Ernesto de Sousa vai ser lembrado no Museu de Serralves, no Porto, com uma reinterpretação de "Almada um nome de guerra", "Nós não estamos algures" e da exposição "Alternativa Zero", momentos cruciais de uma figura da arte do século XX.
Entre sábado e 26 de agosto, a antiga moradia do Conde de Vizela, na Fundação de Serralves, vai estar habitada pela memória do crítico, divulgador de arte, cineasta e investigador José Ernesto de Sousa (1921-1988), que, nas palavras do diretor artístico do museu, João Fernandes, "começa a abrir outros caminhos para as práticas artísticas em Portugal em finais da década de sessenta [do século XX]".
Em "Nós não estamos algures" e "Almada um nome de guerra", que hoje à noite vão ser reinterpretados, acompanhados de uma exposição documental, vai ser possível reviver o papel que Ernesto de Sousa teve em abrir portas a uma nova forma de encarar a arte com "a interação entre vários géneros e suportes artísticos", explicou à Lusa João Fernandes.
"Vai ser ele que vai confrontar-se com a arte contemporânea, com uma arte conceptual onde o processo é tão ou mais importante do que o resultado, uma arte em que o cinema passa a ser um suporte e não um objetivo, onde a fotografia passa quase a uma espécie de arquitetura, a partir do momento em que é projetada nos espaços, onde o texto salta para as paredes e para as voz das pessoas, onde a relação entre artes visuais e artes preformativas se vai tornar indistinguível", acrescentou.
Simultaneamente, o Museu de Serralves regressa àquela que foi a sua primeira exposição, em 1997, ainda no espaço da Casa, "Alternativa Zero", uma recriação da importante exposição organizada por Ernesto Sousa em 1977, onde figuram nomes como Ângelo de Sousa, André Gomes, Julião Sarmento, Fernando Calhau, Ernesto Melo e Castro, Manuel Casimiro ou Noronha da Costa. Uma exposição inteiramente baseada na coleção da fundação, com muitas obras presentes na exposição original.
Em "Alternativa Zero", Ernesto de Sousa "reuniu muitos dos artistas que tinham surgido na vanguarda nos anos 1960 e 1970, numa exposição em que os apresenta ao grande público, que, depois do 25 de Abril, já podia ver uma exposição em liberdade", recordou João Fernandes.
Mas a organização de exposições ou de momentos artísticos foi só mais um capítulo de uma biografia que marca a vida artística em Portugal durante o século XX. Ernesto de Sousa foi um dos mais importantes críticos de arte neorrealista, um divulgador da cultura popular que deu a conhecer artistas como Franklin ou ajudou a divulgar Rosa Ramalho, fundador do movimento cineclubista em Portugal, com a criação do primeiro cineclube em Portugal em 1943, o Circulo de Cinema ou ainda protagonista do novo cinema português, ao realizar "Dom Roberto", com Raul Solnado, premiado em Cannes em 1963.