Congresso das Alternativas com o apoio de Soares mas sem objectivos de federar a esquerda


O Congresso Democrático das Alternativas, que procura apresentar uma via diferente para as políticas do país, conta com o apoio do ex-Presidente da República Mário Soares, mas recusa constituir-se como um embrião de uma "frente de esquerda". Estas posições foram transmitidas aos jornalistas pelo ex-secretário de Estado de António Guterres e atual diretor da Faculdade…


O Congresso Democrático das Alternativas, que procura apresentar uma via diferente para as políticas do país, conta com o apoio do ex-Presidente da República Mário Soares, mas recusa constituir-se como um embrião de uma "frente de esquerda".

Estas posições foram transmitidas aos jornalistas pelo ex-secretário de Estado de António Guterres e atual diretor da Faculdade de Economia de Coimbra, José Reis, no final de uma reunião desta plataforma de correntes de esquerda, que se reunirá em congresso a 05 de outubro e que se destinou a eleger a comissão organizadora desse mesmo congresso das alternativas.

O Congresso Democrático das Alternativas tem entre os seus promotores o ex-secretário-geral da CGTP-IN Carvalho da Silva, assim como deputados da ala esquerda do PS e dirigentes do Bloco de Esquerda.

"Este congresso não será um embrião de nada em matéria organizativa da esquerda, sendo antes um congresso em que será apresentado um conjunto de ideias, uma base programática e uma discussão para que o país disponha de alternativas. A nossa posição firme, convicta, resoluta e assente entre todos é que não há neste movimento qualquer intenção [em termos de organização de corrente política], visando isso sim gerar um programa de alternativa", acentuou José Reis.

O ex-secretário de Estado do segundo executivo de António Guterres e ex-mandatário da candidatura presidencial de Manuel Alegre referiu depois que o ex-chefe de Estado Mário Soares conhece o documento do seu movimento "e apresentou a sua consonância com as ideias expressas".

"É uma das autoridades da democracia portuguesa que está em convergência", disse.

Questionado sobre a ausência de dirigentes do PCP neste movimento, o diretor da Faculdade de Economia de Coimbra disse que respeita a posição desse partido.

"O PCP conhece o nosso documento e [a ausência] não nos suscita nenhuma questão", respondeu José Reis.

Interrogado sobre quais os objetivos do movimento em relação ao memorando da ‘troika' (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional), José Reis referiu que esse compromisso assinado pelo Estado Português "gera desastre e tem como única finalidade empobrecer o país".

"Vamos denunciar o memorando e dizer que o programa que apresenta não é, longe disso, a única possibilidade. As ideias de via única são erradas e são totalitárias sobre as pessoas, empresas e país. Na Europa, as alianças não são meramente geográficas, embora os países periféricos tenham uma posição importante, são também alianças de ideias e de programas. Já vimos isso com as eleições presidenciais francesas, com as eleições gerais gregas e veremos isso naquilo que for expresso nas eleições regionais da Alemanha", apontou o professor universitário.

A psiquiatra Manuela Silva disse que o congresso apresentará documentos em concreto com propostas em concreto nas áreas das finanças públicas, União Europeia, economia e áreas sociais.

"Serão propostas de um caminho alternativo", salientou Manuela Silva.

Já a antiga mulher do escritor José Saramago, Pilar del Rio, disse aos jornalistas que está no movimento como forma de combate cívico "à atual situação de crise económica e moral".

"Todas as iniciativas cívicas para combater a situação em que nos encontramos são importantes e esta, em concreto, é muito interessante", declarou.

Também entre os subscritores do movimento está o advogado Ricardo Sá Fernandes, que foi secretário de Estado do segundo Governo liderado por António Guterres.

"Sai desencantado desse Governo e nos últimos dez anos não tenho possuído qualquer atividade política, mas há momentos em que temos dizer qualquer coisa. Estamos a viver uma situação gravíssima em Portugal, de apatia, resignação e falta de rumo que nos obriga a sair do conforto e a avançar", declarou.

Ricardo Sá Fernandes considerou depois que os portugueses têm de dizer "não" à opção seguida pelo Governo, que "já se sabe hoje constituir um desastre".

"A opção pela completa subordinação a estratégias internacionais que esquecem os interesses dos países periféricos tem de ser rejeitada", frisou o advogado.