Educação. Quando a faculdade é uma nova oportunidade


Não são assim tão poucos aqueles que, por alguma razão, interromperam os estudos e só muitos anos depois os retomaram, aproveitando os dispositivos criados pelo Estado: 86 mil portugueses fizeram-no nos últimos seis anos. E há dois exemplos bem actuais, que são o do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e daquele que é considerado o seu…


Não são assim tão poucos aqueles que, por alguma razão, interromperam os estudos e só muitos anos depois os retomaram, aproveitando os dispositivos criados pelo Estado: 86 mil portugueses fizeram-no nos últimos seis anos. E há dois exemplos bem actuais, que são o do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e daquele que é considerado o seu número dois no governo, o ministro Miguel Relvas. Não estamos a falar das Novas Oportunidades, programa que o actual governo extinguiu, mas sim do regresso à universidade, para terminar aquele curso superior interrompido pelas lides politicas, seguidas de uma vida profissional que deixa pouco tempo para voltar às salas de aula.

De todos os casos de figuras públicas com quem o i falou, ficou um argumento transversal de que tirar um curso universitário perto da chamada meia-idade serve principalmente imperativos de “contínua valorização curricular”, como referiu, por exemplo, Miguel Relvas. No seu caso, o voltar aos bancos da universidade (ver texto ao lado) foi também motivada “pela exigência pessoal” e “por gostar de matérias académicas relacionadas com a política”.

Relvas pode ser um bom exemplo para explicar por que há tantas figuras ligadas à política que adiaram o percurso académico – como António José Seguro (PS), José Sócrates (PS), Hermínio Loureiro (PSD), Miguel Coelho (PS), Manuel Monteiro (o ex-líder do CDS, que ainda em Abril deste ano defendeu a sua tese de doutoramento), Carvalho da Silva (ex-CGTP, hoje professor universitário).

Seguro, por exemplo começou por frequentar nos anos 80 o curso de Organização e Gestão de Empresas, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, mas acabou por licenciar-se em Relações Internacionais, na Universidade Autónoma de Lisboa, após terminar o mandato de eurodeputado em 2001. Hoje é professor da mesma universidade leccionando as disciplinas de Teoria do Estado e História das Ideias Políticas e Sociais, frequentando ainda o mestrado em Ciência Política.

O seu camarada Miguel Coelho “suspendeu os estudos” depois de ganhar o gosto pela vida política “como dirigente estudantil”. O deputado que entrou para a universidade aos 54 anos, admite que tirou “o curso já no fim da vida biológica como político”, isto é, “não tinha quaisquer expectativas em termos de carreira ao tirar o curso”. Foi movido pela “curiosidade intelectual”, “pela necessidade de sistematizar conhecimentos” e de aprender “muitas coisas novas” que Miguel Coelho decidiu tirar Ciências Políticas e Relações Internacionais na Universidade Lusófona, o mesmo curso de Relvas.

Também Carvalho da Silva, que deixou de liderar a CGTP após 25 anos como secretário-geral, regressou à “vida civil” munido do curso de Sociologia, iniciado em 1995 e terminado em 2000, conseguindo, sete anos depois, concluir o doutoramento em Sociologia “nas vertentes económicas e laborais”. As razões para a incursão universitária do sindicalista prendem-se com “a aquisição de competências e de conhecimento, o que são coisas diferentes”, explicou, acrescentando que o curso lhe “propiciou uma arrumação dos saberes adquiridos”.

Já o actual presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis e vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, o social-democrata Hermínio Loureiro, tirou o curso de Gestão de Empresas. “Por uma questão de valorização pessoal e curricular: achei que devia terminá-lo”, diz. Loureiro tinha começado o curso no Porto, mas em 1988 interrompeu-o por causa do serviço militar obrigatório, tendo seguido a vida profissional no ramo dos seguros e, só depois, a vida política. À custa das equivalências reconhecidas, Hermínio Loureiro demorou um ano a concluir esta nova etapa, na Universidade Independente, “antes das polémicas com Sócrates”, frisa.

Por sua vez, o treinador do Sporting, Ricardo Sá Pinto, foi um licenciado tardio, ao concluir o curso de Comunicação Empresarial, em 2010, com 37 anos. Segundo Sá Pinto afirmou, então, “voltar à vida académica foi difícil”, pois “os meios de hoje são diferentes e muito mais exigentes”.