como os raptores conseguem escapar, uma vez que quem é apanhado na maior parte destes casos são os operacionais que tratam do processo, do esconderijo e da troca mas não são efectivamente quem programa o rapto. “Há alguma utilização de armas que normalmente são do uso da polícia mas que são encontradas em mão de criminosos em conflitos armados e portanto parece haver indícios de que existem pelo menos ligações entre alguns dos criminosos e a polícia”, diz Vitor Gonçalves, mas não se sabe realmente como essas armas chegam às mãos dos criminosos. O que parece ser mais certo é que há fuga de informação por parte dos bancos, uma vez que os raptores sabem exactamente quem é que possui uma conta abastada. Esse factor levou à “fuga de muitos homens de negócios que desenvolveram actividade em Moçambique e que fugiram para o estrangeiro para não estarem sujeitos a este tipo de acontecimentos”. 

Segundo a Procuradoria-Geral da República, a justiça de Moçambique registou 42 processos-crime relativos a raptos em 2014.

Portugueses saem por outras razões São pelo menos 21 mil portugueses a viver em Moçambique e no último ano cinco deles foram alvos de rapto. Contudo, para Vitor Gonçalves, esse não é um factor que leve os portugueses a abandonar o país africano. “As pessoas que de algum modo têm uma visibilidade económica que lhes dá uma visibilidade e perigo de rapto, protegem-se através do envio dos familiares para Portugal”, sendo também comum a contratação de guarda-costas. 

Para Vitor Gonçalves, os portugueses que abandonam Moçambique fazem-no devido a um esfriamento da actividade económica e a um agravamento da instabilidade político-militar que se verifica no Norte e Centro do país com vários confrontos entre as forças da polícia e do exército e as forças da Renamo. Confrontos que causaram fortes perturbações na actividade económica, nomeadamente na exportação.

Moeda  A moeda de Moçambique, o metical, tem tido uma desvantagem face ao dólar e também ao euro. E nos últimos meses a depreciação do metical está excessivamente alta, como reconheceu o Fundo Monetário Internacional no mês passado em Maputo. 

Esse factor pode fazer com que os consumidores sejam penalizados, alertam economistas e empresários.
“As pessoas vêem-se numa situação em que estão a pagar a renda de casa em dólares e estão a receber em meticais”, refere o jornalista Vitor Gonçalves, acrescentando que mais facilmente atribuiria esse factor à saída dos portugueses de Moçambique do que aos raptos.

Os comerciantes em Moçambique têm vindo a queixar-se da desvalorização da moeda, facto que já levou o ministro da Economia e Finanças de Moçambique, Adriano Maleiane, a pedir aos comerciantes para não especularem com os preços dos bens, sob o argumento da forte desvalorização do metical face ao dólar.