Martorella, Antonio Martorella. É o jogador italiano mais completo de todos os tempos. Deixa para trás nomes universais como Giuseppe Meazza, Gianni Rivera e Roberto Baggio. Sim sim, Martorella. Se não acredita, diga-me lá um jogador que tenha marcado pelo menos um golo em todas as dez divisões italianas? Vá, estamos à espera de um nome. Pois é… não há mais ninguém, não é? Martorella é o homem-recorde. Desde há um mês.
Em 23 anos de carreira, Martorella marca 47 golos. De baixo para cima: Pescara Nord-2009 (Terza Categoria), Pescara Nord-2010 (Seconda Categoria), Pescara Nord-2011 (Prima Categoria), Torre Alex Cepagatti-2012 (Promozione), Sulmona-2004 (Eccellenza), Moncalieri-2000 (Serie D), Rimini-1999 (Serie C2), Spal-1994 (Serie C1), Pescara-1990 (Serie B) e Pescara-1993 (Serie A). Dez divisões, dez! Martorella recorda aquele de 1993, o mais emblemático de todos.
“Trinta de Maio de 1993, penúltima jornada do campeonato”, desbobina. “Recebemos a Juventus de Roberto Baggio. Na baliza, Angelo Peruzzi. Na nossa equipa, Allegri [agora treinador do Milan], que marca de penálti e empata o golo madrugador de Ravanelli. Na segunda parte, Borgonovo faz o 2-1 e o 3-1 é do Allegri mas a imprensa atribui autogolo do Carrera porque a bola lhe tocou sem desviar-se por aí além. Depois chega o momento: cruzamento de Dunga e antecipo-me a Conte [agora treinador da Juventus] para fazer o 4-1 de cabeça, aos 86 minutos. Aos 88’, Palladini fixa o 5-1. Tarde de goleada em Pescara. Nós, uma equipa já despromovida, acomodada ao último lugar desde a 7.ª jornada e a 12 pontos da manutenção, damos cinco à Juventus que acabara de vencer a Taça UEFA ao Borussia Dortmund. Incrível, insólito. Recordo-me de um furioso Giovanni Trapattoni no túnel entre o relvado e o balneário.”
Na zona mista da Itália, todos os azzurri falam menos Cassano e Balotelli. De phones almofadados nos ouvidos, com os telemóveis cintilantes na mão e os olhos postos no autocarro, os avançados passam pelos jornalistas em passo acelerado. Para trás, figuras eternas como Buffon e Pirlo estacionam juntos aos microfones e câmaras de televisão. E o que é feito de Martorella? Não está cá. A culpa não é deste ou daquele, é de todos. A Itália está desatenta mas (ainda) ninguém critica Cesare Prandelli por o não incluir na lista dos 23 para o Euro-2012. Tudo bem, Martorella já tem 42 anos de idade mas é um valor seguro pela experiência. E golos em todas as dez divisões italianas, insistimos. Mas, não, preferem os Cassanos e os Balotellis desta vida. Ma ché cosa fai? À falta de Martorella, que venha Sebastian Giovinco, o novo Del Piero a quem a Juventus forma desde os iniciados, vende ao Parma em 2011 e agora paga 11 milhões de euros para o reaver.
O rapaz tem 26 anos, é filho de pai siciliano e mãe calabresa (olha que mistura explosiva, hein!?) e mede qualquer coisa como 1,64 metros. Alcunhado como formiga atómica, sem o parecer da dupla Hanna-Barbera, é suplente utilizado nos dois primeiros jogos deste Europeu mas desaparece de circulação vs. Irlanda e Inglaterra. Alguém o verá hoje em campo com a Alemanha? A Giovinco só lhe interessa desfrutar o momento de alegria pela presença nas meias-finais.
Giovinco, boa noite. Somos de Portugal.
Rui Barros.
Sim, Rui Barros.
Estão sempre a escrever que sou o jogador mais baixo da Juve desde que saiu de lá o Rui Barros.
O Giovinco mede quanto?
1,64 m.
E o Rui Barros?
Dizem que era mais baixo [1,59 m].
Conhece-o?
De nome, claro! É um ícone em Turim. Pertence àquela equipa que levantou a Taça de Itália em Milão [1-0 ao Milan dos três holandeses] e a Taça UEFA em Florença [0-0 depois do 3-1 em Turim] em 1990.
…
Ele marcava golos de cabeça. Lembro-me de um à Roma.
E o Giovinco?
Gosto mais de livres directos mas um dia hei-de marcar de cabeça como o Rui Barros. É a minha obrigação, sou mais alto que ele!