Luís Alberto Silva. “Propomos o corte dos salários da administração”

Luís Alberto Silva. “Propomos o corte dos salários da administração”


A lista E quer “moralizar” a gestão da Montepio Geral – Associação Mutualista: aumentar os vencimentos dos trabalhadores e acabar com os investimentos “perigosos”.


Luís Alberto Silva encabeça a lista E, candidata às eleições para a Montepio Geral – Associação Mutualista, que se realizam amanhã. Há mais de 40 anos no mutualismo, é actualmente presidente da União das Mutualidades Portuguesas, com 76 filiados e 2,5 milhões de beneficiários, e promete trazer a instituição de volta àquilo que é a sua essência, deixando de fora os investimentos de risco.

Se for eleito, garante, haverá aumento de salários para os trabalhadores e corte de ordenados para os órgãos de gestão, que poderão atingir os 50%. Luís Alberto Silva, o candidato vegetariano que, por questões de saúde, os médicos obrigaram a comer peixe, não poupa críticas a Vítor Melícias, o padre presidente da mesa da assembleia geral, que “não tem cumprido o papel lhe está definido nos estatutos”.

O que propõe a lista E para a Montepio Geral – Associação Mutualista como alternativa à gestão liderada por Tomás Correia?
A instituição necessita de voltar à essência do mutualismo. Os investimentos têm de ser feitos com prudência, não se pode entrar em áreas de risco que comprometam todo o futuro da instituição. O mutualismo não é isto. Ao sair daquilo que é a sua identidade, tem estado também a perder privilégios e benefícios fiscais a que tem direito por ser uma associação mutualista. O que tem ocorrido é que há uma gestão opaca, sinuosa e que prejudica os interesses da instituição e dos clientes e é preciso recuperar confiança.

Como?
A gestão tem de ser prudente, rigorosa, queremos repor aquilo que é a base do mutualismo, em que a grande riqueza da instituição são os trabalhadores. Pensamos que devemos moralizar, por exemplo, no que diz respeito aos vencimentos, nomeadamente da administração, da mesa da assembleia geral, do conselho fiscal e do conselho geral. Os associados nomeiam gestores para gerir o bem comum, mas são voluntários, na sua essência. Logo, não parece justo, ou lógico, que tenham grandes salários e que estejam a ser aumentados anualmente, quando os salários dos trabalhadores estão congelados há anos.

E o que significa isso?
Se ganharmos as eleições, iremos rever os vencimentos dos trabalhadores, que estão congelados, e a questão das carreiras – não concordamos com a mobilidade cega que está a acontecer na instituição. Esta valorização não tem sido feita. Não há aqui um critério: se não há aumentos para os trabalhadores, não devia haver para os órgãos executivos. Por isso queremos moralizar os ordenados da gestão, propomos o corte dos salários da administração, dando o exemplo. E o aumento dos salários dos trabalhadores, que são quem contribuiu para o de-senvolvimento real da instituição.

Falou em baixar os salários da administração. Quanto?
Não posso dizer ao certo. Se ganharmos as eleições vamos nomear uma comissão independente e essa comissão é que vai propor de quanto serão os salários que os órgãos executivos vão ganhar. Mas poderão baixar na casa dos 50%. Consideramos que é um exagero, tem de haver uma moralização. Sobretudo tendo em conta que congelaram as carreiras e os vencimentos dos trabalhadores. A mesa da assembleia geral, o conselho fiscal e o conselho geral ganham 5 mil euros por mês, 60 mil euros por ano. A assembleia geral, que é constituída pelo padre Vítor Melícias, pelo primeiro e pelo segundo secretários, pode ter duas ou três reuniões por ano. O conselho fiscal reúne-se quatro vezes por ano. O conselho geral quatro a seis vezes por ano. Por isso os valores em causa são um exagero. Não sei precisar quanto ganha o conselho de administração, mas de acordo com a comunicação social é o segundo mais bem pago da banca nacional. Até compreendo que os outros homens da banca ganhem mais, porque também têm lá o seu capital, mas o Dr. Tomás Correia tem uma quotização, tal como os outros associados da instituição, que é uma organização de economia solidária. A administração tem de ser exemplo, não pode de maneira alguma ter vencimentos desta ordem, além de outras mordomias: carro, motorista, cartões dourados. Pessoalmente, não me revejo nesta política, não me sinto bem.

E quanto à revisão dos salários dos trabalhadores, o que seria razoável?
Uma vez mais, estar a dizer que é x ou y é imprudente, porque temos primeiro de auditar, analisar e só então decidir.

Sobre a auditoria, desconfia que as contas apresentadas pela administração liderada por Tomás Correia não reflectem a realidade da instituição?
Digo-lhe que é preocupante, uma vez que a associação mutualista tem de apresentar o seu relatório e contas até 31 de Março de cada ano. Estamos em Novembro e ainda não foi convocada a assembleia geral para contar aos associados o que ocorreu em 2014. Isso deixa-nos muito preocupados porque supostamente já devíamos ter discutido as contas do ano passado e o facto de não ter acontecido no prazo normal deixa-nos apreensivos. A Montepio Geral – Associação Mutualista é dona de tudo, envolve tudo. Dá a sensação que a Caixa Económica está numa galáxia e a Associação Mutualista é outra coisa, mas não.

Estão em galáxias diferentes para os supervisores…
Sim, de um lado o Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social e do outro o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal.

Alguma vez pediu explicações a essas entidades?
Posso dizer que tive uma reunião com o governador do Banco de Portugal e com o ministro da Solidariedade Social. O Banco de Portugal interveio, houve a auditoria, o Ministério da Solidariedade Social não teve qualquer intervenção.

Quem poderia, de alguma forma, ter desempatado esta situação?
O que lhe posso dizer é que o grande culpado desta situação é o presidente da mesa da assembleia geral, o padre Vítor Melícias.

Porquê?
Porque o padre Vítor Melícias representa todos os associados e tem de comunicar quando vê algo que não está a ser cumprido. É isso que está definido estatutariamente. Se há um órgão que não respeita o que está nos estatutos, ele deve convocar a assembleia geral e chamar a atenção para o assunto. É para isso que ganha 5 mil euros por mês.

Por que motivo acredita que não o faz?
Isso terá de lhe perguntar a ele. Mas o padre Vítor Melícias não está a cumprir as suas funções e ele não representa a administração, representa todos os associados.

Acredita que vai haver eleições amanhã, 2 de Dezembro, apesar das providências cautelares e das queixas apresentadas pelas diversas listas?
Lamento profundamente que o acto eleitoral esteja a decorrer desta forma, sem liberdade e equidade, desrespeitando que todas as listas tenham os mesmos meios ao seu dispor. Fico triste e incomodado.

Ainda assim recusou participar na providência cautelar. Porquê?
Fomos convidados a participar no recurso da providência cautelar, mas dei indicação para ficarmos de fora porque uma coisa é uma providência cautelar às pessoas, outra coisa é uma providência cautelar à instituição, que é prejudicada. Mas ficámos disponíveis para ser testemunhas, até porque o mandatário está presente na comissão eleitoral. Além disso, nós próprios já fizemos protesto de diversas irregularidades que entendemos que não podem ocorrer.

Quais?
Por exemplo, os membros da assembleia geral participam na votação da comissão eleitoral: padre Vítor Melícias, primeiro e segundo secretários e mandatário, quatro elementos mais da lista A em relação às restantes listas. Ficam logo em vantagem. Depois há kits de votos de substituição sobre os quais a comissão eleitoral não tem qualquer controlo. Também achamos que não é justo não ter acesso à base de dados dos associados, como tem a lista A, que dispõe de nomes, moradas, telefones, emails, etc. Além disso, pensamos que não está bem os votos serem guardados dentro das instalações do próprio Montepio Geral. Ficam ali, nós vamos embora e depois, honestamente, não temos confiança. No mínimo seriam guardados por uma entidade externa. Os votos são entregues a funcionários, mas os representantes das listas nem sequer estão presentes para os validar. Por outro lado, uma máquina que faz a contagem dos votos e não é certificada pode muito bem ser manipulada. Isto também nos deixa muito apreensivos. Foi este o nosso voto de protesto.

Como justifica que uma instituição com 650 mil associados, ainda que nem todos votem, porque têm de ter mais de 18 anos, tenha uma participação tão baixa nas eleições?
O voto por correspondência não é a melhor forma de participação, nem a mais transparente. Temos balcões em todo o país, o acto podia ser presencial, com uma urna e um representante de cada lista. Ou então voto electrónico. A Comissão Nacional de Protecção de Dados já foi contactada muito tarde, deveria ter sido contactada com tempo, mas isto acontece assim todos os anos em que há eleições, foi assim há três anos e há seis anos também. Por outro lado, está previsto nos estatutos que as listas possam ser apresentadas até 30 de Outubro. Uma vez mais, o padre Vítor Melícias marcou a data deixando pouco tempo para visitar os mais de 400 balcões, incluindo ilhas. Com apenas cerca de 15 dias para campanha é difícil. Os associados, para participarem na vida da instituição, têm de se sentir envolvidos. Quem está a governar tem de ter acções para que os associados se envolvam com a instituição, e isso é um trabalho do conselho de administração.