Jogar à sameira na rua era uma diversão de criança? Assim como encontrar o testo para a panela sempre foi uma dor de cabeça lá em casa? E ter repas ou não ter, é um dilema de hoje e sempre? Se não faz a mais pequena ideia do que estamos a falar, não se preocupe, não é nenhum problema de maior, apenas significa que tem raízes no sul do país, aí pela zona de Lisboa. Se, por outro lado, percebe o que lhe perguntamos mas não o porquê, quer dizer que mora no norte, talvez no Porto, e que faz questão de manter uma linguagem conforme. Posto isto e para que não restem dúvidas: sameira é carica, o testo uma tampa e as repas uma franja. Uma brincadeira com o vocabulário que deu origem a um negócio: a Speak Porto.
Faz este ano duas décadas que Susana Catarino trocou Lisboa pelo Porto. Mudou-se com 18 anos para tirar o curso de design têxtil e foi então que se deparou com pequenas e curiosas diferenças na linguagem. Foi apontando tudo num caderno. O tempo passou e hoje com 38 anos orgulha-se de vender as suas dúvidas ilustradas em pins coloridos. Uma aventura que arrancou no final do ano passado: “Tinha vontade de fazer algo relacionado com o Porto. Tinha amigos de Lisboa que me perguntavam como era viver cá e entretanto a cidade ganhou o prémio de melhor destino europeu. Em conversa com o meu marido, que é de cá, e a minha irmã, que vive em Cascais, surgiu a ideia.” Em poucos meses materializou-se e em Fevereiro já respondia a encomendas. “Descobri que aqui, no Porto, as pessoas têm a noção que existem as duas maneiras de dizer e em Lisboa não”. Por isso, Speak Porto.
Há 20 pins com expressões diferentes e três ou quatro variações de cores para cada um. Isto porque há pares mais direccionados para um público alvo, como os tacões/saltos altos ou meia calça/collants são para as mulheres. “Fino ou imperial”, “sapatilhas ou ténis” e “à minha beira ou ao pé de mim” estão no top dos mais vendidos. Para encomendar o seu, basta entrar em contacto com Susana através do Facebook ou do site (www.speakporto.com). Cada pin custa dois euros e ainda há ímanes com as mesmas expressões e brevemente também T-shirts.
“Pondo as coisas em perspectiva é preciso pensar que em 1993 não havia internet, telemóveis, nem tanta mobilidade. O intercâmbio entre Lisboa e Porto não era tão grande e a auto-estrada ainda era muito má”, relembra Susana, que teve os primeiros anos no Porto marcados por alguns desentendimentos. “A que me lembro melhor, que hoje é ridículo, é que confundia pingo com lanche. O pingo é garoto e o lanche é a merendinha mas como não conhecia nenhuma das palavras ficava a pensar o que era de comer e o que era de beber”, conta entre risos.
Hoje a lição está aprendida e já consegue facilmente fazer pedidos em cafés apesar de continuar a usar algumas expressões lisboetas. No fim, a Speak Porto trata de “pegar em expressões que caíram em desuso e de forma divertida preservar regionalismos”. Mas nada de guerras norte/sul, alerta Susana. Cada um sabe a expressão que lhe serve melhor.