Século XXI – A Idade dos Paradoxos


Um dia, bastante lá no futuro, quando o Século XXI tiver direito a ter um Título, será certamente chamado o Século do Inesperado ou a Idade dos Paradoxos.


Com efeito, não é sem razão que no final do Século XX se falou do fim do Estado, do erro do Ocidente, do desaparecimento das ideologias, da crise dos valores.

É que tudo o que era deixou de ser. O esperado deixou de existir. O paradigma desapareceu ou inverteu-se. A previsibilidade tornou-se impossível. E a gestão das vidas colectivas e individuais passou a ser uma aventura, sem graça nenhuma.

A Europa, mãe das civilizações, padrão da axiologia oficial, começou por ser dizimada economicamente. E arrisca-se seriamente a perder não só o papel político que sempre teve, como a desaparecer perante ameaças armadas insusceptíveis de serem sustadas. No afã de defender os valores que a caracterizam e distinguem, ver-nos-emos arremedados para o oposto desses mesmos valores, sem sequer garantir que, por esse caminho, se eliminam os inimigos que espreitam do outro lado do fosso.

Esse tal fosso, ou fortaleza, foi outro padrão caído. Lá está: no afã ecuménico e igualitário, abriram-se as portas de Troia. E todos sabemos como acabou a história do célebre equídeo de madeira. Mas também todos sabemos que os antibióticos fazem mal aos organismos. Principalmente os de largo espectro.

Que as ideologias desapareceram, vê-se por todo o lado. Os soberanos elegem hoje os seus representantes com outros padrões de escolha: já não se trata de estarem conscientes, ou crentes, numa qualquer ideologia ou filosofia de vida, mas apenas motivados pelo humor do momento, pelo último medo, pelo melhor marketing usado pelos candidatos. Influenciados pela força que se afigure mais apta a remover a última ameaça que lhes foi gritada ao ouvido ou metida pelos olhos dentro.

Isto para já não falar do total desaparecimento da verdadeira partição fundamental entre Esquerdas e Direitas. O que, aliás, tem sido bem patente no Século XXI português.

Onde já se viu uma Direita que aumenta impostos desvairadamente? Que redistribui a riqueza com critérios tais que quase dizima a sua maior sustentação eleitoral, a classe média, mas poupa os mais desprovidos? Que assegura isenções suficientes a permitir que mais de 45% de todo um povo não pague qualquer imposto de rendimento? Que é feito da Direita liberal do “laissez faire”?

E o que dizer de uma Esquerda que tem por programa proclamado reduzir esses mesmos impostos? Acabar com as taxas acrescidas sobre a tal classe média? Manter todas as prestações sociais mas eliminar uma boa parte da única fonte de receitas que este Estado sempre teve: o tributo! Viveremos felizes… mas comendo o quê? Só falta ouvir falar do Alentejo celeiro de Portugal.

Até na educação. A Direita, sempre acusada de se despreocupar com a qualidade da educação das massas, cria provas de aferição de conhecimentos para promover o estudo, a qualidade! E a Esquerda, sempre defensora da educação das massas, elimina essas mesmas provas, crente de que a examinação não garante qualidade, quando milhões sempre aprenderam sendo examinados.

Será este, realmente, o Século dos Paradoxos.

Mas com tudo isto, desarrumaram-se todas as caixinhas do pensamento.

Advogado, escreve à sexta-feira


Século XXI – A Idade dos Paradoxos


Um dia, bastante lá no futuro, quando o Século XXI tiver direito a ter um Título, será certamente chamado o Século do Inesperado ou a Idade dos Paradoxos.


Com efeito, não é sem razão que no final do Século XX se falou do fim do Estado, do erro do Ocidente, do desaparecimento das ideologias, da crise dos valores.

É que tudo o que era deixou de ser. O esperado deixou de existir. O paradigma desapareceu ou inverteu-se. A previsibilidade tornou-se impossível. E a gestão das vidas colectivas e individuais passou a ser uma aventura, sem graça nenhuma.

A Europa, mãe das civilizações, padrão da axiologia oficial, começou por ser dizimada economicamente. E arrisca-se seriamente a perder não só o papel político que sempre teve, como a desaparecer perante ameaças armadas insusceptíveis de serem sustadas. No afã de defender os valores que a caracterizam e distinguem, ver-nos-emos arremedados para o oposto desses mesmos valores, sem sequer garantir que, por esse caminho, se eliminam os inimigos que espreitam do outro lado do fosso.

Esse tal fosso, ou fortaleza, foi outro padrão caído. Lá está: no afã ecuménico e igualitário, abriram-se as portas de Troia. E todos sabemos como acabou a história do célebre equídeo de madeira. Mas também todos sabemos que os antibióticos fazem mal aos organismos. Principalmente os de largo espectro.

Que as ideologias desapareceram, vê-se por todo o lado. Os soberanos elegem hoje os seus representantes com outros padrões de escolha: já não se trata de estarem conscientes, ou crentes, numa qualquer ideologia ou filosofia de vida, mas apenas motivados pelo humor do momento, pelo último medo, pelo melhor marketing usado pelos candidatos. Influenciados pela força que se afigure mais apta a remover a última ameaça que lhes foi gritada ao ouvido ou metida pelos olhos dentro.

Isto para já não falar do total desaparecimento da verdadeira partição fundamental entre Esquerdas e Direitas. O que, aliás, tem sido bem patente no Século XXI português.

Onde já se viu uma Direita que aumenta impostos desvairadamente? Que redistribui a riqueza com critérios tais que quase dizima a sua maior sustentação eleitoral, a classe média, mas poupa os mais desprovidos? Que assegura isenções suficientes a permitir que mais de 45% de todo um povo não pague qualquer imposto de rendimento? Que é feito da Direita liberal do “laissez faire”?

E o que dizer de uma Esquerda que tem por programa proclamado reduzir esses mesmos impostos? Acabar com as taxas acrescidas sobre a tal classe média? Manter todas as prestações sociais mas eliminar uma boa parte da única fonte de receitas que este Estado sempre teve: o tributo! Viveremos felizes… mas comendo o quê? Só falta ouvir falar do Alentejo celeiro de Portugal.

Até na educação. A Direita, sempre acusada de se despreocupar com a qualidade da educação das massas, cria provas de aferição de conhecimentos para promover o estudo, a qualidade! E a Esquerda, sempre defensora da educação das massas, elimina essas mesmas provas, crente de que a examinação não garante qualidade, quando milhões sempre aprenderam sendo examinados.

Será este, realmente, o Século dos Paradoxos.

Mas com tudo isto, desarrumaram-se todas as caixinhas do pensamento.

Advogado, escreve à sexta-feira