Mas sim, é possível, não se trata de ficção política nem de uma série televisiva. São imagens reais. Captadas e emitidas sem edição. É o horror em estado puro. Não que sejam novidade. Infelizmente nada é novo nesta brutalidade sem nome, que se concretiza à nossa frente em nome de “valores”, de “ideais” e que nada têm a ver com “valores” ou “ideais”.
O homem sempre se serviu da religião para impregnar de ódio mentes limitadas e facilmente manipuláveis. As lutas em nome da religião vêm de muito longe, vêm desde sempre, porque a religião não se explica, não se racionaliza, porque a religião vive de fé, de crença e estas permitem tudo. Em nome da religião, seja ela qual for, já se praticaram as maiores barbaridades, os massacres mais horrendos, e quase sempre o que está por detrás das matanças é a febre de poder, a ganância do lucro, e os “valores” são esses, os valores que se contabilizam em cifras, como as que agora tentam monopolizar o petróleo, entre outros fatores.
O comportamento patológico de certos seres, ditos humanos, para com os seus semelhantes revela a fragilidade do nosso equilíbrio e a facilidade como se pode manipular a conduta de alguns homens para se lançarem, sem remorsos, possivelmente com algum entusiasmo e alegria, na prossecução de tarefas horrendas. Indivíduos que consideramos fazerem parte da Humanidade, dela se excluem pela demência dos atos. Ao sentirem agitar à sua frente o mito do mártir por uma “causa”, envolvem-se em explosivos para se autoimolarem e arrastarem consigo outros que passam por perto e nada têm a ver com o que quer que seja. O fervor idiota de cumprirem uma missão divina leva-os a entrar de metralhadora em punho num recinto onde se realiza um concerto e matarem aleatoriamente quem pela frente encontram. A vida torna-se uma roleta russa para os habitantes das grandes metrópoles e é esse medo que os assassinos procuram insuflar no tecido social. Vão mais longe: alargar até à insensatez o ódio racial, levar as sociedades mais livres a perderem essa liberdade, a alienarem a razão, a radicalizar condutas, a transformar a civilização numa barbárie.
Os atentados de Paris, como outros em tantos locais do mundo, procuram sobretudo impor o terror. A vitória de quem os perpetra é globalizar a selvajaria. A sua derrota será combatê-los em todas as frentes e, principalmente, não ceder ao terror. Não ser ingénuo, mas não ceder ao radicalismo. Não pactuar com o irracional. Não nos deixarmos manipular, tal como eles o foram por outros. Não permitir que a religião seja o ódio. A religião, a existir, só pode ser amor e tolerância.