O jogo ainda ia a meio da primeira parte e o Real Madrid até vencia por um golo de vantagem, mas eram os adeptos do Cádiz que faziam a festa nas bancadas. “Benítez, vai ao Twitter” ou “Cheryshev, gostamos muito de ti” cantavam a plenos pulmões, enquanto agitavam no ar com toda a força os cachecóis do emblema da segunda divisão espanhola.
Curiosamente, Denis Cheryshev até era o nome do avançado que aproveitou a oportunidade dada por Rafa Benítez, que alinhou com jogadores menos rodados (Ronaldo viu o jogo pela televisão), para abrir o marcador aos três minutos, na 1.ª mão dos 16 avos da Taça do Rei.
Nas redes sociais, iam-se acumulando as piadas. Gerard Piqué, rival do Barcelona, publica um tweet com vários emojis de gozo. Benítez não mostra (ainda) reacção no banco de suplentes. O jogo prossegue e Cheryshev, alvo de inúmeras gargalhada, até reentra no relvado após o intervalo. Trinta segundos depois levanta-se a placa de substituição e o russo de 24 anos vai tomar banho mais cedo.
O erro estava assumido, as piadas e os cânticos faziam agora sentido: Cheryshev tinha sido utilizado de forma irregular, uma vez que se encontrava a cumprir um jogo de suspensão por ter acumulado três cartões amarelos na prova ao serviço do Villarreal, na última época. Aparentemente, ninguém se lembrou.
Isco ainda aumentou a contagem na vitória do Real (3-1), mas o triunfo pode nada valer. A sanção prevista pelos regulamentos é a desqualificação imediata. Que o diga o Osasuna, que já esta época utilizou um jogador castigado frente ao Mirandés na segunda eliminatória e foi descartado na secretaria.
“Não sabíamos absolutamente de nada, nem nós nem o jogador. O Real Madrid não é ridículo”, explicou Emilio Butragueño, responsável pelas relações institucionais dos merengues. A defesa do clube prosseguiu pela voz do treinador. “Só ficámos a saber no intervalo, quando nos disseram, e fizemos a substituição para mostrar boa-fé”, comentou Benítez após o apito final.
Uma situação que não é nova na vida de Rafa. E que também tem a Taça do Rei no cadastro. O Valência apresentou-se em 2001/02 sob a sua batuta com quatro extra-comunitários em campo ao mesmo tempo (Aimar e mais três) frente ao Novelda – o limite era três. E foi para casa mais cedo.
Treze anos depois, a história pode repetir-se. O Cádiz já apresentou queixa na federação espanhola e o veredicto será conhecido hoje. Se forem cumpridos os regulamentos, Cheryshev ficará para sempre conhecido como o russo que gelou o Real na Taça.