“Quatro Bolas de Ouro! Quatro Bolas de Ouro!” José Mourinho destaca a capacidade de Portugal para formar grandes talentos no futebol mas o futuro não parece estar disposto ao aparecimento de mais talentos. Luís Figo e Cristiano Ronaldo foram os últimos jogadores a conquistar o troféu e em comum têm a posição de origem: são extremos. Se as Bolas de Ouro não chegam a ser uma tradição no verdadeiro sentido da palavra, o mesmo não se pode dizer sobre a tendência para a selecção ter as grandes estrelas da equipa nessa posição.
José Augusto e António Simões são dois dos pioneiros mas a partir dos anos 80, nunca mais Portugal esteve órfão nas alas. Fernando Chalana estreou-se ainda na década anterior, em 1976, e desde então a formação do Sporting assumiu protagonismo com Futre-1983, Figo-1991, Simão-1998, Quaresma-2003, Ronaldo-2003 e Nani-2006.
Os últimos tempos marcaram uma crise profunda na posição. Silvestre Varela e Yannick Djaló foram os últimos a estrear-se mas não oferecem as mesmas garantias. Feitas as contas, já passaram quase seis anos desde a estreia do jogador do Manchester United – 1 de Setembro de 2006 com a Dinamarca – e começa a pairar a ameaça de se atravessar a maior hiato no aparecimento de uma estrela desde a estreia de Chalana.
Os 27 anos de Ronaldo e os 25 de Nani garantem soluções pelo menos até ao Mundial-2014 mas depois disso, o futuro poderá estar em risco. Pedro Caixinha, treinador do Nacional, encara a mudança com naturalidade, lembrando a evolução que o jogo está a sofrer, com as equipas a procurar mais o jogo interior do que recorrer a extremos de raiz, apontando o estilo espanhol como exemplo máximo. Desafiado a apontar um eventual sucessor, Caixinha aposta na prata da casa: “Trabalho diariamente com ele e acredito que o Candeias [24 anos] possa vir a surgir nesse campo.”
Mais críticos Daúto Faquirá e Manuel Cajuda mostram-se mais preocupados com este período de seca e apontam razões estruturais relacionadas não só com a formação mas também com a aposta das equipas seniores. Faquirá recusa-se, no entanto, a isolar a posição. “É algo que também já está a acontecer noutros sectores, como na posição 10 ou na 9, onde o Postiga está longe de ser um nome consensual”, afirma, acrescentando que “o trabalho que se está a fazer na formação baseia-se na formatação dos jogadores, retirando espaço para o futebol com alguma anarquia, aquele futebol de rua que se identifica em jogadores como Nani e Quaresma.”
Manuel Cajuda vai mais longe e avança com a ideia do “resultado final”, em que as equipas só se preocupam com o presente imediato e começam a descurar o futuro. “Nada acontece por acaso. Agora fala-se de extremos, depois vai começar a conversa dos laterais, e depois cada vez se vai falar mais sobre mais coisas.” Para o antigo treinador da União de Leiria, mesmo Ronaldo e Nani já fogem um pouco ao conceito de verdadeiros extremos, como eram Simões, José Augusto, Chalana, Futre ou Jaime Magalhães.
Uma eventual mudança de fundo no sistema táctico da selecção, abdicando dos extremos para passar a alinhar com quatro médios, também não será a solução, garante Cajuda: “Os médios que terão de jogar mais por fora continuarão a não ter as características necessárias para desempenhar o lugar.” E concorda com Faquirá sobre as condicionantes que a formação está a exercer sobre a talento e a criatividade. “Está a assistir-se a um duelo entre formação e as ‘campeonites’. Os projectos de treinadores estão a ignorar o futebol de rua e a preocupar-se apenas com o rigor táctico, esquecendo a formação técnica”, critica. E para Cajuda, solução só mesmo “se se for buscar algum jogador ao Brasil ou à Argentina”.
Wilson Eduardo é outro dos nomes falados, depois de uma boa época no Olhanense, mas Cajuda não lhe prevê um grande futuro em Alvalade. “Não se dá hipótese aos jogadores. Como é que se vão convencer os adeptos de que agora é para tirar o Capel?”, interroga. De uma forma ou de outra, a estreia de Nani já foi há 2134 dias. O tempo está a esgotar-se e os olhos por agora estão todos postos no Europeu de sub-19, onde Bruma e Ricardo Esgaio foram os extremos titulares contra a Estónia.