Ricardo Salgado. Pensão milionária não está garantida

Ricardo Salgado. Pensão milionária não está garantida


Supervisora das pensões considerou ilegal limitação imposta por Vítor Bento. Mas decisão cabe ao fundo que gere estes pagamentos.


Não é garantido que Ricardo Salgado passe a receber 90 mil euros por mês de pensão já a partir de Novembro. A decisão sobre se o ex-bancário vê a sua pensão triplicar – além de receber cerca de um milhão de euros em retroactivos, pelo tempo desde que deixou a presidência do Banco Espírito Santo – cabe à sociedade que gere o fundo de pensões, apesar de o presidente da entidade supervisora ter considerado ilegal a decisão de Vítor Bento de impor um limite nestes pagamentos.

A posição do presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) era peremptória. Citado pela TVI ainda na noite desta quarta-feira, José Almaça escrevia que, “face à inexistência de cabimento legal para não se garantir o pagamento dos benefícios previstos no plano de pensões em vigor (…), entendemos que não há razões para diferir o pagamento aos ex-membros da comissão executiva do Banco Espírito Santo (BES)”.

Na prática, os ex-administradores do BES teriam direito a receber uma pensão no valor definido ainda pela administração de Ricardo Salgado: cerca de 90 mil euros por mês, no caso do ex-presidente do banco. São dez os ex-administradores nesta situação e que poderão vir a beneficiar do parecer da ASF.

No entanto, o Banco de Portugal sugere aqui um parêntesis. Ao i, fonte oficial lembra que “quem tem a responsabilidade pelo pagamento das pensões relativas aos cargos de membros da administração são os respectivos fundos de pensões, de acordo com as respectivas regras dos mesmos”.

O regulador bancário sublinha ainda que “não podem ser transferidas para o Novo Banco as responsabilidades do BES perante administradores e perante ex-administradores cuja actuação tenha estado na origem das dificuldades financeiras do BES ou tenha contribuído para o seu agravamento”. Cabe, assim, ao “banco mau”, o BES, o pagamento destas pensões.

Neste momento, essa decisão está nas mãos da GNB Pensões – a tal sociedade onde estarão as pensões dos ex-administradores do BES, a que também se associou o Novo Banco. “Embora seja competência da ASF supervisionar e regular a actividade dos fundos de pensões, não é à ASF que compete responder pela observância” de como as pensões são pagas, esclareceu ontem a supervisora.

caução de 1,5 milhões A braços com dois processos judiciais – Monte Branco e UniversoEspírito Santo –, e com duas cauções a pender sobre si, Ricardo Salgado está neste momento a 1,5 milhões de euros de poder pôr termo à prisão domiciliária decretada em Julho pelo juiz de instrução.

Foi precisamente Carlos Alexandre quem ontem acertou contas aos processos do ex-presidente do BES. Depois de reduzir para metade – de três milhões para 1,5 – a caução do processo Monte Branco, ontem, o juiz do Tribunal Central de InstruçãoCriminal deu nova abertura a Salgado: a metade da caução que passou a estar em excesso, naquele processo, pode ser reaplicada, de forma a pagar a caução decretada no âmbito do “UniversoEspírito Santo”.

Foi a própria Procuradoria-Geral da República (PGR) quem clarificou o resultado final das contas. “O juiz notificou o arguido para que proceda à entrega do remanescente valor de 1,5 milhões de euros a fim de que a caução, uma vez prestada na totalidade, possa vir a ser julgada válida”, referia uma nota divulgada ao final da tarde.

Salgado é investigado por corrupção, burla, fraude fiscal, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e falsificação informática.