Sporting. Um guia de apostas furadas

Sporting. Um guia de apostas furadas


Leões tiveram noite para esquecer e aos 19’ já perdiam por dois e jogavam com dez. Apuramento fica mais complicado.


O Sporting-Skënderbeu entrou na lista de suspeitas da Federbet. A empresa conhecida por combater a manipulação de jogos estranhou a evolução das probabilidades de os golos aumentarem à medida que o jogo avançava, quando o mais habitual é acontecer precisamente o oposto. Para Francesco Baranca, secretário-geral da entidade, essa era uma das situações que iam contra a lógica das casas de apostas.

Há outra lógica que costuma ser seguida: a vitória do favorito rende menos dinheiro ao utilizador. E o Sporting, após a goleada em Alvalade, partia novamente nessa condição. Apesar de ser pentacampeão da Albânia, o Skënderbeu não deixava de ser uma equipa vulnerável e teoricamente inferior à portuguesa. E os leões, mesmo que Jesus tenha promovido muitas alterações em relação à vitória sobre o Estoril, só mexeu em dois jogadores quando comparado com a última jornada da Liga Europa. Aquilani e André Martins deram lugar a Adrien Silva e Tanaka, o resto manteve-se igual. 

O Skënderbeu encontrou tantos buracos na lógica do favoritismo como num queijo suíço. A noite emElbasan foi uma sucessão de erros e a única boa notícia chegou duas horas antes, com o empate desejado por Jesus na Turquia, entre Besiktas e Lokomotiv, a acontecer mesmo. Só que ficou por aí, não houve mais. Quando Kristo Tohver apitou para o início, inaugurou também uma espiral de acontecimentos negativos que envergonharam o Sporting e deixaram-no encostado às cordas na luta pelo apuramento.

O ataque não existiu. Tanaka jogou ao lado de Montero mas foi obrigado a sair antes de poder ter uma oportunidade para mostrar trabalho. Estavam decorridos 19 minutos. Com 14’, Lilaj cumpriu o primeiro acto, inaugurando o marcador depois de uma defesa de Rui Patrício para a frente. Montero teve uma ténue reacção no minuto seguinte mas a notícia mais relevante foi a seguinte, quando o guarda-redes português travou Latifi dentro da área depois de um mau atraso. Cartão vermelho, entrada de Marcelo Boeck e bis de Lilaj. Era o segundo acto.

O Sporting não conseguiu sair para o ataque. Bruno Paulista jogou pela primeira vez ao lado de Adrien Silva mas foi engolido na construção. Além da desinspiração evidente, começou por ser ignorado pela dupla de centrais, que não lhe dava espaço para assumir a responsabilidade, e depois sofreu o mesmo tratamento de Adrien. O brasileiro era uma das dez almas perdidas no relvado e o corpo não respondia. O instinto de sobrevivência tentou fazer alguma coisa e subiu uns metros no terreno, para compensar. Jesus pareceu gostar – disse que foi o único que não mereceu perder – mas continuou a ser muito insuficiente.

O orgulho ferido do Skënderbeu por culpa das suspeitas da Federbet fez o resto. Agressiva em campo, a equipa albanesa continuava a provocar calafrios. O guarda-redes Shehi era um mero espectador (e as bancadas, quase desertas, bem precisavam de mais) e o ataque continuou atrevido à procura de aumentar a proporção do escândalo contra uma equipa assumidamente derrotada.

A segunda parte prolongou o pesadelo. O inevitável puxão de orelhas de Jorge Jesus, a existir, caiu em saco roto. O Sporting pálido e entorpecido manteve-se o mesmo, e só Bruno Paulista tentou a sorte aos 49 minutos. Mas teve azar, e o leque de apostas furadas e más notícias estava longe de terminar. O esboço de uma possível reacção ainda estava no ar, mas a oferta de Marcelo Boeck aos 56 minutos, depois de novo atraso, confirmou que não era mesmo a noite dos leões. Nimaga recolheu o mau passe do brasileiro e fez um chapéu. Terceiro acto.

O resultado não sofreu mais alterações mas a espiral negativa continuou. Pouco tempo depois de o sistema de rega ter decidido entrar em acção – acidente ou provocação? – Ewerton forçou Jorge Jesus à terceira substituição, saindo com problemas físicos. Mais impressionante do que a derrota por três golos é reparar que André Martins,Gelson e Slimani não tiveram sequer a oportunidade de sair do banco.

O Sporting continua a depender apenas de si mas sai da Albânia com uma derrota que tem mais de humilhante do que de pesada. Mais do que os 3-0 em Basileia em 2012 e com o Viking em 1999.