Santos (Herman José) – Louzada, até parece que os estou a ver. Liga dos Campeões. Estádio da Luz completamente cheio: 64 mil espectadores. Entra o Barcelona.
Louzada (José Pedro Gomes) – Boa, o Barcelona…
Santos – Depois o Benfica. João Pinto cumprimenta Figo. Sem sorrisos, que há tempo para isso. O árbitro apita para o início do prélio.
Louzada – O árbitro apita…
Santos – João Pinto recebe a bola. Jogada em profundidade. Olha para o corredor esquerdo.
Louzada – Elias Katana! Rui Teixeira!
Santos – Rui Teixeira? ‘Tá bem. Yes! Gooooooooooooolo!
Dono da pensão – Alto aí! O que é que vem a ser isto?
Louzada – Foi… golo do Benfica!
Costuma dizer-se que uma imagem vale mais que mil palavras. Não no caso do “Lampião da Estrela”, um telefilme da SIC de 2000 que conjuga humor com futebol de forma simples e engraçada. Naqueles 93 minutos de acção não há cá transpiração. É cem por cento inspiração. Comédia pura, portanto. Sem esforço, como deve ser.
É um remake do “Leão da Estrela”, de 1947. Os diálogos são geniais. O filme também. António da Silva, idem. Sportinguista na vida real e também nesse filme, é o Sr. Anastácio que vai ao Porto para a casa dos pais do namorado da filha e faz-se passar por rico. O intuito é ver o clássico no Lima, o estádio portuense para os grandes jogos, alugado pelo FC Porto ao rival de então, o Académico do Porto.
Ainda em Lisboa, e já com um bilhete na mão, António Silva levanta-se do sofá e começa a imaginar o golo do Sporting no Porto. O seu jogo de cintura é impressionante. Podia muito bem ser o sexto violino. “A bola é posta em jogo. Os nossos avançam como leões. Canário recebe a bola e passa a Travaços, Travaços dribla Guilhar e passa a Vasques, Vasques recebe e passa a Albano. Albano passa a Jesus Correia. Jesus Correia centra e Peyroteo, completamente isolado, corre para a área e mete golo.” Nesse momento dá um pontapé no ar e acerta na mesa, derrubando tudo o que está em cima dela.
— Eh, que grande jogo [e arruma o jornal “O Século”]. Aposto que vai ser 3-1 para o Sporting, atira António Silva.
— Ou ao contrário, provoca um colega de trabalho.
— Mordia-te todo [e António Silva levanta-se da secretária]. Lembre-se que o leão é o rei dos animais, até mesmo no futebol.
— Mas lembre-se que o desafio é no Porto, diz um outro colega de trabalho, este mais velho.
— Nem que fosse na China, atira António Silva.
— O Peyroteo remata no Terreiro do Paço e mete golo no Estádio do Lima. Ali como um limão.
Costuma dizer-se que uma imagem vale mais que mil palavras. Não no caso do “Leão da Estrela”, um filme português de 1947, que conjuga humor com futebol de forma simples e engraçada. Naqueles 121 minutos de acção, não há cá transpiração. É cem por cento de inspiração. Comédia pura, portanto. Sem esforço, como deve ser. Ao contrário do Leão da Estrela 2015, sem futebol de verdade (Leões de Alcochete? Barrancos do Inferno?) nem humor.
Editor de desporto
Escreve à sexta