Começa a ser claro para todos que, ainda que Costa venha a formar governo, que o entendimento entre PS, BE e PCP é pura ficção. Por uma razão muito simples. Nenhum deles, talvez aqui com alguma injustiça para o Bloco, quer abdicar da sua identidade histórica e das principais linhas programáticas proclama. Já se percebeu que com estas premissas o “acordo” é causal e deita por terra a formação de um governo com “condições reais e credíveis de durar a legislatura”.
O cúmulo desta negação é a existência de três acordos distintos que não se cruzam e que nalgumas medidas até são divergentes. Isto significa, portanto, que não há nada. Da mesma forma que três derrotados não fazem um vencedor, três acordos não fazem um. Um acordo que garanta ao país a estabilidade económica e política necessária para fazer frente aos desafios naturais de quem passou pelo terceiro resgate financeiro nos últimos 40 anos.
Se no filme, Alex poupou a mãe da trágica notícia da queda do comunismo por cá Costa quer fazer-nos crer da viabilidade de um cenário de estabilidade governativa sem a existência de um compromisso claro, inequívoco e comum.
Chegará o dia em que tudo ruirá. O dia em que as culpas serão atiradas de uns para os outros e em que se provará que o motor disto tudo foi a curta sobrevivência pessoal de uns e o aproveitamento situacionista e vingativo de outros. O dia em que uma boa ficção se cruzará com uma péssima realidade. E aí provavelmente voltará a ser tarde de mais.
Deputado. Escreve à segunda-feira