Viajar com a Dream Team é como andar com 12 estrelas de rock atrás. “Como o Elvis e os Beatles juntos”, costumava dizer Chuck Daly. Em 1992, os EUA tinham o melhor campeonato do mundo e quiseram mostrá-lo nos Jogos Olímpicos de Barcelona. Daly, o treinador nacional, juntou as estrelas da NBA e apresentou em Espanha a melhor equipa de sempre. Havia Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird, Charles Barkley e muitos outros. Mas engane-se quem pensa que foram os dribles e os afundanços que escreveram os capítulos desta história.
Durante largas horas, milhares de pessoas esperam no aeroporto pelos rostos que se habituaram a ver apenas na televisão. À sombra, os termómetros marcam 35 graus. O primeiro a aparecer no terminal é Magic Johnson, o mais popular da constelação. A multidão berra, mas é impossível chegar à Dream Team e muito menos conseguir um autógrafo. O forte dispositivo de segurança conta com a colaboração das autoridades norte-americanas, diferentes forças espanholas e até um helicóptero. Nessa noite, as estrelas da NBA, que pela primeira vez estão autorizadas a participar nos Jogos, não dormem na aldeia olímpica. Nas noites seguintes também não. À porta do hotel, para receber a comitiva norte-americana, está montado um circo de flashes e câmaras de televisão. Dentro do edifício, a Nintendo prepara uma sala de jogos para que ninguém se aborreça um único instante em Barcelona.
A primeira actuação de luxo acontece na sala de conferências, para uma audiência de 1500 jornalistas eufóricos. Querem levar o ouro para casa, contam sem surpresa. Magic Johnson apela aos infectados com sida para que levantem a cabeça (como também ele fez) e ponham os olhos nas vitórias que vai coleccionando. Michael Jordan exalta o orgulho nacional. Karl Malone diz que não podem voltar para casa sem a medalha ao pescoço. Estão todos obcecados pelo êxito. Pensam que são invencíveis, e são mesmo.
Na estreia, frente à frágil selecção de Angola, vencem por 68 pontos. Levitam, deslizam e parecem soldados num campo de batalha quando marcam homem a homem. Não dão hipótese aos adversários, que afinal também estão a viver um sonho. Qualquer jogador encarregue de marcar Magic Johnson é frequentemente apanhado a acenar freneticamente para as máquinas fotográficas da plateia.
Com o passar dos dias, a Dream Team torna-se cada vez menos idílica pela falta de competitividade das partidas. Em Barcelona, os norte-americanos vencem todos os jogos (Angola, Brasil, Espanha, Alemanha, Porto Rico, Lituânia e Croácia) com uma média de 43,8 pontos de vantagem. Quando não estão no campo, dividem-se entre acções de solidariedade e eventos públicos – jogos de golfe ou partidas de basquetebol com a equipa da polícia. Só na final, frente à Croácia, é que não jogam com a mesma descontracção com que haviam passeado no dia anterior pelas ruas de Badalona, onde mora o Pavilhão Olímpico.
REFINADAS HABILIDADES A final, já se sabe, fica resolvida muito antes de Barcelona abrir as portas aos Jogos, no dia em que a FIBA (Federação Internacional de Basquetebol) autoriza as estrelas da NBA a participarem na competição. Ainda assim, para levarem o ouro para casa, os norte-americanos são obrigados a exibir o reportório das refinadas habilidades que fazem deles um mito. Magic e Jordan não desiludem. Os croatas adiantam-se no marcador e resistem durante os primeiros 10 minutos, depois acabam rendidos ao ritmo impressionante da constelação – dez estão na lista da NBA dos “50 Melhores Jogadores de Sempre”. A selecção de Drazen Patrovic é uma digna derrotada, numa final com vencedor anunciado.