Ailton


Do alto dos seus tenros 22 anos, olha para o futuro com optimismo. Aprendeu cedo que a vida não lhe traria nada de graça


A vida é injusta ou, pelo menos, é desigual. Já o sabemos e experimentamos esta receita em doses diferenciadas no dia-a-dia. Perdoem-me o trocadilho, mas para uns mais injusta do que para outros, e para outros mais desigual do que para uns. Ailton é um jovem esforçado, surfista por paixão, estudante e trabalhador por dedicação e necessidade. Do alto dos seus tenros 22 anos, olha para o futuro com optimismo. Aprendeu cedo que a vida não lhe traria nada de graça e, por isso, luta, esforça-se confiante que lá à frente, daqui a uns anos, a compensação chegará. Levanta-se às cinco da manhã e corre para o mar! Por estes dias privei com ele, e entre uma onda e outra trocámos uns dedos de conversa.

Falámos de tudo um pouco, mas sobretudo falámos da vida, ou melhor, do futuro da sua vida. Os desejos, os anseios e os receios contados entre sorrisos rasgados pela satisfação de “fazer” uma onda. Por estes dias, aproveitou a minha presença para comodamente apanhar boleia para a cidade rumo ao estágio profissional que complementa com as aulas na escola, de tarde. Uma poupança de energia e de tempo num dia que é sempre longo, mas cheio de esperança. Nas curtas viagens testei o seu interesse e a sua astúcia. Expliquei-lhe o que fazia ali, como a minha vida era de alguma forma movida pela mesma determinação. Ficou entusiasmado com o que lhe contei e o que tentava levar para São Tomé: o acesso livre à internet, praças digitais, os laboratórios de I&D e os estágios profissionais remunerados.

Viu nestes projectos a oportunidade de uma vida melhor, para ele e para os seus amigos, os que ainda há pouco connosco partilhavam as ondas – palavras dele. Por estes dias, o meu trabalho foi o que é grande parte das vezes, uma constante gestão de sensibilidades. Contornando obstáculos que nem sempre vislumbramos à distância. Engolir alguns sapos movidos pela ganância e pelo facilitismo, que indiferentes a tudo bloqueiam e agranelam o que não os satisfaz, destruindo a esperança dos Ailtons desta vida. E assim foi ao longo desta semana. Saíamos apressados da água e lá seguíamos juntos, cada um para a sua luta. Por agora, o Ailton ainda não sabe da existência destes obstáculos, mas estou certo de que com eles se cruzará ao longo da vida. Até lá (quero acreditar nisso), conseguirei mover alguns.

Despedimo-nos da forma habitual:

– Amanhã lá estaremos, Ailton! 

– Ya! Leve-leve! As ondas, ninguém nos tira. 

Escreve ao sábado 

Ailton


Do alto dos seus tenros 22 anos, olha para o futuro com optimismo. Aprendeu cedo que a vida não lhe traria nada de graça


A vida é injusta ou, pelo menos, é desigual. Já o sabemos e experimentamos esta receita em doses diferenciadas no dia-a-dia. Perdoem-me o trocadilho, mas para uns mais injusta do que para outros, e para outros mais desigual do que para uns. Ailton é um jovem esforçado, surfista por paixão, estudante e trabalhador por dedicação e necessidade. Do alto dos seus tenros 22 anos, olha para o futuro com optimismo. Aprendeu cedo que a vida não lhe traria nada de graça e, por isso, luta, esforça-se confiante que lá à frente, daqui a uns anos, a compensação chegará. Levanta-se às cinco da manhã e corre para o mar! Por estes dias privei com ele, e entre uma onda e outra trocámos uns dedos de conversa.

Falámos de tudo um pouco, mas sobretudo falámos da vida, ou melhor, do futuro da sua vida. Os desejos, os anseios e os receios contados entre sorrisos rasgados pela satisfação de “fazer” uma onda. Por estes dias, aproveitou a minha presença para comodamente apanhar boleia para a cidade rumo ao estágio profissional que complementa com as aulas na escola, de tarde. Uma poupança de energia e de tempo num dia que é sempre longo, mas cheio de esperança. Nas curtas viagens testei o seu interesse e a sua astúcia. Expliquei-lhe o que fazia ali, como a minha vida era de alguma forma movida pela mesma determinação. Ficou entusiasmado com o que lhe contei e o que tentava levar para São Tomé: o acesso livre à internet, praças digitais, os laboratórios de I&D e os estágios profissionais remunerados.

Viu nestes projectos a oportunidade de uma vida melhor, para ele e para os seus amigos, os que ainda há pouco connosco partilhavam as ondas – palavras dele. Por estes dias, o meu trabalho foi o que é grande parte das vezes, uma constante gestão de sensibilidades. Contornando obstáculos que nem sempre vislumbramos à distância. Engolir alguns sapos movidos pela ganância e pelo facilitismo, que indiferentes a tudo bloqueiam e agranelam o que não os satisfaz, destruindo a esperança dos Ailtons desta vida. E assim foi ao longo desta semana. Saíamos apressados da água e lá seguíamos juntos, cada um para a sua luta. Por agora, o Ailton ainda não sabe da existência destes obstáculos, mas estou certo de que com eles se cruzará ao longo da vida. Até lá (quero acreditar nisso), conseguirei mover alguns.

Despedimo-nos da forma habitual:

– Amanhã lá estaremos, Ailton! 

– Ya! Leve-leve! As ondas, ninguém nos tira. 

Escreve ao sábado