1996. Alemanha vs. Rep. Checa. Esta Monika sabe o que faz


Berti Vogts, primeiro homem a perder uma final do Europeu como jogador (1976) e seleccionador (1992). Berti Vogts, outra vez, primeiro homem a ganhar uma final do Europeu como jogador (1972) e seleccionador (1996). Quem é alemão, arrisca-se a entrar na história – mesmo que só à segunda tentativa. Veja-se o caso de Franz Beckenbauer,…


Berti Vogts, primeiro homem a perder uma final do Europeu como jogador (1976) e seleccionador (1992). Berti Vogts, outra vez, primeiro homem a ganhar uma final do Europeu como jogador (1972) e seleccionador (1996). Quem é alemão, arrisca-se a entrar na história – mesmo que só à segunda tentativa. Veja-se o caso de Franz Beckenbauer, primeiro homem a perder uma final do Mundial como jogador (1966) e seleccionador (1986) e também o primeiro a ganhá-la nessa dupla condição (1974-1990).

Falámos de 1966 e vale a pena explorar esse ano, o do Mundial em Inglaterra. Ganho pelos anfitriões numa final com a então RFA, só decidida no prolongamento (4-2). Trinta anos depois, o futebol volta a casa (é esse pelo menos o slogan do Euro-96) e Wembley acolhe de novo a partida decisiva. Na tribuna VIP, a Rainha Isabel II chega a tempo e horas, como há 30 anos, mas já sabe de antemão que não vai entregar a taça aos seus compatriotas. Simplesmente porque a Inglaterra não entra nestas contas. Eliminados pelos alemães nos penáltis das meias-finais, os ingleses ainda estão deprimidos quando o árbitro italiano Pierluigi Pairetto apita para o fim do encontro ao 95.º minuto. Noventa e cinco, mas como 95?

É uma invenção (inovação?!) chamada morte súbita: quem marca, ganha. E os alemães não perdoam, através do suplente Oliver Bierhoff, que substitui Mehmet Scholl aos 69 minutos. Por essa altura, já os checos ganham 1-0, cortesia de um penálti cavado por Karel Poborsky e transformado por Patrik Berger (59’). Sem alaridos nem protestos, a Alemanha avança no campo à procura do empate. Aos 73’, um livre de Christian Ziege apanha Petr Kouba indeciso e Bierhoff cabeceia à vontade (1-1).

No último minuto, os checos falham o 2-1. O avançado Vladimir Smicer, que se casara há 48 horas em Praga, com a permissão do seleccionador Dusan Uhrin, vê o seu remate ser desviado superiormente por Andreas Köpke. Vamos ter prolongamento. Que só demora cinco minutos. Cortesia Kouba. O guarda-redes checo tem a trajectória da bola controlada mas deixa-a escapar por entre as mãos, após um remate em esforço de Bierhoff à entrada da área. Já vencedor do jogo na fase de grupos (2-0), a Alemanha repete o triunfo sobre a recém-criada República Checa, que eliminara Portugal nos quartos-de-final com o chapéu de Poborsky e a França nos penáltis das meias-finais.

No campo, a frustração dos checos é evidente (há até protestos de alguns jogadores porque um dos bandeirinhas assinala fora-de-jogo posicional de Kuntz no 2-1), tal como a alegria dos tricampeões europeus. Será Bierhoff o herói e Vogts o visionário? Um pouco dos dois mas sobretudo a voz da consciência de Monika Vogts. Quem? A mulher de Berti.

De férias em Veneza antes do Euro-96, Berti está com a cabeça na lua. Um cêntimo pelos seus pensamentos. Há dúvidas quanto à convocatória do terceiro avançado. “Leva o Bierhoff, ele recompensar-te-á.” Moral da história: Monika é que devia entregar a taça, e não a Rainha Isabel II.