Será que o “novo” Ministério da Educação terá abertura de espírito suficiente para perceber que a juventude (e o desporto) deve estar integrada no Ministério da Educação Nacional, de molde a haver coesão e, sobretudo, a evitar duas formas diferentes, e díspares, ou seja, antagónicas, no sector da formação do carácter dos nossos jovens?
É que, em nossa opinião, deve ser o Ministério da Educação a dar o mote, ou a sentença, em relação à formação em geral da juventude portuguesa, e por isso é que ela deve ser apartidária e ter continuidade no tempo. Caso contrário, muda conforme (mudam) os governos, o que descaracteriza um povo, já que é a língua e a cultura que o definem.
Aliás, a educação, a saúde, a justiça e a defesa nacional são sectores que devem conservar as suas matrizes para dar estabilidade à sociedade em áreas essenciais e fundamentais para os cidadãos. Desde o 25 de Abril que não há uma política de educação que esteja gizada de acordo com os valores, os ideais e a idiossincrasia do povo português, ou seja, com respeito por estes arquétipos que o caracterizam.
O povo português tem uma maneira peculiar, e tradicional, de estar, de sentir, de se expressar, de sofrer, de se divertir, de comer e, sobretudo, de se relacionar com o ser humano, seu semelhante, independentemente da cor da pele, da religião ou da língua, e por isso na história da expansão da cultura portuguesa no mundo encontramos nomes portugueses por toda a parte, porque os portugueses tiveram sempre a capacidade de se misturarem de tal maneira que, embora não casando, perfilhavam os filhos dando-lhes o seu nome.
A cultura de um povo é isto mesmo: usos, costumes, tradições e a língua. É isto que é preciso preservar porque é a matriz, ou seja, é a sua referência. Através do desporto podemos desenvolver políticas de preservação da matriz cultural com actividades desse cariz que agradam ao povo e preservam a sua unidade e coesão.
É essa perspectiva, nova, de abordagem do tema da educação que gostávamos de ver equacionado no Ministério da Educação e, em especial, de-senvolvida pela Secretaria de Estado da Juventude e Desporto, mas com esta última integrada, obviamente, no Ministério da Educação.
Não compreendemos, e não aceitamos, que o Ministério da Educação tenha tantas pessoas altamente qualificadas mas que não entendam nada do povo português, e que proponham um modelo de educação que não está fundamentado de forma científica e cujos ideólogos não se conhecem. Muitos eram engenheiros químicos, e como disse Jacques Monot, quem conhecer a química conhece o homem, sim, mas não o que lhe vai na alma – “apenas” conhece a sua química!
E agora, chegados aqui, propomos que o novo governo, qualquer que seja, tente perceber como funciona o povo português para posteriormente perceber que tipo de educação-instrução ideal deve ser arquitectada para ele, e determinar ainda a metodologia adequada a tal processo, já que a importação de modelos estrangeiros acaba por não resultar, exactamente pelo factor cultural e pela sensibilidade do povo português. É que aqui joga-se futebol, ouve-se fado, chora-se, vai-se a Fátima e tem-se fé em Deus, e mesmo os ateus ou agnósticos, muitas vezes, dizem “até amanhã, se Deus quiser”. Pois é, é assim o povo português!
Sociólogo
Escreve quinzenalmente à quarta-feira