A próxima edição do festival DocLisboa, em outubro, pretende ser "um momento de celebração de cinema", mas também um "lugar de reflexão" sobre o papel do documentário numa época de transformações sociais, defendeu hoje a nova direção.
A décima edição do festival, hoje apresentada, terá duas novas secções, sendo uma delas – "Cinema de Urgência" – focada no documentário que "vai testemunhar os acontecimentos de forma muito direta e implicada", explicou Susana de Sousa Dias.
É uma secção não competitiva que mostrará o cinema como "ato de cidadania", quando as pessoas pegam numa câmara e filmam o que se passa à sua volta, referiu a realizadora que integra a nova direção, dando como exemplo os filmes que foram feitos na "primavera árabe", na Grécia ou – num registo mais próximo – na ocupação da escola da Fontinha, no Porto.
A outra secção nova do DocLisboa, intitulada "Verdes Anos", será dedicada à produção de cinema documental nas escolas, "dando voz e visibilidade aos cineastas ainda em formação", referiu Cinta Pelejà, outra das diretoras do festival.
A próxima edição do festival terá uma direção partilhada entre quatro pessoas: Susana de Sousa Dias, Ana Jordão, Cinta Pelejà e Cíntia Gil.
"Assumimos como um coletivo de trabalho com uma determinada forma de pensar, de operar, assumindo que esta forma coletiva de trabahlar é também uma proposta política", afirmou Susana de Sousa Dias.
Mantêm-se as competições nacional e internacional de curtas e longas-metragens, as secções "Riscos", "Investigações" e "Heart Beat".
Este ano, nas retrospetivas, uma delas será dedicada à realizadora belga Chantal Akerman, que questiona a relação do documentário com outras artes, e outra será focada no cinema coletivo feito a partir das convulsões sociais e políticas de maio de 1968, comissariada pelo crítico italiano Federico Rossin.
"Estamos muito cientes que o cinema e o documentário devem ser pensados na sua vertente artística, mas também política. Estamos num momento de crise internacional, crise nacional e estamos muito atentas ao lugar do documentário nestes momentos tão particulares", referiu Susana de Sousa Dias.
A nova direção referiu que um dos momento particulares é o atual estado do cinema português – quando se aguarda a aprovação de uma nova lei- e que "existe um ataque ideológico" à ideia de que o Estado deve apoiar a cultura, referiu Cíntia Gil.
O DocLisboa decorrerá de 18 a 28 de outubro e a programação completa será apresentada na íntegra em setembro.
Este ano o orçamento será 20 por cento mais baixo do que na edição anterior, mas a organização – a cargo da associação Apordoc – procura ainda parceiros.