O coletivo de juízes que está a julgar o processo 'Face Oculta' vai ouvir esta semana o depoimento de dez motoristas que trabalham ou trabalharam para o empresário das sucatas Manuel Godinho, o principal arguido no caso.
Os cinco primeiros serão ouvidos na terça-feira, a partir das 09:30, e os restantes cinco serão ouvidos na quarta-feira.
Trata-se de oito funcionários da empresa de transportes Riberlau, que pertence a Manuel Godinho, e outros dois que trabalharam para esta empresa, mas que foram, entretanto, despedidos.
Os depoimentos destes últimos são aguardados com expectativa, pois durante a investigação, ambos reconheceram que haveria ilegalidades nas empresas do sucateiro que está acusado de corrupção, associação criminosa e tráfico de influências, entre outros crimes.
As duas testemunhas relataram aos inspetores da Polícia Judiciária (PJ) alguns casos que aconteceram em instalações da Refer, REN, Petrogal e Lisnave e onde terá havido a adulteração do peso dos resíduos recolhidos e a subtração e apropriação de resíduos nobres como se de ferrosos se tratassem.
Uma das situações relatadas, quando prestaram depoimento na PJ, tem a ver com a retirada de sucata ferrosa constituída por carril e material de fixação, que ocorreu na estação de Caria, em Belmonte, em 2009.
Uma das testemunhas disse que as viaturas foram carregadas com carga "muito superior ao limite legal permitido", mas quando eram colocadas na balança, apercebeu-se que os eixos não estavam a ser totalmente pesados, o que levava a que o peso nos talões de pesagem fosse inferior ao do material transportado.
A mesma testemunha declarou ainda que quem lhe dava instruções para posicionar a viatura na balança era o próprio Manuel Godinho e admitiu que era frequente não pesar os eixos na totalidade para adulterar as pesagens.
Só neste caso, os investigadores concluíram que a empresa de Manuel Godinho terá tido um benefício patrimonial de mais de 66 mil euros, causando um prejuízo à Refer naquele valor.
Um dos motoristas referiu ainda que quando transportava cargas de resíduos metálicos, Hugo Godinho, coarguido no processo, dava instruções para que os camiões fossem carregados com o máximo de carga possível e, quando transportava resíduos não valorizáveis, recebia instruções para que o operador da máquina carregasse apenas duas ou três pás de terra.
As testemunhas disseram ainda que o sobrinho de Manuel Godinho advertia os motoristas para não conversarem com os trabalhadores das empresas onde iam carregar materiais, sobretudo no que dizia respeito ao peso das cargas.
Um outro caso relatado também aconteceu em 2009, no parque de sucatas da Petrogal, em Sines, e tem a ver com a retirada e transporte de resíduos nobres, nomeadamente materiais em cobre e alumínio, como se de ferrosos se tratassem.
O método utilizado, neste caso, passaria por carregar primeiro os materiais de maior valor, cobrindo-os com aqueles de valor inferior.
Segundo a acusação, Manuel Godinho terá tido, neste caso, um benefício de mais de 700 mil euros, causando um prejuízo à Petrogal de idêntico montante.