Ouvir Sampaio dizer que é “muito difícil utilizar com razoabilidade” o critério para a demissão de um governo não só é, no seu caso, estranho como é antagónico à avaliação que fez do governo de Santana Lopes quando era Presidente da República.
Sampaio, que em 2004 alegou “uma grave crise de credibilidade” do então governo, e recorreu à dissolução da AR como pretexto para correr com Santana, vem passados todos estes anos falar de critérios, de razoabilidade e da impossibilidade prática de se demitir um governo “só porque ele é mau”.
Sampaio fez o que fez. A história não volta para trás e as coisas foram o que foram. O ponto não é esse, embora ela seja importante para a avaliação de carácter daqueles que há anos de mais circulam pelos caminhos do poder, dos interesses e do compadrio, achando-se verdadeiramente, eles sim, os donos disto tudo.
O ponto aqui é que a esta espécie de usurpação de poder, constitucionalmente possível mas carregada de argumentos falaciosos e de muito pouca ética, vai-se juntando uma certa trupe que a apadrinha e a incentiva, achando que há uma espécie de direito natural que tudo torna legítimo e possível desde que sejam eles, e os deles, a exercer o poder.
Há nisto tudo uma mensagem subliminar muito perigosa. A de que vale tudo tornando-se tudo possível e aceitável para se exercer o poder. Ganhar custe o que custar. Depois, com a incredulidade do costume, não percebem porque se afastam e porque não se revêem as pessoas nos políticos. É importante lutar para ganhar? É, sem dúvida. Mas muito mais importante é ensinar-se a perder e a lidar com as derrotas. Os DDT da política não percebem isso. Olham só para o seu umbigo e esquecem que toda a gente está a olhar para eles. Depois queixem-se!
Deputado. Escreve à segunda-feira