Itália. Um polvo à Balotelli, se faz favor


Podem repetir, se faz favor? Quando Itália e Espanha jogam aquele pingue-pongue no dia 10 de Junho, há quem julgue que o mérito é sobretudo espanhol pelo tiki-taka. Passa-se a fase de grupos, entra-se nos quartos-de-final e aí o Itália-Inglaterra é um regalo para os olhos. Agora, o Itália (sempre ela!)-Alemanha de tirar a respiração.…


Podem repetir, se faz favor? Quando Itália e Espanha jogam aquele pingue-pongue no dia 10 de Junho, há quem julgue que o mérito é sobretudo espanhol pelo tiki-taka. Passa-se a fase de grupos, entra-se nos quartos-de-final e aí o Itália-Inglaterra é um regalo para os olhos. Agora, o Itália (sempre ela!)-Alemanha de tirar a respiração. Que jogo de bola, que adeptos, que Cassano, que Balotelli, que adeptos, que tudo. Até o próprio estádio sente o calor da emoção e destapa-se – a cobertura, salvo seja. A segunda parte é a céu aberto, oportunidade ideal para os jornalistas alemães mastigarem cigarros atrás de cigarros de tão impacientes com a falta de ordem da mannschaft. Já é tarde para voltar atrás.

A Alemanha começa frenética, ao ataque. Pirlo impede o golo de Hummels na sequência de uma saída mal calculada de Buffon num canto (5’) e Chiellini afasta para canto uma combinação tão simples como eficaz entre Kroos e Boateng (11’) com Buffon a largar a bola. O capitão azzurro só é realmente Buffon nos remates de Özil e Khedira. Mas aí já a Itália está a controlar e a ganhar. Pirlo escorrega sozinho mas recupera a posição no meio-campo e solta a bola para a esquerda. Chiellini domina-a e descobre Cassano, que dá meia volta sobre si mesmo, ultrapassa o até aqui irrepreensível Hummels e cruza para a pequena área. Badstuber não sai do seu lugar, Balotelli dá um passo atrás e toma lá Neuer: 1-0. Assim sem mais nem menos. E ainda bem, porque já não se marcava um golo desde o penálti de Xabi Alonso à França, há qualquer coisa como 266 minutos. Uff, temos o velho Europeu de volta.

Os alemães acusam o golo e não mais procuram as jogadas de combinação e à linha, ficam-se pelos remates do meio da rua a que Buffon se opõe com a galhardia que se lhe reconhece. De repente, dois-zero. Outra vez? Como se não tivessem batido à porta antes de entrar! Sensacional passe de Montolivo do seu meio-campo para Balotelli e este atira um bilhete sem qualquer hipótese para Neuer. Aos 36 minutos, os apurados do tão badalado grupo da morte (Portugal e Alemanha) estão fora e a final de Kiev é entre os últimos campeões mundiais. Lá se vai o prognóstico do polvo Platini, que previra a reedição de 2008 entre Espanha e Alemanha. Os tentáculos de Super-Mario Balotelli são infinitamente mais fortes, está mais que visto. O inspector Corrado Cattani estaria orgulho de ti, Balo. Com dois golos em 16 minutos, é apenas o segundo italiano a bisar em Europeus a seguir a Pierluigi Casiraghi (2-1 vs. Rússia em 1996). Auf wierdiesehen Deutschland, ciao Italia?

Assim parece, assim parece. Mas a Alemanha é a Alemanha. Sem ideias muito claras mas com uma obsessão pela baliza. Buffon defende remate de Reus (48’) e Lahm atira por cima, isolado (49’). O mesmo Reus obriga Buffon a estirar-se para canto (62’) e é aí que Cesare Prandelli mexe no onze, com as entradas de Diamanti e Motta. A Itália endireita-se e reassume o comando. Lição de táctica e Löw fica de mãos atadas. A Alemanha quer o golo da esperança mas joga desesperadamente em 3-0-7 e só não sofre o terceiro por manifesta aselhice de Marchioso (67’, ao lado) e Di Natale (82’, também ao lado mas depois de galgar uns metros isoladíssimo).

Quando tudo parece tranquilo, penálti para a Alemanha. Chamado a marcar, Özil não engana Buffon mas reduz – é o sexto jogador do Real Madrid a marcar neste Europeu depois de Pepe, Ronaldo, Khedira, Xabi Alonso e, vá, Sergio Ramos com o penálti a Rui Patrício. Os últimos quatro minutos são alucinantes. Todos os jogadores instalam-se no meio-campo da Itália, incluindo o guarda-redes alemão Neuer, que distribui jogo, e joga de cabeça com estilo.

Os adeptos italianos, vibrantes durante todo o jogo a cantar Jovanotti e Toto Cutugno, calam-se por momentos. Os alemães, dentro e fora do relvado, fazem ouvir a sua insatisfação pela desvantagem e avançam furiosamente mas Buffon não se sente realmente em perigo naqueles 360 segundos. O último lance é até um livre a favor da Alemanha, que Schweinsteiger desperdiça com um passo lateral para Lahm. O árbitro francês Stépahne Lannoy, o mesmo do Alemanha-Portugal deste Europeu em Lviv, aproveita para apitar e aí está a Itália na final pela terceira vez. Na primeira, em 1968 (2-0 à Jugoslávia na finalíssima de Roma), nenhum dos 23 jogadores de Prandelli é sequer nascido. Mas todos vêem e choram a desilusão de 2000, em Roterdão (1-2 vs. França, golo dourado de Trezeguet).

Domingo, há mais. Se fosse como o Itália-Espanha de 10 de Junho, seria divinal mas há sempre o “perigo” de ser melhor ainda. Uau, só a ideia vale a pena arriscar a viagem até Kiev. Para ser a final mais latina de sempre, só falta a presença do árbitro português Pedro Proença.