Na passagem de ano, o Harry não aguenta mais a solidão e foi juntar-se a Sally; Sam e o filho Jonah, passados vários desencontros, conheceram Annie à saída de um elevador; Kathleen e Joe, depois de trocarem infindáveis mensagens, declararam amor eterno. Nora Ephron foi a eterna romântica que juntou todos estes casais, que num último momento imprevisível declaram o amor eterno. Realizadora, argumentista, jornalista e ensaísta, Ephron viveu ao seu próprio ritmo autodidáctico e frenético. Morreu na terça-feira, vítima de uma pneumonia, seis anos depois de ter sido diagnosticada com leucemia.
Antes de ser triplamente nomeada para melhor argumento nos Óscares (“Reacção em Cadeia”, 1983; “Um Amor Inevitável”, 1989; e “Sintonia de Amor”, 1993), a vida da jovem Ephron começou na sua cidade natal de Nova Iorque, a trabalhar para o “New York Post”, enquanto noticiava que Bob Dylan tinha casado em segredo com Sara Lownds. Em paralelo ao jornalismo, Ephron começou uma série de ensaios satíricos, tornando-se uma das pioneiras na escrita feminina dos anos 60, falando livremente sobre sexo, comida e Nova Iorque. Enquanto casada com Carl Bernstein (jornalista que a par com Bob Woodward revelou o escândalo Watergate), Ephron – que era das poucas pessoas do mundo que sabia quem era o garganta-funda do caso – ajudou o marido a desenvolver o argumento de “Os Homens do Presidente” (1976). Até esse momento tinha resistido trabalhar em Hollywood. Os seus pais tinham sido argumentistas, mas o declínio criativo impôs-lhes o desespero alcoólico. “Não queria entrar no mundo do cinema como os meus pais”, contou em 2007 à Academy of Achievement.
No entanto, face a uma indústria dominada pelo homem, decidiu começar uma carreira como argumentista e realizadora: “99 por cento dos homens realizadores não têm qualquer interesse nas mulheres, excepto como namoradas ou mulheres”, disse na mesma conversa. A sua primeira tentativa foi um sucesso imediato, “Reacção em Cadeia” (1983), com Meryl Streep. Seguiu-se uma carreira no cinema de sucessos consecutivos, delineando uma abordagem inovadora, feminina e moderna das comédias românticas, sobretudo com “Um Amor Inevitável” (1989) e “Sintonia do Amor” (1993). Em 2009, no seu último filme, “Julie & Julia”, regressou a um dos seus temas preferidos, a comida.
Nora Ephron demonstrou que uma carreira pluridisciplinar por uma mulher não é tabu. Mesmo assim, lembrou que “haver realizadores e argumentistas mulheres só vai acontecer se mergulharmos no mercado de trabalho como os homens”.