Quanto valem dois centésimos de segundo? Na alta competição, valem muito. Que o diga Sara Moreira, a portuguesa que passou de grande favorita a repetente no bronze, nos 5000 metros.
A prova até não lhe correu mal. Quem tenha perdido os últimos momentos da corrida pode ter ficado com a plena convicção de que o ouro iria mesmo para Sara, mas ficará surpreendido ao ver o quadro de resultados.
O início foi desconcertante, com Sara a fazer uma falsa partida, mas a atleta rapidamente se recompôs e à segunda foi de vez. Como é habitual nas provas mais longas do atletismo, as primeiras voltas serviram para apalpar terreno. Sara lá se foi mantendo no grupo da frente até perceber que esta corrida não ia ser das mais rápidas. Começou então a acelerar e aos 1500 metros já ocupava a primeira posição e ditava o ritmo da corrida. A última volta foi toda sua e nos últimos 200 metros isolou-se, deixando para trás a britânica Julia Bleasdale, que seguia em segundo lugar.
“Medalha de ouro para Portugal!”, pensavam todos os que assistiam à prova. Mas os últimos 40 metros foram um balde de água fria: a russa Olga Golovkina arrancou lá de trás e ultrapassou rapidamente Sara, terminando em primeiro (15:11,70). Falta de resistência da portuguesa ou mérito da russa, que nem constava na lista de candidatas ao ouro (a compatriota Svetlana Kireyeva era vista como uma vencedora mais provável, juntamente com Sara).
A prata teria servido de consolação, mas os centésimos resolveram mostrar a sua importância. A ucraniana Lyudmyla Kovalenko aproveitou o balanço da russa e conseguiu apanhar Sara. O resultado foi tão renhido que o photo finish teve de ditar o segundo e o terceiro lugar. 15:12,03 foi o tempo da ucraniana, enquanto a portuguesa se ficou pelos 15:12,05 na linha de chegada. Dois centésimos colocaram Lyudmyla à frente de Sara, que fez um tempo mais lento do que o melhor do ano.
O bronze outra vez O resultado de Sara Moreira nestes Europeus fica bastante aquém do seu melhor nesta época, bem como do seu resultado nos últimos Europeus em Barcelona. Na Catalunha, Sara conquistou o bronze com um tempo de 14:54,71, uns bons segundos abaixo da marca de Golovkina, a campeã em Helsínquia. A portuguesa partia para estes campeonatos como a favorita nos 5000 metros, ao ter conseguido a melhor marca europeia do ano umas semanas antes, em Inglaterra (15.08,33).
Sara já esclareceu que o objectivo agora são os Olímpicos, mas alertou: “Tenho os pés bem assentes no chão.” Com mínimos conseguidos em três disciplinas (3000 metros obstáculos, 5000 metros e 10.000 metros), a atleta de Santo Tirso já escolheu o que vai correr: “Estou concentrada nos 5000 e nos 10.000.”
O ano passado foi um ano de azares para a portuguesa. Em Março de 2011, Sara foi obrigada a correr nos 1500 metros nos Europeus de pista coberta (em vez dos 3000 a que está habituada) por um erro da federação portuguesa, que levou à demissão do seu presidente – entretanto voltou atrás.
Em Outubro, Sara acusou um estimulante num controlo anti-doping nos Mundiais. A substância fazia parte de um suplemento alimentar e a atleta não estava a par do mesmo, sendo por isso condenada apenas a seis meses de suspensão. Em Março deste ano, Sara Moreira estava de volta e pronta para Helsínquia e Londres.
“Depois de tudo o que passei neste último ano, uma medalha de bronze é muito especial”, confessou a atleta. Da Finlândia veio o bronze. Do Reino Unido poderá vir mais?