A grupelha par(a)lamentar do Bloco de Esquerda (BE) tem vindo a provar ser, no nosso país, um perigo (e já estou a contar o PCP!) para o Estado constitucional – assente numa Constituição reguladora de toda a sua organização e da relação dos cidadãos de modo a limitar o poder – representativo –, por haver uma dissociação entre a titularidade e o exercício do poder – e de direito –, porque, para garantir os direitos dos cidadãos, se estabelece a divisão do poder e o respeito pela legalidade. Esta confraria trotskista, expoente máximo da democracia jacobina, não é bem um partido mas um grupo de teatro amador, com diversas tendências semi-incompatíveis no seu interior, o que justifica alguma da sua irresponsabilidade.
Ouvimos Catarina Martins, em Outubro, dizer “indigitar Passos é uma perda de tempo”. Uma proclamação sem preconceitos; não gostam do que está, tudo bem. Mas esta proclamaçãozinha, embebida em revolta e portadora do gosto de moralização da política tão bloquistamente característico, é perigosa se for lida em sintonia com a afirmação da deputada Mariana Mortágua (MM) no texto “Felizmente há luar”, publicado no JN. Nesta disparatada prosa, MM descreve o derrube do governo no parlamento como “um momento anedótico da situação política, fruto de um capricho de Cavaco”.
Parece que para estas senhoras o regular funcionamento dos órgãos constitucionais, legitimados nas urnas pelo povo é uma anedota. Gostaria que, num dos momentos de pausa do planeamento da Grande Revolução, abrissem a Constituição no artigo 187.o e 195.o, n.o 1, al. d) para comprovar a existência de uma anedota cuja finalidade é regular e limitar o exercício do poder, dos nossos órgãos constitucionais, no caso um pressuposto de legitimidade de qualquer governo. Mas, compreendo, isso já seria pedir muito a quem nas últimas semanas se porta como dona do país e da verdade. Malparada está a democracia se António Costa deposita todas as hipóteses de um governo seu sobreviver a uma legislatura num partido como o BE.
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