Estudo. A crise da meia-idade existe mesmo

Estudo. A crise da meia-idade existe mesmo


Quando atravessamos os quarentas ficamos menos satisfeitos com a vida. 


Comecemos pelo que parece óbvio: ninguém gostará de fazer 40 anos. Os trintões, presume-se, já contam os anos, os meses e até os dias para chegar ao fatídico aniversário em que se despedem para sempre da juventude e entram na meia-idade. E não é para menos. É esta a fase em que andamos mais stressados, temos mais responsabilidades e encaremos os factos: começamos a sentir o peso da idade. Um estudo que será publicado esta semana na “Economic Journal” vem agora dar razão a todos estes sentimentos que inquietam os trintões: a crise da meia-idade existe mesmo. Mas nem tudo é mau: quando passamos esta fase, a felicidade volta à trajectória ascendente.

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Se já sentiu os sintomas desta crise, fica a saber que não está sozinho nem pode ser considerado caprichoso. É a etapa em que os quarentões pretendem sentir-se mais jovens e para tal é habitual que se vinguem na compra de objectos demasiado caros – como carros ou barcos –, precisamente devido a esta preocupação. A crise de meia-idade, conceito criado pelo psicanalista Jacques Elliott em 1965, pode ainda levar a consequências mais graves, como depressões desencadeadas pela culpa de não ter aproveitado todas as oportunidades ou, pelo contrário, a actos súbitos de coragem, que levam a tomar por fim as decisões que se andou a adiar.

Segundo o estudo da Universidade de Warwick, em Inglaterra, a nossa satisfação ao longo da vida tem a forma de um “U”. Passamos a explicar: o nosso contentamento começa bem no alto, uma vez que em geral somos felizes na infância. Só que tudo muda quando chegamos a adultos e, assim que pomos um pé fora da adolescência, começamos a ficar menos contentes. Depois é sempre a descer até à meia-idade. É entre os 40 e os 42 anos que batemos no fundo: “Os fardos recaem todos na meia-idade. Temos de tomar conta dos nossos filhos, dos nossos pais e de nós próprios. Estamos a trabalhar arduamente nos nossos empregos, os dias são longos e as nossas carteiras têm sempre de esticar”, explica o psicoterapeuta Phillip Hodson ao jornal britânico “The Guardian”.

Nestas idades, estamos na parte inferior do “U”. Para chegar a esta conclusão, o estudo acompanhou 50 mil adultos a viver na Austrália, na Grã-Bretanha e na Alemanha. As respostas dadas aos inquéritos apresentados pelos economistas Terence Cheng, Nick Powdthavee e Andrew Oswald permitiram chegar à conclusão que as pontuações mais baixas na satisfação com a vida ocorrem entre os 40 e os 42 anos, confirmando assim a existência da crise da meia-idade. “Ao seguir os mesmos homens e mulheres ao longo dos anos, mostramos que existe uma indicação em todos os países de que o nível de bem-estar dos seres humanos tem a forma de um U”, explicam os economistas. A investigação  revela também que a crise da meia-idade, além de ser transversal a todas pessoas independentemente do local onde nasceram ou vivem, também não está relacionada com a presença de crianças no agregado familiar, já que o padrão se mantém inalterado.

Mas nem tudo são más notícias. Se o nível de stresse já não pode piorar, só há um sentido a seguir: para cima. E quando a crise acaba é mesmo sempre a subir até aos 70 anos, em que atingimos de novo um pico: “A infância e a velhice são os momentos mais protegidos da vida. Há quem tome conta de nós em ambas as extremidades da existência e as nossas responsabilidades são menores”, justifica Phillip Hodson.

NÃO SOMOS OS ÚNICOS A crise da meia–idade não é exclusiva dos seres humanos. A curva da felicidade funciona da mesma forma – em “U” – para os símios. Um estudo de 2012, publicado na revista norte-americana “Proceedings of the National Academy of Sciences”, mostrou que também os chimpanzés e os orangotangos sofrem do mesmo mal. Para chegar a esta conclusão, os investigadores observaram 336 chimpanzés e 176 orangotangos em diversas fases da sua vida em jardins zoológicos e santuários do Japão, de Singapura, da Austrália e do Canadá.

E as idades em que esta crise se revela também é semelhante à dos humanos. Entre os 45 e os 50 anos os símios sofrem mais enquanto a felicidade diminui, mas, com a chegada da velhice, tudo melhora. O economista Andrew Oswald, também envolvido nesta investigação, concluiu que “a crise da meia-idade é real e existe nos nossos parentes biológicos, o que é provavelmente explicado pela biologia”.